Raimundo
Lúlio (
Llull é uma das
figuras mais fascinantes e avançadas dos campos espiritual,
teológico e
literário
da Idade
Média.
Foi um leigo próximo aos franciscanos. Talvez tenha pertencido à Ordem Terceira dos Frades Menores. Foi discípulo do renomado médico, alquimista e astrólogo Arnaldo de Vilanova. Era conhecido em seu tempo pelos apelidos de Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), embora não seja um dos 33 Doutores da Igreja Católica. Dedicou-se ao apostolado entre os muçulmanos.
Além de ser o
primeiro autor a utilizar uma língua neolatina para expressar conhecimentos
filosóficos, científicos e técnicos, destacou-se por uma aguda percepção que o
permitiu antecipar muitos conceitos e descobrimentos. Lúlio foi o criador do
catalão literário, possuindo um elevado domínio da língua
e tendo sido seu primeiro novelista.
Em alguns de
seus trabalhos, propôs métodos de escolha que foram redescobertos, séculos mais
tarde, por Condorcet
(séc. XVIII).
Influiu em Nikolaus
von Kues, Giovanni Pico della Mirandola, Francisco Ximenes de Cisneros, Heinrich Kornelius Agrippa
von Nettesheim, Giordano Bruno, Gottfried Wilhelm Leibniz, John Dee e Jacques Lefèvre D'Etaples[1].
História
Nasceu em Palma
de Maiorca, pouco tempo após a conquista de Maiorca pelo rei dom Jaime I de Aragão. Não se sabe a data exata do
seu nascimento, mas calcula-se que ocorreu entre fins de 1232 e começos de
1233. Ramon era filho de uma família de boa situação financeira: seus eram pais
Ramon Amat Llull e Isabel d'Erill.
Segundo Umberto
Eco, o lugar do nascimento foi determinante para Llull, pois Maiorca era
uma encruzilhada, na época, das três culturas: cristã, islâmica e judaica,
até o ponto de que a maior parte de suas 280 obras conhecidas terem sido
escritas inicialmente em árabe
e catalão[2].
Casou-se com 22
anos com Blanca Picany, da qual teve dois filhos: Domingos e Madalena. Mais
tarde, em 1262, tornou-se terciário franciscano. Em 1275, depois de uma
experiência mística, da qual saiu com o duplo propósito de preparar-se para o
magistério e para dedicar-se à conversão dos infiéis e em vista das insistentes
queixas de sua esposa, abandonou definitivamente a família.[3]
De família
cristã, Lúlio conviveu com muçulmanos
e judeus em Maiorca.
Converteu-se definitivamente ao cristianismo
em 1263 - ano da
famosa Disputa de Barcelona entre
o rabino Mosé ben Nahman de Girona, notável teólogo
judeu, e o dominicano Pau Cristià, um judeu
convertido. Nessa disputa, foi utilizado o procedimento de partir das
argumentações do livro revelado do opositor. A partir dessa época, os apologetas
cristãos passaram a estudar em profundidade os textos islâmicos e judeus.
Mas Lúlio seguiu
uma outra vertente. Em seu diálogo inter-religioso, motivado pela tentativa missionária
de conversão
do "infiel", preferia partir do que chamava de "razões
necessárias". É o que desenvolve, por exemplo,
Posteriormente,
criaria uma forma de argumentação baseada na automatização do pensamento. Por
volta de 1275, ele
concebeu um método, publicado pela primeira vez, na sua totalidade, em Ars
generalis ultima ou Ars magna ("Grande Arte"), de 1305). Tal método
resultava da combinação de atributos religiosos e filosóficos selecionados de
várias listas. Acredita-se que, para escrever essa obra, Lúlio se tenha
inspirado em um dispositivo denominado zairja,
usado pelos astrólogos árabes.
Uma das suas
preocupações foi a ética cristã e o ideal cavaleiresco que o levou a escrever o Livro
da Ordem de Cavalaria[4].
Obras
Escreveu mais de
duzentas e cinquenta obras em catalão, árabe e latim[5][6].
- Livro da
Ordem de Cavalaria (c.1274-1276)[7]
- O Livro das
Bestas (c. 1289-1294)[8][9]
- O Livro do
Amigo e do Amado[10]
- Vida Cetânea
(1311)[11]
- O Livro da Lamentação
da Filosofia (1311)[12]
- Do Nascimento
do Menino Jesus[13]
- O Livro do Gentio e dos Três
Sábios (1274-1276)
- O Livro dos
Mil Provérbios
- Félix, Ou o
Livro das Maravilhas
- Escritos Antiaverroitas (1309-1311)
Citações
“Natal
Adoro
o Menino abençoado, Deus e homem, a sua divindade, a sua humanidade e todo o
bem que há nele, já que a ele toda adoração objetiva e, finalmente, deve ser
endereçada. Adoro nele a soberana bondade, a soberana grandeza e todas as
demais qualidades incriadas; e, sendo ele homem, adoro também essas mesmas
qualidades tal como foram criadas; e como todas as coisas foram feitas por ele,
adoro o seu entendimento, e a sua boa vontade adoro, e qualquer outra ação sua;
e a ele ofereço toda a minha inteligência, todo o meu poder e todo o meu agir,
e, se mais pudesse, mais diria para a sua glória e a sua honra. Adoro o Menino
que há de sofrer a paixão, há de ser sepultado e há de ressuscitar no terceiro
dia, e com toda a glória dele adoro também a bem-aventurada Virgem sua
sacratíssima Mãe.”
Referências
1. Instituto
Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, Studies
2. ECO, U. La búsqueda de la
lengua perfecta. Barcelona: Editorial Crítica, 1994. p. 55
3. ZILLES, U. Fé e Razão no Pensamento Medieval.
Porto Alegre: EdiPUCRS, 1993. p. 106ss
5. Instituto
Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, Studies
6. Catálogo
cronológico das obras de Ramon Llull (Anthony Bonner)
7. Tradução: Ricardo
da Costa, 1998-2017
9. Tradução da Sociedade
das Ciências Antigas
11. Tradução: Luísa
Costa Gomes
12. Tradução: Brasília
Bernardete Rosson
14. LLULL, R. Do nascimento do Menino Jesus, Escritos
antiaverroístas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. p. 64
Ligações
externas
· Instituto
Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio
· Textos traduzidos
de Ramon Llull. Coordenação: Prof. Dr. Ricardo da Costa
· FERRATER MORA, J. Diccionario de Filosofía. "Llull,
Ramon"
(em castelhano)
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