João de
Salisbury (Old Sarum, Salisbúria,
Inglaterra, c. 1115-1120 — Chartres, França, 25 de Outubro de 1180) foi um dos
mais brilhantes pensadores do seu tempo. Ao longo da sua vida desempenhou
importantes cargos no seio da Igreja Católica. Foi também autor de importante
pensamento político, registado em obras como "Policraticus" e
"Metalogicon",
assim como teorizador do ensino.
Nascido num
contexto modesto, do qual pouco se conhece, inicia os seus estudos
Biografia
· Primeiros anos e educação
Estudou os
primeiros anos em sua cidade natal, indo posteriormente para a Universidade de Paris (que na época se
chamava École Cathédrale de Paris), onde teve aulas com Pedro
Abelardo, continuando seus estudos de lógica sob a
direção de Robert de Melun (1100-1167),[1]
e gramática orientado por Guillaume de Conches (1080-1150)[2]
em 1148.
Seus vívidos
relatos dos professores e alunos lhe forneceram os mais preciosos fundamentos
dos seus primeiros dias na Universidade de Paris. Com o afastamento de
Pedro Abelardo, João continuou os seus estudos com Alberico de Rheims
(1085-1141). Ricardo L'Evêque († 1181), bispo de Avranches e
discípulo de Bernardo de Chartres (1130-1160), também foi
seu professor de gramática. Os ensinos de Bernardo se distinguiam
particularmente pela sua pronunciada tendência platônica, e também pela
importância dedicada aos maiores escritores latinos. A influência dos clássicos
latinos é perceptível em todas as obras de Salisbury.
Por volta de 1140
ele estava em Paris
estudando teologia com Gilbert de la Porrée (1070-1154), depois com
o teólogo e filósofo inglês Robertus
Pullus (1080-1150) e finalmente assistiu aulas de teologia com Simon de Poissy (fl.
1125-1145). Em 1148 ele se hospedou na Abadia de
Montier-la-Celle, na Diocese de Troyes, com seu
amigo Pedro de La Celle (1115-1183). No mesmo ano
participou do Concílio de Rheims,
presidido pelo Papa Eugênio III, e provavelmente foi apresentado
por Bernardo de Claraval (1090-1153) a Teobaldo
de Bec (1090-1161), arcebispo de Cantuária, sob cujo patrocínio
retornou para a Inglaterra por volta de 1153, tendo passado algum tempo em
Roma como
secretário do papa inglês Adriano IV, Nicholas Breakspear.
· Secretário do Arcebispo de Cantuária
Nomeado
secretário de Teobaldo de Bec, era frequentemente enviado em missões para a
sede papal. Durante essa época ele compôs suas maiores obras, publicadas quase
certamente em 1159, o Policraticus, sive de nugis curialium et de vestigiis
philosophorum e o Metalogicon, escritos inestimáveis como fontes de
informações relativas ao tema e forma da educação escolástica, e notáveis pelos
estilos apresentados e tendência humanística. A ideia de contemporâneos em pé
nos ombros dos gigantes que se tinha na Antiguidade aparece pela primeira
vez nesta obra. O "Policratus"
também derrama luz sobre a decadência dos modos da corte do séc. XII e a frouxa
ética da realeza. Depois da morte de Teobaldo, em 1161, João continuou como
secretário de Tomás Becket (1118-1170), e tomou parte ativa nas
longas disputas entre o primaz e seu soberano, Henrique II, que considerava João agente
papal.
Suas cartas
lançam luz sobre a luta constitucional que abalava a Inglaterra.
Em companhia de Becket, retirou-se para a França
durante o período de descontentamento do rei; retornou com ele em 1170, e
estava em Cantuária na época do assassinato de Becket. Nos anos
seguintes, durante os quais ele continuou influente na situação de Cantuária,
mas com data imprecisa, ele escreveu A Vida de Becket.
· Bispo de Chartres
Em 1176,
Salisbury se tornou bispo de Chartres, onde
passou o resto da sua vida. Em 1179 ele participou ativamente do Terceiro Concílio de Latrão. Ele morreu
em Chartres
(ou perto dessa cidade) no dia 25 de
Outubro de 1180.
