Saxo
Grammaticus ou Saxão Gramático[1],
também conhecido como Saxão, o Erudito e Saxão, o Alto (Saxo
cognomine Longus) (em dinamarquês: Saxo Grammaticus; em latim: Saxo Grammaticus; c. 1150 - c. 1220) foi um historiador
da Dinamarca
medieval,
que se julga ter sido um escrivão secular do arcebispo Absalão de Lund. É o autor da primeira história da Dinamarca, conhecida como Gesta
Danorum (Feitos dos Danos ou História da Dinamarca). [2]
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Vida
Segundo a Crónica
da Jutlândia, Saxão nasceu na Zelândia (em dinamarquês: Sjælland). Parece pouco provável que tenha nascido antes de
1150, e supões-se que a sua morte terá ocorrido por volta de 1220. O seu nome,
Saxão, era um nome comum na Dinamarca medieval. O nome "Gramático"
("o Erudito") foi-lhe atribuído pela primeira vez na Crónica da Jutlândia,
e na Crónica da Zelândia
Saxão é referido como cognomine Longus ("o Alto").
Saxão viveu
durante um período de guerras e expansão na história da Dinamarca, expansão essa
liderada pelo arcebispo Absalão de Lund e os reis Valdemar I, o Grande (1157-1182) e o
seu neto Valdemar II, o Vitorioso
(1202-1240). Os dinamarqueses encontravam-se na época ameaçados pelos Vendos ao sul, que
faziam ataques ao longo da fronteira terrestre e infestavam os mares.[8]
Valdemar I acabara de ganhar uma guerra civil, e mais tarde Valdemar II chefiou
uma expedição além do Elba para invadir Holstein.[9]
Saxão era
oriundo de uma família de guerreiros; o autor escreve que o seu pai e avô “eram
conhecidos frequentadores do campo de guerra do seu renomado senhor (Valdemar
I),"[10]
e que ele próprio decidira ser soldado, seguindo "o velho direito de
serviço hereditário." Svend Aagesen, um nobre dinamarquês e autor de uma
história da Dinamarca ligeiramente anterior à de Saxão, descreve o seu
contemporâneo como seu contubernalis, isto é, camarada de tenda. Isto
prova que Saxão e Sven podem ter sido soldados na Hird ou guarda
real, visto Sven ter usado a palavra contubernium em relação a estes.
Encontramos
ainda um Saxão numa lista de clérigos em Lund, na Escânia,
então uma província dinamarquesa, onde se encontra também um Sven como
arcediago. Do mesmo modo encontramos um deão Saxão que
morreu em 1190; esta data, no entanto, não coincide com o que se conhece de
Saxão.
Ambos os
argumentos ― o de um Saxão religioso ou secular ― sugerem que ele teria
recebido uma boa educação, visto os clérigos receberem educação em Latim, e os filhos
dos grandes senhores frequentemente serem enviados a Paris.[11]
A educação e
habilidade de Saxão apoia a noção de que teria sido educado fora da Dinamarca.
Alguns sugerem que o cognome "Gramático" se refere não à sua
educação, mas sim ao seu elaborado estilo de escrita.[12]
Sabemos através da sua escrita que se encontrava no séquito de
Absalão, bispo de Roskilde (1158) e mais tarde arcebispo de Lund (1178), e o
principal conselheiro de Valdemar I. No seu testamento Absalon perdoa a seu
escrivão Saxão uma pequena dívida de dois marcos e meio de prata, e pede-lhe
que devolva dois livros emprestados do mosteiro de Sorø.[13]
O legado de
Saxão Gramático é a histórica heroica dos Dinamarqueses em dezasseis volumes
chamada Feitos dos Danos.
