Marco Polo (pronúncia
italiana: [ˈmarko ˈpɔːlo]; c. 1254 - 8 ou
9 de
janeiro de 1324)[1]
foi um mercador,
embaixador
e explorador veneziano[2][3][4][5]
cujas aventuras estão registradas
Aprendeu as negociações mercantis com
seu pai e seu tio paterno, Niccolò e Matteo Polo, que também viajaram
através da Ásia e conheceram Kublai Khan. Em 1269, Niccolò e Matteo Polo retornaram
a Veneza, onde
conheceram Marco, embarcando os três em uma grande jornada até a Ásia, e
retornando a Veneza após 24 anos, onde se depararam com as guerras veneziano-genovesas. Marco foi
preso e acabou ditando suas histórias para um companheiro de cela. Foi
libertado em 1299, tornando-se um rico mercador. Casou-se com Donata Badoèr, de
quem teve três filhas. Morreu em 1324, sendo enterrado na Igreja de San Lorenzo, em Veneza.
Embora Marco Polo não tenha sido o
primeiro europeu a chegar à China, foi o primeiro a descrever detalhadamente
suas experiências. Seu livro inspirou Cristóvão Colombo[6]
e muitos outros viajantes. Existem várias produções literárias baseadas nos
escritos de Marco Polo; também influenciou a cartografia europeia, sendo o
ponto de partida de inspiração do mapa-múndi de Fra Mauro.
Vida
· Origens familiares
Marco Polo nasceu em 1254,[nota 1][7]
na República de Veneza.[8]
A data e localização exatas são desconhecidas.[9][10]
Alguns historiadores mencionam que nasceu em 15 de setembro,[11]
mas tal hipótese não é apoiada pela maioria dos acadêmicos. Veneza é
geralmente considerada o local de nascimento de Marco Polo,[10][12]
mas outras hipóteses sugerem Constantinopla[13][10]
e a ilha de Korčula.[14][10][15][16]
Existe uma disputa se a família de Marco era de origem veneziana, já que fontes
históricas venezianas supostamente os apontariam como originários da Dalmácia.[7][10]
[17][18]
No entanto, até mesmo acadêmicos croatas consideram isto uma invenção.[19]
· Primeiros anos e viagem para a Ásia
Ver
também: Niccolò
e Maffeo Polo
Em 1168, seu tio-avô, igualmente
chamado Marco Polo, arrendou e comandou um navio em Constantinopla.[20][21]
Seu avô, Andrea Polo, da paróquia de San Felice, teve três filhos: Maffeo,
outro Marco, e Niccolò, o pai do famoso viajante.[20]
Esta genealogia, descrita por Ramusio, não é universalmente aceita e não
existem evidências adicionais que a comprovem.[22][23]
Seu pai, Niccolò
Polo, mercador, fez fortuna negociando com o Próximo Oriente, conquistando grande prestígio.[24][25]
Niccolò e seu irmão Maffeo zarparam em uma viagem de negócios antes do
nascimento de Marco.[7][25]
Em 1260, residindo em Constantinopla, à época capital do Império
Latino, prevendo uma reviravolta política, os dois liquidaram seus ativos
em jóias e se mudaram.[24]
De acordo com as As Viagens, se aventuraram no extremo oriente asiático,
onde conheceram Kublai Khan, líder mongol e fundador da Dinastia
Yuan.[26]
A sua decisão de se mudar de Constantinopla veio a se mostrar correta. Em 1261,
Miguel VIII Paleólogo, líder do Império de Niceia, conquistou Constantinopla,
queimando de imediato o quartel general veneziano e restabelecendo o Império Romano do Oriente. Os cidadãos
venezianos que foram capturados acabaram cegados,[27]
enquanto muitos que conseguiram escapar acabaram morrendo nos navios
superlotados que fugiam para outras colônias venezianas no Mar Egeu.
