Alain de Lille (também em latim: Alanus ab
Insulis, Alanis ab Insulis, ou Alanus de Insulis) (Lille, c. 1128 - Cister, 1202) foi um teólogo e poeta francês.
Vida
Pouco se sabe
sobre sua vida. Parece ter estudado e ensinado nas escolas de Paris, e participado
do Concílio de Latrão, em 1179.
Posteriormente, morou em Montpellier (devido a isso, algumas vezes é chamado de Alanus
de Montepessulano), viveu por um tempo fora dos muros de qualquer claustro
e, finalmente, retirou-se para Cister,
onde morreu em 1202.
Tinha uma fama
muito difundida durante a sua vida e seu conhecimento, mais variado do que
profundo. Por sua erudição, como professor, recebeu o cognome de Alain, o
Grande ou Doctor universalis. Entre seus trabalhos muito numerosos,
dois poemas lhe conferem o direito a um lugar de destaque na literatura
latina da Idade Média; um deles, o De planctu naturae, é
uma sátira
genial sobre os vícios da humanidade. Criou a alegoria da conjugação
gramatical, que teve seus sucessores ao longo da Idade Média, servindo de inspiração
a outros autores, como por exemplo Jean
de Meung no Romance da Rosa. O Anticlaudianus, um tratado sobre a moral como alegoria, cuja
forma lembra o panfleto
de Claudiano
contra Rufino, é agradavelmente versificado e
relativamente puro em sua latinidade.
Teólogo
Como teólogo, Alain
de Lille compartilhou da reação mística da segunda metade do séc. XII contra a filosofia
escolástica. Seu misticismo, no entanto, está longe de ser tão absoluto
como a dos vitorinos.[1]
No Anticlaudianus ele resume da seguinte forma: a razão, pautada pela
prudência, pode descobrir sozinha a maioria das verdades de ordem física; para
a apreensão das verdades religiosas, deve-se crer com fé. Essa regra é
completada em seu tratado, Ars catholicae fidei, conforme segue: a
teologia em si pode ser demonstrada pela razão. Alain mesmo arrisca uma
aplicação imediata deste princípio, e tenta provar geometricamente
os dogmas definidos no Credo. Esta tentativa ousada é totalmente fictícia e verbal, e
é somente o emprego de vários termos utilizados geralmente em uma ligação (axioma, teorema, corolário,
etc.), que dá a seu tratado a sua originalidade aparente.
Assim, por vezes
a obra teológica de Alain se assemelha a de João Escoto Erígena e Raimundo
Lúlio, tanto pelo racionalismo como pelo misticismo. Cujos elementos
filosóficos passam, principalmente, pelo platonismo,
pelo aristotelismo,
se firma nos comentários de Boécio e Porfírio e pelo pitagorismo.
A consistência da filosofia de Alain é fundamentalmente neoplatônica,
possui a consistência da lógica aristotélica e outras atribuições
alçadas pelo estudo dos comentários dos platonistas Marciano
Capela,[2]
Apuleio e
Boécio e ainda no misticismo do Pseudo-Dionísio e do origenista
João Escoto Erígena.
Por ter sido uma
autoridade e grande conhecedor das obras de Pedro
Lombardo, Tomás de Aquino e Boaventura de Bagnoregio, o Doutor
Seráfico, ele permaneceu durante os séculos XIII e XIV como uma referência
e foi comumente citado por todos os autores.
Obras
e atribuições
Alain de Lille
tem sido frequentemente confundido com outras pessoas chamadas Alain, em
particular, com outro Alano (Alain, bispo de Auxerre),
Alan, abade de Tewkesbury, Alain de Podio, etc. Certos fatos de suas vidas têm
sido atribuídos a ele, assim como algumas das suas obras: assim, Vida de São
Bernardo deve ser atribuída a Alain de Auxerre, e o Comentário sobre
Merlin, a Alan de Tewkesbury. Alain de
Lille não foi autor de um Memoriale rerum difficilium, publicado com seu
nome, nem de Moralium dogma
philosophorum, nem do satírico Apocalipse de Golias
uma vez atribuído a ele; e é extremamente duvidoso que o Dicta Alani de
lapide philosophico realmente saiu de sua pena. Por outro lado, parece
agora praticamente demonstrado que Alain de Lille foi o autor do Ars
catholicae fidei e do tratado Contra haereticos.
O Ars
catholicae fidei,[3]
dedicado ao papa Clemente III, foi escrito com o propósito de refutar
os fundamentos racionalistas dos maometanos, judeus e hereges; o Contra
haereticos[4]
e o Theologicae Regulae,[5]
seguiram pelo mesmo caminho e o poema De Planctu Naturae e o Anticlaudianus.[6]
Algumas obras ainda inéditas como De virtutibus et Vitiis[7]tinham
uma conotação satírica e moralista consecutivamente.