Feitos
dos Danos
No prefácio da
obra, Saxão escreve que o seu patrono, Absalão, o arcebispo de Lund, o
encorajara a escrever uma história heroica dos dinamarqueses. A história
pensa-se ter sido iniciada cerca de 1185, depois de Sven Aggesen ter escrito a
sua história.[14]
O propósito da Feitos
dos Danos era, como escreve Saxão, "glorificar a nossa pátria," o
que ele realizou seguindo o modelo da Eneida de Vergílio.[15]
Saxão pode também dever muito a Platão, Cícero, e
ainda a escritores mais contemporâneos como Godofredo de Monmouth.[16]
A história dos dinamarqueses de Saxão foi compilada a partir de fontes cujo
valor histórico é questionável. O autor aproveitou a tradição oral dos
islandeses, tomos antigos, letras esculpidas em rochas e pedras, e afirmações
do seu patrono, Absalão, quanto à história de que o arcebispo tinha feito
parte. O trabalho de Saxão não é assim, "strictu senso", uma história
ou uma simples coleção de contos antigos, mas antes "um produto da mente
do próprio Saxão e dos seus tempos."[17]
O autor combina a história e mitologia da era heroica da Dinamarca, e
transforma-as numa estória sua sobre o passado dos dinamarqueses.[18]
A história é
composta por dezasseis livros, e vai desde a era dos fundadores lendários do
povo dinamarquês, rei Dan da Dinamarca e o seu irmão Angul ― este
o progenitor dos ingleses ― até cerca de 1187. Os primeiros quatro tomos tratam
da história dos dinamarqueses antes de Cristo; os quatro
seguintes tratam da história pagã depois de Cristo; os livros 9-12 tratam da
Dinamarca cristã depois da evangelização iniciada por Ansgário de Hamburgo no séc. IX; e os livros
13-16 promovem o arcebispo de Lund e as a suas façanhas antes e durante a vida
do autor.[19]
Presume-se que
os últimos oito livros tenham sido escritos primeiro, por Saxão se basear
fortemente no testamento de Absalão (†1202) como fonte para os tempos de
Valdemar I e de Canuto IV (Canuto, o Santo,
1080-1086), tio-avô de Valdemar I.
Os oito livros
primeiros assemelham-se às obras contemporâneos de Snorri
Sturluson na Islândia. Tratam de elementos míticos, tais como gigantes, e
do panteão de deuses escandinavos.[20]
Saxão relata que Dan, primeiro rei da Dinamarca, tinha um irmão chamado Angul,
que teria dado o seu nome aos Anglos.[14]
O autor conta ainda estórias sobre vários outros heróis dinamarqueses, muitos
dos quais interagem com os deuses da mitologia nórdica. Os deuses pagãos de Saxão, no
entanto, não eram sempre benevolentes: por vezes eram traiçoeiros, tal como na
estória de Haroldo, rei lendário dos dinamarqueses, que foi ensinado nas artes
da guerra por Odin
para depois ser traído e morto pelo deus, que posteriormente o levou a Valhala.[21]
O mundo de Saxão
transparece como um de valores fortemente guerreiros. O autor glorifica os
heróis que conquistaram a sua fama na guerra muito mais do que os que fizeram a
paz. A sua opinião do período de paz durante o rei Frode era muito baixa, e
Saxão apenas se mostra satisfeito quando o rei Canuto fez voltar os velhos
costumes ancestrais.[22]
A cronologia de
Saxão estende-se até os tempos de São Canuto no final do séc. XI e do seu
sobrinho neto Valdemar I cem anos mais tarde. Talvez a parte mais importante de
toda a sua história dos dinamarqueses é a estória de Amleth, a primeira
ocorrência de Hamlet.
Saxão baseou a estória num conto oral[23]
de um filho vingando o pai assassinado.
O autor terminou
a sua obra com o prefácio, escrito por último, cerca de 1216,[24]
já com Anders Sunesen, que substituíra Absalão como arcebispo de Lund, como
patrono. No prefácio da obra Saxão incluiu uma calorosa apreciação de ambos os
arcebispos e do rei reinante, Valdemar II.[25]
Contribuição
histórica
Christiern
Pedersen, um clérigo de Lund, colaborou com Jodocus
Badius Ascendius, outro entusiasta, na impressão da obra de Saxão Gramático
no início do séc. XVI. Este foi o primeiro passo para garantir a importância
histórica da Feitos dos Danos. Foi a partir de então que a obra começou
a ser divulgada entre a comunidade académica.[26]Oliver
Elton, o primeiro a traduzir os primeiros nove livros da Feitos dos Danos
para a língua inglesa, escreveu que Saxão foi o primeiro
escritor da Dinamarca. A habilidade de Saxão como latinista
foi elogiada por Erasmo, que se perguntou como "“ um dinamarquês
daquela era adquirira tão grande eloquência.”"[26]
Foram feitas
várias tentativas de entender estilo de latim de Saxão e posicioná-lo na história,
para melhor se compreender onde o autor terá sido educado. Alguns consideraram
que o latim de Saxão tem mais em comum com uma educação jurídica que religiosa,[13]
e sobre a sua poesia se pensa que contém vestígios de paralelismo retórico.[27]
Hoje Saxão é
visto pelos dinamarqueses como o seu primeiro historiador nacional.[28]
As suas obras foram recebidas com entusiasmo pelos eruditos do Renascimento,
curiosos sobre a história e lendas da era pré-cristã da Dinamarca. A narrativa
histórica de Saxão é no entanto divergente das dos seus contemporâneos,
especialmente os da Noruega e Islândia,
em cujas obras os heróis e vilões trocam de nacionalidade, apresentando assim
uma interpretação contrária. Existem ainda diferencias entre o trabalho de
Saxão e o do seu compatriota contemporâneo Sven Aggesen; estas diferenças são
frequentemente resultado de elaboração da narrativa por parte de Saxão. A sua
relação da estória de Thyri, por exemplo, é muito mais fantástica e exagerada
que a estória que Sven apresenta. Como resultado deste estilo e elaboração, a
história de Saxão tem frequentemente sido alvo de críticas.[29]
A inclusão da estória de Amleth por Saxão é a parte mais significante da Feitos
dos Danos. No entanto, a obra também tem valor pela sua descrição da canonização
de Canuto, e ainda através da comparação com os trabalhos de Snorri, cujas obras
partilham muitos dos mesmos protagonistas e estórias, assim contribuindo para
um melhor entendimento da Escandinávia
pré-cristã.