Pouco se sabe sobre a infância de
Marco Polo até a idade de quinze anos, exceto que provavelmente teria passado
parte da sua infância em Veneza.[28][29][21]
Ao morrer sua mãe, Marco acabou sendo adotado por sua tia e tio.[25]
Recebeu uma educação privilegiada, aprendendo técnicas mercantis, incluindo
conhecimentos sobre moedas estrangeiras e funcionamento dos navios,[25]
mas aprendendo quase nada, ou nada, de latim.[24]
Seu pai mais tarde se casaria com Floradise Polo.[23]
Em 1269, Niccolò e Maffeo retornaram a
suas famílias em Veneza, se encontrando com o jovem Marco pela primeira vez.[28]
Em 1271, durante o reinado do Doge
Lorenzo Tiepolo, Marco Polo,
então com dezessete anos de idade, juntamente com seu pai e tio zarparam para a
Ásia em uma série de aventuras que Marco posteriormente viria a descrever em
seu livro.[30]
Retornaram a Veneza em 1295, com muitas riquezas e tesouros, tendo viajado
quase
· Cativeiro genovês e últimos anos
Igreja de San Lorenzo na sestiere de Castello (Veneza), onde Polo foi
enterrado. A foto mostra a igreja atualmente, após a reforma de 1592
Marco Polo retornou a Veneza em 1295,
trazendo consigo uma fortuna sob a forma de gemas. Naquela época, Veneza encontrava-se em
guerra com a República de Gênova.[31]
Marco equipou uma galé
com trabucos,
com o fim dese juntar à guerra.[32]
Terá sido capturado pelos genoveses
provavelmente em 1296, em uma escaramuça perto da costa da Anatólia,
entre Adana e o Golfo de İskenderun.[33]
A alegação de que a captura teria ocorrido durante a Batalha de Curzola, em
setembro de 1269, perto da costa da Dalmácia,[34]
provém de tradição tradição tardia, do séc. XVI, registrada por Giovan Battista Ramusio.[35][36]
Passou vários meses na prisão, ditando detalhes sobre a sua viagem para um
companheiro de cela, Rusticiano de Pisa,[25]
o qual também acrescentou histórias de suas viagens além de anedotas coletadas
de outros relatos e de notícias de sua época sobre a China. O livro rapidamente
se espalhou pela Europa como manuscrito, tornando-se conhecido como As Viagens de Marco Polo. Ao
retratar as jornadas de Marco pela Ásia, fornecia aos europeus o primeiro
relato detalhado sobre o Extremo Oriente, incluindo a China, a Índia e o Japão.[37]
Marco Polo foi libertado do cativeiro
em agosto de 1299,[25]
retornando a Veneza, onde seu pai e tio tinham comprado um pallazo
em uma região chamada contrada San Giovanni Crisostomo (Corte del
Milion).[38]
Em suas aventuras, a família Polo provavelmente terá investido em fundos de
negócios, e até mesmo em gemas que trouxeram do Oriente.[38]
o grupo continuou suas atividades, e Marco rapidamente se tornou um mercador
rico. Embora Polo e seu tio Maffeo tenham financiado outras expedições,
provavelmente nunca mais teriam deixado a província veneziana, não retornado
mais à Rota
da Seda nem à Ásia.[39]
Seu pai Niccolò morreu cerca de 1300,[39]
e no mesmo ano Marco se casou com Donata Badoèr, filha de Vitale Badoèr, um mercador.[40]
Tiveram três filhas: Fantina, que casou com Marco Bragadin, Bellela, que casou
com Bertuccio Querini, e Moreta.[41][42]
Em 1305, Polo é mencionado em
documento veneziano entre governantes locais, cobrando o pagamento de impostos.[23]
A relação do famoso explorador com um certo Marco Polo, citado em 1300 em
rebeliões contra o governo aristocrático
local, escapando da pena de morte, assim como de rebeliões em 1310
lideradas por Bajamonte Tiepolo e Marco Querini, onde entre os rebeldes se
encontravam Jacobello e Francesco Polo, pertencentes a outro ramo da família
Polo, é incerta.[23]
Em 1337, Marco Polo é novamente claramente citado no testamento de Maffeo,
redigido entre 1309 e 1310, assim como em um documento de 1319, indicando que
se tinha tornado dono de algumas propriedades de seu falecido pai, e em 1321,
quando comprou parte das propriedades da família de sua esposa Donata.[23]
· Morte
Em 1323, Marco adoeceu, ficando
confinado à cama.[43]
Em 8 de janeiro de 1324, apesar dos esforços dos médicos, Marco encontrava-se
em seu leito de morte.[44]
Para registrar e certificar sua vontade, sua família requisitou a vinda de