Em seus sermões
sobre os pecados capitais, Alain argumentou que sodomia e homicídio
são os pecados mais graves, uma vez que eles invocam a ira de Deus, o que levou
à destruição de Sodoma e Gomorra. Seu trabalho principal sobre a
penitência, o Liber poenitenitalis, dedicado a Henrique de Sully, exerceu
grande influência sobre os muitos manuais de penitência produzidos como
consequência do Quarto Concílio de Latrão. A
identificação de Alain dos pecados contra a natureza inclui: a bestialidade,
a masturbação, o sexo oral
e anal,
o incesto, o adultério
e o estupro.
Além de sua batalha contra a decadência moral, Alain escreveu uma obra contra o
Islã, o Judaísmo
e os hereges cristãos
dedicado a Guilherme VIII de Montpellier.
O seu A
ciência da natureza é uma série de relatórios e correspondências,
decorrente da filosofia neo-platônica, da tradição hermética
e da alquimia
onde o homem, microcosmo natural, possuem em si mesmo, dentro de sua
fisiologia, várias partes correspondentes ao todo. Ele é composto de quatro
humores: ar, água, fogo e terra, como os elementos naturais, o movimento de sua
razão, à semelhança do argumento de Platão no Timeu, é o movimento do
céu fixo em si mesmo e de sua sensibilidade ao movimento planetário e, como em
Platão, Alain identifica três faculdades no homem: a prudência, colocada na
cabeça, correspondente a Deus, a coragem, no coração corresponde aos anjos e a
sensualidade, nos rins, que é o mesmo homem.
Como o universo,
diz Alain, de acordo com uma teoria, compartilhada por outros neoplatônicos,
que não é infinito e, portanto, não tem um centro fixo: em certo sentido, o
centro seria em todos os lugares, de acordo com o observador. Estas observações
têm lugar também na concepção e nos ensinamentos de Nicolau
de Cusa, e até mesmo em Albert
Einstein.[8]
Referências
1. O vitorismo, criado por Hugo
de São Vitor,
ensina que existem três operações básicas e hierárquicas da alma racional, as
quais se complementam em sua ordem sucessória, a saber: (1) O pensamento, (2) a
meditação e (3) a contemplação.
2. Marciano Capela, autor de um
texto alegorístico que permaneceu uma referência por toda a Idade Média
reconhecia a imagem do "garoto com o dedo apoiado contra seus lábios"
porém não mencionou o nome de Harpócrates; "...quidam redimitus puer ad os
compresso digito salutari silentium commonebat".
3. De Migne, PL, CCX.
4. De Migne, PL, CCX.
5. De Migne, PL, CCX.
6. Wright em poetas
satíricos do séc. XII, II (Rerum Britannicarum Scriptores)
7. (Codex, Paris , Bibl. Nat.,
N. 3238).
8. Cf. I. Toth, La filosofia e
il suo luogo nello spazio della spiritualità occidentale, Bollati Boringhieri,
Torino 2007, pp. 38-39.
· Este artigo incorpora
texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição),
publicação em domínio
público.
· Vários autores (1911). «Alain de Lille». In: Chisholm, Hugh. Encyclopædia
Britannica. A Dictionary of Arts, Sciences, Literature, and
General information (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia
Britannica, Inc. (atualmente em domínio
público)
Ligações
externas
· Alanus ab Insulis, Anticlaudianus
sive De officiis viri boni et perfecti (em latim)
· Alanus ab Insulis, Liber
de planctu naturae (em latim)
· Alanus ab Insulis, Omnis
mundi creatura
(em latim)
· Alain de Lille, The Complaint of Nature (em inglês)
· Baumgartner, Die
Philos. d. Alanus de Insulis etc, em Beitr. z. Gesch. d. Philos; d. MA,
(Münster, 1896) Bd. II;
· Baukmer, zu den
Handschriftliches Werken des Alanus (Fulda, 1894);
· Ueberweg, Gesch.
d. Philos, (Berlim, 1905), Bd II, 9 Ed, 214 sqq;...
· Hauréau, Hist. de
la phil. scol. (Paris, 1872), I, 521 sq; DE WULF, Hist. de la phil. scol. dans
les Pays-Bas (Louvain, 1895), 41 sq;
· Turner, William,
Hist. de Phil. (Boston, 1903), 301, 302.
Leituras
adicionais
· Dynes,
· Kren, Claudia (1970). «Alain de Lille». Dictionary of
Scientific Biography. 1. New York: Charles Scribner's Sons. pp. 91-92.
ISBN 0684101149
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