O Instituto de
História da Universidade de Copenhague é hoje
chamado Saxo Instituttet em sua honra.
Notas
1. Neves 2019.
2. Peter Zeeberg. «Saxo Grammaticus» (em dinamarquês). Arkiv for Dansk Litteratur. Consultado em 16
de abril de 2018
3. Anders Bæksted;
Peter Hallberg (1988). «Källor och källskrifter». Nordiska gudar och hjältar (em sueco). Estocolmo:
Forum. p. 28. 429 páginas. ISBN 91-37-09594-3
4. https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/90285
5. Muceniecks, AS (2008). «Saxo Grammaticus e a Gesta
Danorum - Sobre o autor». Virtude e conselho
na pena de Saxo Grammaticus (XII-XIII) (PDF) (Dissertação de Pós-Graduação). Universidade
Federal do Paraná. p. 46-48
6. «Saxo Grammaticus
(Danish gistorian)» (em
inglês). Encyclopædia Britannica (Enciclopédia Britânica). Consultado em 15
de março de 2019
7. «Saxo» (em dinamarquês). Den Store Danske Encyklopædi (Grande Enciclopédia Dinamarquesa). Consultado em 15
de março de 2019
8. Westergaard p. 167
9. Fisher v.2 p. 20
10. Fisher v.1 p. 6
11. Davidson p. 9-11
12. Davidson p. 1
13. Davidson p. 10
14. Jones p. 44
15. Fisher v.1 p. 2-4
16. Davidson p. 6-9
17. Friis-Jensen p. 198
18. Westergaard p. 168
19. Christiansen p. 383
20. Dumézil p. 78-79
21. Jones p. 53
22. Malone p. 96
23. Muir p. 370
24. Davidson p.12
25. Fisher v.1 p. 1
26. Davidson p. 3
27. Amory p. 702
28. Davidson p. 2
29. Sawyer p. 14-16
Bibliografia
· Amory, Frederic: "Review work:
Saxo Grammaticus as Latin Poet: studies in the Verse Passages of the 'Gesta
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1989), p. 701-706, acessada em 4-10-2008.
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· Davidson, Hilda Ellis: Introduction to Saxo
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·
Dumézil, Georges: From
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Chicago: University of Chicago Press, 1973.
·
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(trad.): Saxo Grammaticus The History of the Danes, Book I-IX. Volume I:
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·
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(trad.): Saxo Grammaticus The History of the Danes, Book I-IX. Volume II:
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· Friis-Jensen, Karsten: "In the Presence of the
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· Jones, Gwyn: A History of the Vikings. Londres: Oxford
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· Neves, Gonçalo (2019). «O
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· Sawyer, P. H.: Kings and Vikings: Scandinavia and
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· Westergaard, Waldemar. "Danish
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24.2, junho de 1952), p. 167-180, acessada em 4-10-2008.
Ligações
externas
· Arthur Remy (1913). «Saxo Grammaticus». In: Herbermann, Charles. Enciclopédia
Católica (em inglês). Nova
Iorque: Robert Appleton Company
· Vários autores (1911).
«Saxo Grammaticus». In: Chisholm, Hugh. Encyclopædia
Britannica. A Dictionary of Arts, Sciences, Literature, and
General information (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia
Britannica, Inc. (atualmente em domínio
público)
· Feitos dos Danos, Livros I-IX (em inglês): Online Medieval and Classical Library
· Feitos dos Danos, Livros I-XVI (em
latim): Real Biblioteca
Dinamarquesa
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