Giovanni Giustiniani, um padre de San Procolo. Sua esposa Donata, tal
como suas três filhas, também foram chamadas para certificar seu testamento.[44]
A Igreja tinha direito por lei a parte de suas propriedades; Marco aprovou
isso, ordenando que a maior parte fosse paga para o convento de San Lorenzo, lugar onde
desejava ser enterrado.[44]
Também libertou Pedro, seu escravo tártaro, que o havia acompanhado pela Ásia,[45]
concedendo-lhe 100 denários venezianos.[46]
Dividiu o resto de suas posses,
incluindo várias propriedades, entre indivíduos, instituições religiosas, e
cada guilda e irmandade a que tinha pertencido.[44]
Também quitou várias dívidas, incluindo 300 liras que devia a sua cunhada, e
outras tantas ao convento de San Giovanni
Grisostomo, de Chiesa di San Polo, e para
um clérigo chamado Frade
Benvenuto.[44]
Ordenou que 220 soldos fossem pagos a Giovanni Giustinian, por seu
trabalho como tabelião.[47]
O testamento não foi assinado por
Marco, mas validado pelo processo chamado "signum manus", onde
bastava o testador tocar o documento para torna-lo legalmente válido.[46][48]
Devido a uma lei veneziana que determinava que o dia terminava ao pôr do
sol, a data exata da morte de Marco Polo não pode ser definida. No entanto,
de acordo com alguns acadêmicos, teria sido entre o pôr do sol de 8 de janeiro
de 1324 e o dia seguinte.[49]
A Biblioteca Marciana, que possui a cópia
original do testamento, data a certificação do mesmo de 9 de janeiro de 1323,
datando a morte de junho de 1324.[48]
As Viagens de Marco Polo
Ver
artigo principal: As
Viagens de Marco Polo
/ Mais informações: João
de Montecorvino
Não existe uma primeira versão
definitiva do livro de Marco Polo, e os manuscritos iniciais diferem-se
significativamente. As versões publicadas de seu livro ou baseiam-se em
manuscritos individuais ou os misturam, acrescentando ainda notas de
esclarecimento nos pontos de divergência. Presume-se que aproximadamente 159
cópias de manuscritos em vários idiomas devem existir, e as discrepâncias eram
inevitáveis durante o processo de cópia e tradução antes da invenção da prensa
móvel.[50]
Marco Polo relatou suas memórias
oralmente para Rusticiano de Pisa, enquanto ambos eram
prisioneiros da República de Gênova. Rusticiano escreveu o Il
Milione nas línguas de oïl, uma língua
franca dos cruzados
e dos mercadores ocidentais no oriente.[51]
A ideia foi provavelmente criar um guia para os mercantes, para dar dicas
essenciais sobre pesos, medidas e distâncias usadas nas transações comerciais.[52]
· Narrativa
O livro começa com um prefácio
descrevendo o pai e o tio de Marco viajando para Bolğar onde o Príncipe Berke vivia. Um ano
depois, eles vão para Ukek[53]
e seguem para Bucara.
Lá, um enviado do Levante convida-os para conhecer Kublai
Khan, que nunca tinha conhecido os europeus.[54]
Em 1266, eles chegam nas instalações de Kublai Khan em Cambalique,
atualmente Beijing,
China. Kublai
recebeu os irmãos de bom grado e perguntou-os sobre o sistema político e legal
da Europa.[55]
Ele também indagou sobre o Papa e a Igreja de Roma.[56]
Após responderem as perguntas o governante os encarregou de levaram uma carta
para o Papa, requisitando que trouxessem cristãos familiarizados com as artes
liberais (gramática, retórica, lógica, geometria, aritmética, música e
astronomia). Kublai Khan requisitou que os enviados trouxessem de volta óleo da
lamparina de Jerusalém.[57]
A longa sede
vacante após a morte do Papa
Clemente IV em 1268 e a suspensão das eleições do seu sucessor atrasaram os
Polos de cumprirem as requisições de Kublai. Eles seguiram as sugestões de
Teobaldo Visconti, o embaixador papal do reino do Egito, e retornaram
para Veneza em 1269 ou
Em 1271, Niccolò, Maffeo e Marco Polo
embarcaram em uma nova viagem para cumprirem as requisições de Kublai.
Navegaram até o Acre, na atual Israel, e foram de
camelos até o porto persa de Hormuz. De lá os Polos queriam
navegar até a China, mas os navios que eles possuíam não eram capazes de
navegarem em mar aberto, então eles continuaram por terra através da Rota da
Seda até chegarem em Shangdu, perto da atual Zhangjiakou.
