Guiberto de Nogent (em latim: Guibertus S. Mariae de Novigento; em francês: Guibert de Nogent;
c. 1055-1124 (69 anos))
foi um monge beneditino, historiador, teólogo e um escritor autobiográfico. Era praticamente
desconhecido em seu próprio tempo, praticamente não sendo citado em outras
obras, foi apenas recentemente que atraiu a atenção dos estudiosos, mais
interessados em suas longas memórias autobiográficas que revelam não apenas sua
personalidade mas também diversos aspectos da vida medieval.
Vida
Guiberto nasceu
de pais da nobreza menor em Clermont-en-Beauvaisis e, segundo ele próprio
em suas "Monodiae", eles demoraram mais de sete anos para
conseguir o primeiro filho. De acordo com a obra, o parto quase custou-lhe a
vida e a de sua mãe, pois ele próprio estava virado no útero. A família fez
uma oferta no santuário da Virgem Maria, prometendo que se Guiberto sobrevivesse,
seria dedicado à vida religiosa. Como sobreviveu, cumpriu-se a promessa. Seu
pai era um homem violento, infiel e afeito aos excessos, morrendo no primeiro
ano depois do nascimento. Em suas memórias, Guiberto relata a morte dele como
uma benção, afirmando que se ele tivesse sobrevivido, provavelmente o teria
forçado a tornar-se um cavaleiro, quebrando assim a promessa feita à
Virgem. Sua mãe era dominadora, de grande beleza e inteligência e muito zelosa.
Guiberto escreve tanto sobre ela, e com tantos detalhes, que alguns acadêmicos,
como Archambault, sugeriram que ele pode ter sofrido uma forma do complexo de Édipo. Ela assumiu o controle de sua
educação, isolou-o de seus pares e contratou um tutor exclusivo para ensiná-lo
dos seis até os doze anos. Guiberto lembra que o tutor era brutalmente exigente
e igualmente incompetente, mas, ainda assim, os dois desenvolveram um forte
laço de amizade. Por volta dos doze, sua mãe se retirou para uma abadia perto de Saint-Germer-de-Fly (ou Flay), e Guiberto logo a
seguiu. Entrando para a Ordem de São Bento na São Germer,
estudou com afinco, dedicando-se a princípio aos poetas seculares Ovídio e Virgílio
— uma experiência que deixou marcas em suas obras. Posteriormente, dedicou-se à
teologia, resultado da influência de Anselmo
de Bec, que depois tornar-se-ia arcebispo de Cantuária.
Em 1104, foi
escolhido abade da minúscula e pobre abadia de Nogent-sous-Coucy (fundada em
1059) e, daí em diante, passou a atuar com mais relevo nos temas eclesiásticos
de sua época, tomando contato com bispos e com a corte. Mais importante, a nova função deu-lhe
tempo para se dedicar à sua paixão, que era escrever. Sua primeira grande obra
do período foi uma história da Primeira
Cruzada chamada "Dei gesta per Francos"
("Atos de Deus pelos Francos"), terminada em 1108 e revisada em
Para o leitor
moderno, sua autobiografia ("De vita sua sive monodiarum suarum libri
tres"), conhecida como "Monodiae"
("Canções Solitárias", geralmente chamada apenas de
"Memórias"), escrita em 1115, é considerada a mais interessante de
suas obras. Escrita no final de sua vida e baseado no modelo já utilizado pelas
Confissões de Santo
Agostinho, a obra trata de toda a sua vida desde a infância. Por todo o
texto, Guiberto apresenta lampejos sobre a vida em seu tempo e os costumes da
época. A obra em si está dividida em três volumes, o primeiro cobrindo sua
própria vida, do nascimento à vida adulta; a segunda é uma breve história de
seu mosteiro;
e a terceira é uma descrição de uma revolta na vizinha cidade de Laon. Guiberto fornece
valiosas informações sobre a vida cotidiana em palácios e mosteiros, sobre
métodos educacionais que estavam em voga e nos dá ideias sobre várias
personalidades, importantes ou não, da época. Recheado de paixões e
preconceitos, o texto tem ainda um toque da personalidade de seu autor.
Como exemplo,
ele era muito crítico em relação às relíquias
católicas
de Jesus
Cristo, a Virgem e diversos santos, duvidando principalmente de sua autenticidade e notando
que alguns santuários e centros de peregrinação geralmente faziam
reivindicações conflitantes sobre restos mortais, roupas e outros objetos
sagrados[1]
[2].
Referências
1. Charles Freeman "Brooding on God" History Today: 62: 3:
March 2012: 47-52
2. Charles Freeman: Holy bones, Holy dust: how relics shaped the history
of Medieval
Bibliografia
· Paul J. Archambault (1995). A Monk's Confession:
The Memoirs of Guibert of Nogent. ISBN 0-271-01481-4
· John Benton, ed. (1970). Self and Society in
Medieval
· Guibert of Nogent, Dei Gesta per Francos, ed. R.B.C. Huygens, Corpus Christianorum, Continuatio
Mediaevalis 127A (Turnhout: Brepols, 1996)
· Robert Levine (1997). The Deeds of God through the
Franks : A Translation of Guibert de Nogent's `Gesta Dei per Francos' .
ISBN 0-85115-693-2
· Joseph McAlhany, Jay Rubenstein, eds. (2011). Monodies
and On the Relics of Saints: the Autobiography and a Manifesto of a French Monk
from the Time of the Crusades. Tradução direto do latim, com introdução e
notas. Penguin Classics. ISBN 978-0-14-310630-2
· Jay Rubenstein (2002). Guibert of Nogent: Portrait
of a Medieval Mind,
· Karin Fuchs, Zeichen und Wunder bei Guibert de
Nogent. Kommunikation, Deutungen und Funktionalisierungen von Wundererzählungen
im 12. Jahrhundert (München:
Oldenbourg, 2008) (Pariser Historische Studien, 84).
·
Elizabeth Lapina,
"Anti-Jewish rhetoric in Guibert of Nogent's Dei gesta per Francos,"
Journal of Medieval History, 35,3 (2009), 239-253.
Ligações
externas
· The Autobiography Of Guibert. C.C. Swinton Bland, translator,The Autobiography
of Guibert, Abbot of Nogent-sous-Coucy (London: George Routledge: New York:
E.P. Dutton, 1925). Do
Internet
Archive.
o Memoirs e [1] do Internet Medieval
Sourcebook.
Trechos da tradução para o inglês de C.C. Swinton Bland.
·
On the Saints and their Relics do Internet Medieval Sourcebook
·
The Revolt in Laon do Internet Medieval Sourcebook.
· On the First
Crusade,
inclui a versão de Guiberto do discurso do papa Urbano e suas impressões sobre Pedro, o Eremita.
· Obras de Guibert of
Nogent
no Projeto
Gutenberg
o The Deeds of God through the Franks, e-texto do Projeto Gutenberg. Traduzido
para o inglês por Robert Levine (1997).
· Vários autores
(1911). «Guibert of Nogent». In: Chisholm,
Hugh. Encyclopædia
Britannica. A Dictionary of Arts, Sciences, Literature, and
General information (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia
Britannica, Inc. (atualmente em domínio
público)
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