Durante uma parte da viagem, os Polos se juntaram a uma caravana de mercadores
viajantes a qual tinham se deparado no meio do caminho. Infelizmente, o grupo
foi atacado por bandidos, que se aproveitaram de uma tempestade de areia para
surpreendê-los. Os Polos conseguiram lutar e escapar por uma cidade vizinha, mas
muitos membros da caravana foram mortos ou escravizados.[59]
Três anos e meio depois de deixarem Veneza, quando Marco tinha 21 anos de
idade, os Polos foram recebidos por Kublai em seu palácio.[25]
A data exata da chegada deles é incerta, mas acadêmicos estimam que foi entre
1271 e 1275.[nota
2] Logo que chegaram, os Polos apresentaram o óleo sagrado de
Jerusalém e as cartas papais ao seu patrono.[24]
Marco sabia quatro idiomas, e sua
família tinha acumulado um grande conhecimento e experiência a qual foi útil
para Kublai. É possível que ele tenha sido nomeado um oficial governamental;[25]
ele escreveu sobre muitas visitas imperiais às províncias do leste e do sul da
China, além de ao extremo sul asiático e a atual Myanmar.[60]
Bastante respeitados e solicitados pela corte mongol, Kublai Khan decidiu
recusar a solicitação dos Polos de saírem da China. Eles começaram a ficar
preocupados se retornariam para a casa são e salvos, acreditando que se o
Kublai morresse, os seus inimigos poderiam se voltar contra eles por causa da
relação próxima com o governante. Em 1292, Arghun
Khan, o sobrinho-neto de Kublai e governante do Ilcanato da
Pérsia, mandou representantes para a China em busca de uma potencial esposa, e
eles pediram para que os Polos os acompanhassem, então foi lhes permitido
retornarem para a Pérsia com o comité de casamento, a qual partiu da China no
mesmo ano de Zaitun
(região sul), numa frota de catorze juncos.
O comité navegou até o porto de Singapura,[61]
viajando pelo norte da Sumatra,[62]
passando ao oeste no porto de Point Pedro no Reino de Jafanapatão, como também no Império
Pandia.[63]
Eventualmente os Polos cruzaram o Mar Arábico
rumo a Ormuz. A
viagem de dois anos foi bastante perigosa, sendo que das seiscentas pessoas
(não incluindo a tripulação) apenas dezoito sobreviveram (contando os três
Polos).[64]
Os Polos deixaram a comissão de casamento depois de alcançarem Ormuz e viajaram
por terra até o porto de Trebizonda, no Mar Negro.[25]
· O papel de Rusticiano
O acadêmico britânico Ronald Latham
pontuou que O Livro das Maravilhas foi de fato um colaboração entre
Marco e o escritor profissional de romances Rusticiano de Pisa, entre 1298 e 1299.[65]
Latham também argumenta que Rusticiano talvez tenha glamourizado os ditos de
Marco Polo, adicionando elementos fantásticos a fim de colocar o livro entre os
mais vendidos.[65]
O acadêmico italiano Luigi Foscolo Benedetto tinha demonstrado anteriormente
que o livro foi escrito no mesmo "estilo literário" outras vezes
usados nos trabalhos de Rusticiano, e que algumas passagens no livro fora
feitas exatamente com as mesmas palavras ou com ligeiras modificações em
relação aos escritos do romancista italiano. Por exemplo, o primeiro trecho da
introdução do Livro das Maravilhas dirigido aos "imperadores e
reis, duques e marqueses" foi diretamente copiado de um romance Arturiano o qual De Pisa tinha escrito
alguns anos antes, e o conteúdo do segundo encontro entre Marco Polo e Kublai
Khan nas cartas da corte é praticamente o mesmo que o da chegada de Tristão a
corte de Rei
Artur em Camelot
nesse mesmo livro Arturiano.[66]
Latham acredita que muitos elementos do livro, com as lendas do Oriente
Médio e menções de maravilhas exóticas provêm do trabalho de Rusticiano, a
qual estava descrevendo o que os europeus medievais esperariam achar em um
livro de viagens.[67]
· Autenticidade e veracidade
Ver: Marco
Polo usando uma vestimenta tártara, data de impressão
desconhecida.
Desde a sua publicação, o livro foi
recebido com ceticismo.[68]
Algumas pessoas da Idade Média acharam que o livro era simplesmente um romance
ou uma fábula, devido aos seus relatos que narravam sobre uma civilização
chinesa sofisticada, diferindo muito quando comparado com os relatos de outros
viajantes, como de Giovanni da Pian del Carpine e Guilherme de Rubruck, os quais descreveram os
orientais como "bárbaros" que pertenciam a "algum outro
mundo".[68]
Dúvidas também apareceram séculos depois das narrativas de Marco na China, por
exemplo por não ter citado a Grande Muralha da China, e em particular
pelas dificuldades em encontrar os lugares a qual ele alegou estar.[69][70]
Muitos questionaram se Marco visitou as regiões que ele mencionou no seu
itinerário, se ele tinha se apropriado das narrativas do seu pai e do seu tio
ou ainda de outros viajantes, e alguns duvidaram se Marco até mesmo alcançou a
China, ou se ele alcançou, talvez nunca tenha ido para Cambalique
(Beijing).[69]
Entretanto deve ser pontuado que os
relatos de Marco sobre a China são mais acurados e detalhados que a de outros
viajantes do período. Marco Polo até mesmo refutou as 'maravilhosas' fábulas e
lendas fornecidas por narrativas de outros europeus, e apesar de alguns
exageros e erros, as descrições de Marco contém menos equívocos se comparado
com outras obras. Em muitos casos é devidamente esclarecido (a maior parte na
primeira parte antes de atingir a China, como a menção aos milagres cristãos)
sobre o que ele tinha escutado ao invés do que ele tinha visto. Seus relatos
não seguem os mesmos erros encontrados em outras narrativas como as do viajante
tangerino ibne
Batuta, que confundiu o Rio Amarelo com o Grande Canal da China, e pensou que a
porcelana era feita de carvão.[71]
Estudos modernos mostraram que
detalhes fornecidos no livro de Marco Polo, como as moedas utilizadas, são
acurados e únicos. Tais descrições detalhadas não são encontradas em qualquer
fonte não chinesa, e sua precisão é reforçada por evidências arqueológicas e
como também de registros compilados depois da saída de Marco da China, porém os
relatos em si posteriormente tiveram que ser obtidos por segunda mão.[72]
Outas descrições também foram verificadas; por exemplo, quando visitou Zhenjiang em
Jiangsu,
China, Marco Polo notou que um grande número de igrejas cristãs
tinham sido construídas ali. Sua alegação é confirmada por um texto chinês
explicando como um sogdiano, chamado Mar-Sargis de Samarcanda,
fundou seis igrejas cristãs nestorianas em Hangzhou
durante a segunda metade do séc. XIII.[73]
Sua história da princesa Kököchin
ser mandada para a Pérsia para casar com Īl-khān também é confirmada por fontes
independentes tanto na Pérsia quanto na China.[74]
Debates e controvérsias
Ver: Trecho
da carta do Papa
Inocêncio IV
"para o governante do povo dos tártaros" encaminhado para Güyük Khan pelo enviado Giovanni de Carpine, 1245
· Omissões
Céticos consideraram se Marco Polo
escreveu seu livro baseado em boatos, com alguns apontando omissões sobre
práticas e construções chinesas, assim como a falta de detalhes de alguns
lugares no seu livro. Enquanto ele descreve o papel-moeda
e a queima de carvão, Marco não menciona a Grande Muralha da China, o chá, os caracteres chineses, os pés
de lótus e os hashis.[75]
A sua falha em não notar a presença da Grande Muralha foi primeiramente
levantada em meados do séc. XVII, e foi sugerido que ele nunca alcançou a
China.[69]
Posteriormente alguns acadêmicos, como John W. Haeger, argumentaram que Marco
Polo provavelmente nunca visitou o sul da China por causa da falta de detalhes
de suas descrições das cidades chinesas sulistas quando comparado com as
cidades nortenhas, enquanto que Herbert Franke também levantou a possibilidade
de Marco Polo nunca ter ido sequer para a China, e questionou se ele
provavelmente baseou suas descrições em fontes persas por causa do uso de
expressões persas em seu livro.[76][77]
Essa visão é melhor aprofundada por Frances Wood, que em seu livro Did Marco
Polo Go to China? argumenta que na melhor das hipóteses ele nunca foi para
o leste da Pérsia (atual Irã), e que tudo que foi escrito no Livro das
Maravilhas sobre a China poderia muito bem ser obtido através de livros
persas.[78]
Wood sustenta que é mais provável que Marco tenha apenas ido para
Constantinopla (atual Istambul, Turquia) e para algumas colônias mercantes no
Mar Negro, coletando rumores dos viajantes que tinham ido mais para o leste.[78]
Ver: Selo
de Güyük
Khan
usando o clássico alfabeto mongol tradicional, encontrada na
carta resposta para o Papa
Inocêncio IV
em 1246
Defensores da autenticidade do livro
rebateram os pontos levantados pelo céticos como o da Grande Muralha e dos pés
de lótus. O historiador Stephen G. Haw argumenta que as Grandes Muralhas foram
construídos para manter longe os invasores nortenhos, enquanto que a dinastia
governante durante a visita de Marco Polo eram os próprios invasores do norte.
Ele pontua que a Grande Muralha que estamos familiarizados hoje em dia é uma
construção erguida durante a Dinastia
Ming, dois séculos depois das viagens de Marco Polo, e que os governantes mongóis
controlavam tanto os territórios do norte quanto no sul em relação a divisão
atual da muralha, e não teriam razões para manter quaisquer fortificações
levantadas pelas dinastias anteriores.[79]
Outros europeus que viajaram para Cambalique,
como Giovanni de' Marignolli
e Odorico de Pordenone,
igualmente não disseram nada sobre a muralha. O viajante muçulmano ibne
Batuta, quando inquiriu sobre a muralha quando visitou a China durante a
Dinastia Yuan, não encontrou alguém que a tivesse visto ou conhecesse alguém
que tivesse, sugerindo que se as ruínas da muralha construída nos períodos
anteriores existiu, não era digna de nota naquela época.[79]
Ele também argumenta que a prática dos
pés de lótus não eram comuns na China durante a época de Marco Polo e eram
quase desconhecidos entre os mongóis. Enquanto que o missionário italiano
Odorico de Pordenone, que visitou a China durante a Dinastia
Yuan, mencionou os pés de lótus (entretanto é incerto se ele somente estava
relatando o que tinha escutado pois sua descrição é imprecisa),[80]
nenhum outro visitante da Dinastia Yuan mencionaram a prática, indicando que a
tradição dos pés de lótus não era disseminada ou praticada naquela época.[81]
O próprio Marco Polo notou (no manuscrito de Toledo) o andar delicado de uma
mulher chinesa em seus passos curtos.[79]
Outros acadêmicos também perceberam que muitas outras coisas não mencionadas
por Marco, tal como o chá e os hashis, não foram mencionados por outros
viajantes de igual maneira.[82]
Ele também aponta que apesar de suas poucas omissões, os relatos de Marco Polo
são mais extensos, acurados e detalhados do que de qualquer viajante
estrangeiro do período.[83]
· Exageros
Carta
de Arghun, Khan do Ilcanato mongol, para o Papa Nicolau IV, 1290
Muitos acadêmicos acreditam que Marco
Polo exagerou sobre sua importância na China. O historiador britânico David
Morgan acredita que Polo mentiu sobre o seu status na China[78]
enquanto Ronald Latham acredita que tais exageros foram realizados por seu escritor
fantasma, Rusticiano de Pisa.[84]
No Livro das Maravilhas, Polo alega que era um amigo próximo e
conselheiro de Kublai Khan e que ele foi o governante da cidade de Yangzhou por
três anos, ainda que nenhuma fonte chinesas menciona-o nem como governador de
Yangzhou ou como conselheiro de Kublai Khan; de fato, nenhuma fonte chinesa
chega o mencionar[85]
Herbert Franke notou que todas as ocorrências da palavra Po-lo ou Bolod
("aço" nas línguas altaicas) nos textos da Dinastia Yuan são
nomes de pessoas de origem mongol ou turca.[86]
O sinólogo
Paul Pelliot acredita que Polo pode ter servido como oficial no governo em
Yangzhou, uma posição de alguma significância que poderia explicar o exagero.[78]
Polo também alegou ter fornecido aos mongóis manganelas
durante a Batalha de Xiangyang, uma
alegação inverídica, pois tal conflito ocorreu muito antes da chegada de Polo a
China. O exército mongol que cercou Xiangyang possuía tecnologia militar
estrangeira, mas os relatos chineses descrevem-nos como provenientes de Bagdá e
possuindo nomes árabes.[77]
Stephen Haw, entretanto, contesta a
ideia que Polo exagerou sobre sua própria importância, escrevendo: "ao
contrário do que tem sido comumente dito... Marco não fez nenhuma alegação
exaltando falsamente sua posição no Império Yuan".[87]
Ele alega que Polo nunca disse ter sido um ministro da mais alta importância,
um Darughachi, líder de um Tumen (isto é, de dez mil homens), ou nem
mesmo líder de mil homens, apenas que ele era um missionário do Khan e ocupou
uma posição de certa honra. Ele acredita ter um número razoável de evidências
corroborando a ideia que Polo foi um Kheshig, estimando ter catorze
mil deles na época.[87]
Haw explica como os primeiros manuscritos dos relatos de Polo fornecem informações
contraditórias sobre sua função em Yangzhou, com alguns atestando que ele foi
somente um simples residente, e outras atestando que ele foi um governador, e o
manuscrito de Ramusio diz que Polo foi simplesmente
um oficial temporário, ainda que todos os manuscritos concordem que ele
trabalhou como um estimado emissário para o Khan.[88]
Haw também questiona a procura do nome Marco Polo nos textos chineses,
argumentando que europeus daquela época raramente usavam sobrenomes,
e que uma transcrição direta dos caracteres chineses do nome "Marco"
ignora a possibilidade dele ter adotado um nome chinês
ou até mesmo mongol, os quais não tem nenhuma similaridade com os
nomes latinos.[87]
· Erros
Alguns erros nos relatos de Marco Polo
foram encontrados. Por exemplo, ele descreve uma ponte posteriormente conhecida
como Ponte Marco Polo possuindo vinte e quatro arcos,
ao invés de onze ou treze.[89]
Ele também disse que as muralhas da cidade de Cambalique tinham doze portões
quando tinham apenas onze.[90]
Arqueólogos também apontaram que Polo também misturou os detalhes das duas tentativas de invasão ao Japão por Kublai
Khan em 1274 e 1281. Polo escreveu que os navios tinham cinco mastros, quando
os arqueólogos descobriram que os navios tinham de fato apenas três mastros.[91]
· Apropriações
Wood acusa Marco Polo de ter se
apropriado de relatos de outras pessoas em seu livro, recontando outras
história em benefício próprio, ou ainda baseando suas aventuras em livros
persas ou de outras fontes perdidas. Por exemplo, o sinólogo Francis Woodman
Cleaves percebeu que o relato de Polo sobre a viagem da princesa Kököchin
da China até a Pérsia para se casar com Īl-khān está descrita na Enciclopédia Yung-lo Ta-tien e pelo
historiador persa Rashid-al-Din Hamadani.
Entretanto nenhuma dessas passagens mencionam Polo ou até mesmo qualquer
europeu durante a comissão nupcial,[92]
e Wood usa a falta de evidências como comprovação para demonstrar que os Polos
"recontaram uma história bem conhecida". Morgan, defendendo Polo,
aponta que a própria princesa nem sequer é mencionada na fonte chinesa, e que
ficaria surpreso se Polo tivesse sido mencionado por Rashid-al-Din.[93]
O historiador Igor de Rachewiltz argumenta que os relatos de Marco Polo na
verdade conseguem reconciliar as fontes chinesas e persas, pois a informação
que dois dos três enviados (mencionados nas fontes chinesas e cujos nomes estão
de acordo com os escritos de Polo) morreram durante a viagem, explica como
apenas o terceiro sobreviveu, Coja/Khoja, que por sua vez é mencionado por Rashìd
al-Dìn. Polo também complementa a história fornecendo informações não
encontradas em ambas as fontes. Rachewiltz igualmente sustenta que a única
fonte persa a qual menciona a princesa não foi compilada até 1310-1311,
portanto Marco Polo não podia ter se apropriado das informações de qualquer
livro persa. De acordo com Rachewiltz, os relatos acurados de Polo sobre a
princesa, juntamente com outras fontes independentes mas incompletas, são a
prova da veracidade da história de Polo e da sua presença na China.[82]
· Avaliações
Ver: Selo
do governante mongol Gazã em uma carta de
1302 para o Papa
Bonifácio VIII
Morgan escreve que já que muito do
conteúdo do Livro das Maravilhas sobre a China é "consideravelmente
correto", a alegação de que Polo não foi à China "cria mais problemas
do que resolve" e que portanto sugere fortemente que Polo realmente foi
até à China, mesmo se exagerou sobre sua importância no império chinês-mongol.[94]
Ele não aceita vários criticismos dos relatos de Polo que se iniciaram no séc.
XVII, e destaca a precisão de Polo em grande parte da história, por exemplo
sobre o seu conhecimento em relação ao Grande Canal da China.[95]
"Se Marco foi um mentiroso", Haw escreve, "então devemos
considerar de maneira implausível que ele foi bastante meticuloso".[96]
Em 2012, o departamento de sinologia
da Universidade de Tübingen e o historiador
Hans Ulrich Vogel lançaram uma análise detalhada das descrições de Polo sobre
as moedas, das
receitas e produções do sal,
e argumentam que as evidências corroboram sua presença na China porque ele
incluiu detalhes que não poderiam ser obtidos de outra forma.[97][98]
Vogel concluiu que nenhuma outra fonte ocidental, árabe ou persa dão
informações tão precisas e únicas sobre as moedas chinesas. Por exemplo, o peso
e tamanho dos papéis, o uso de selos, as várias denominações dos papéis moedas
e das variações das diversas moedas usadas em diferentes regiões da China, tal
como o uso de búzios
em Yunnan, comprovada por evidências arqueológicas e por fontes chinesas
compiladas muito depois de Polo ter deixado a China.[99]
Seus relatos sobre as receitas e produções do sal também são precisas, e estão
de acordo com documentos da era Yuan.[100]
O historiador econômico Mark Elvin, no seu prefácio na monografia de 2013 de
Vogel, conclui que ele "demonstra com provas detalhadas atrás de provas
detalhadas as últimas evidências esmagadoras da autenticidade dos relatos de
Polo. Muitos problemas foram causados pela transmissão oral do texto original e
da proliferação de manuscritos escritos a mão que se divergiam
significativamente. Por exemplo, Polo exerceu "autoridade política" (seignora)
em Yangzhou ou meramente foi um "residente" (sejourna)? Elvin
conclui que "aqueles que duvidaram, embora enganados, não estavam sendo
levianos ou tolos", mas "o caso como um todo está agora
encerrado": o livro [As Viagens] é "essencialmente autêntico e,
quando usado com cuidado, pode ser usado como um testemunho confiável, embora
nem sempre definitivo."[101]
Legado
· Explorações posteriores
O Mapa-múndi de Fra
Mauro,
publicado em 1450 pelo monge veneziano Fra Mauro / Ver também: Era
dos Descobrimentos
Outros exploradores europeus menos
conhecidos viajaram para a China, como Giovanni da Pian del Carpine, mas a
jornada de Polo foi a primeira a ser comumente conhecida. Cristóvão Colombo ficou inspirado pelas
discrições de Polo sobre o Extremo Oriente e quis visitar essas terras; uma
cópia do livro estava entre os seus pertences, com anotações a mão.[6]
Bento
de Góis, inspirado pelos escritos de Marco Polo de um reino cristão ao
leste, viajou
· Cartografia
As viagens de Marco Polo tiveram
alguma influência no desenvolvimento da cartografia europeia, culminando nas viagens exploratórias europeias um séc.
depois.[103]
O mapa-múndi de Fra Mauro foi parcialmente inspirado pelos ditos de Marco
Polo sobre Catai.
Embora Marco Polo nunca tenha
produzido um mapa ilustrando sua jornada, sua família desenhou alguns mapas do
Extremo Oriente baseados nos imprecisos manuscritos de seus relatos. Essa
coleção de mapas foram assinadas pelas três filhas de Polo: Fantina, Bellela e
Moreta.[104]
Eles não apenas contêm os registros de suas aventuras, como incluem também
rotas para o Japão,
a Península de Kamchatka na Sibéria, o Estreito de Bering e até mesmo a costa do Alasca, séculos antes
da redescoberta da América pelo europeus.
Arte, entretenimento e mídia
· O
jogo Marco
Polo é uma forma
de pega-pega jogado em uma piscina ou em terra,[105][106] com regras ligeiramente
modificadas.
· Marco
Polo aparece como um explorador jogável no jogo eletrônico de estratégia Civilization
Revolution.[107]
Literatura
O livro
As Viagens de Marco Polo é tema em várias obras literárias de ficção,
incluindo:
· Messer
Marco Polo (1921),
de Brian Oswald Donn-Byrne.[108]
· Le
città invisibili
(1972), de Italo
Calvino.
· The Journeyer (1984), de
Gary Jennings.
Televisão
· A
minissérie de televisão Marco Polo,
dirigida por Giuliano
Montaldo. Ganhou
dois Emmys e foi indicada em mais seis.[109][110]
· O
filme Marco
Polo (2007), que
conta como Marco Polo foi deixado sozinho na China enquanto seu pai e seu tio
retornam para Veneza, para se reencontrarem com ele anos depois.[111]
· A
websérie Marco
Polo, que narra os
primeiros anos do explorador veneziano na corte de Kublai Khan e que estreou na Netflix em 2014.
Notas
1. Muitas fontes citam essa data; Britannica 2002, p. 571, afirma
"nascido em torno de 1254." Alguns historiadores mencionam que nasceu
em 15 de setembro de 1254, mas a data não é confirmada por fontes primárias e
portanto não é endossada pela maioria dos acadêmicos.
2. O monge tibetano e confidente de Kublai Khan, Drogön
Chögyal Phagpa, menciona em seus diários que um amigo estrangeiro de Kublai
Khan chegou para visita-lo em 1271, possivelmente sendo um dos Polos ou ainda o
próprio Marco Polo, embora nenhum nome é fornecido. Se esse não é o caso, uma
data mais provável para a chegada deles é 1275 (ou 1274, de acordo com o
pesquisador acadêmico japonês Matsuo Otagi). [24]
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Ligações externas
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· Marco Polo no IMDB (em inglês)
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Polo em Veneza, perto da igreja de San Giovanni Grisostomo (em italiano)
· National Geographic
sobre Marco Polo: Jornada de Veneza até a China (em inglês)
· Obras de Marco Polo
no Projeto Gutenberg
(em inglês)
· Obras de Marco
Polo, no LibriVox (audiolivros em domínio público) (em inglês)
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