Erudição
e influências
Os escritos de
João de Salisbury são excelentes para esclarecer o estágio literário e
científico da Europa Ocidental do séc. XII. Embora ele tivesse o domínio total da
nova lógica e da retórica da arte do raciocínio adquirido na universidade, os
pontos de vista de Salisbury apresentam uma inteligência cultivada e
brilhantemente aquinhoada em assuntos práticos, opondo-se aos extremos tanto do
nominalismo
como do realismo
considerando-os senso prático comum. A sua doutrina se constitui numa
espécie de utilitarismo, com forte inclinação para o aspecto
especulativo em relação ao cepticismo literário de Cícero, por
quem ele tinha incontida admiração e em cujo estilo se espelhou para criar o
seu próprio. A sua visão de que o objetivo da educação era moral, e não apenas
intelectual, tornou-se uma das principais doutrinas educacionais da civilização
ocidental, mas a sua influência será mais perceptível, não em seus
contemporâneos imediatos, mas na visão de mundo do humanismo renascentista.
Dos escritores
gregos, a princípio, parece não ter ele conhecido nada, e muito pouco nas
traduções. O Timeu
de Platão,
em versão latina traduzida por Calcidius[3]
chegou ao seu conhecimento e dos seus contemporâneos e predecessores, e é
provável que ele tenha tido acesso às traduções de Fédon e Menon. De Aristóteles
ele possuía todo o Organon em latim; ele é, na verdade, o primeiro dos
escritores medievais de renome a conhecê-la inteiramente.
Foi, ao lado de Hugo de São Vitor, Anselmo de Cantuária e Pedro
Abelardo, um dos grandes responsáveis pela transformação ocorrida no séc.
XII com relação ao modo como se encarava o conhecimento e a filosofia ao fim da
Idade Média.
Obra
O essencial do
seu pensamento encontra-se em Policraticus (1159), embora esta não esgote a sua
produção intelectual. Composta ao longo de anos, encontra na política de
Henrique II de Inglaterra a motivação para a terminar. Tece-a, como um aviso,
procurando inspirar propósitos morais e transmitir ensinamentos éticos à
política e sociedade de corte que acreditava estarem a subverter os fundamentos
éticos e religiosos do reino. De forma geral, propõe uma ordem social que
busque a coexistência pacífica dos poderes temporal e espiritual.
· Policraticus
Composto em oito
livros, João de Salisbury concentra a sua reflexão política nos IV, V e VI
livros. Estilisticamente, apresenta um carácter humanista, sobretudo pela
convocação de fontes quer cristãs quer pagãs. Num contexto de centralização do
poder das monarquias da Cristandade Ocidental, destacam-se as suas ideias de
limitação do mesmo pela lei. A estas associa a metáfora orgânica do governo como
um organismo vivo, na qual faz corresponder a cada parte do corpo humano os
elementos da sociedade (pés-trabalhadores; mãos-combatentes;
barriga-administração/fazenda; coração-conselho; cabeça-príncipe; alma-Igreja),
procurando explicar a necessidade do correcto funcionamento de cada um para a
harmonia do todo. Outra das questões fulcrais é o tiranicídio, enquanto
ferramenta para o restabelecimento da ordem sempre que esta seja deturpada por
responsabilidade do monarca.
Bibliografia
· AA. VV., The
· CARBÓ, Laura,
“Jornada: La ley natural en el Policraticus de J. de Salisbury", Hildegarda
de Bingen [Em linha]. [Consult. 2012-04-21]. Disponível em: <http://www.hildegardadebingen.com.ar/Carbo.htm>.
· DUBY, Georges, As
três ordens ou o imaginário do feudalismo, Lisboa: Editorial Estampa, 1994,
pp. 283-289.
· "John of Salisbury", Stanford Encyclopedia
of Philosophy [Em linha]. [Consult. 2012-04-17]. Disponível em: <http://plato.stanford.edu/entries/john-salisbury>.
· MCINERNY, Ralph, "The School of Chartres", A
history of Western Philosophy [Em linha]. [Consult. 2012-04-24]. Disponível
em: <https://web.archive.org/web/20141123145145/http://www3.nd.edu/Departments/Maritain/etext/hwp212.htm>.
· TAYLOR, Quentin, "John of Salisbury, the
Policraticus, and political thought", Humanitas [Em linha]. [Consult.
2012-04-22]. Disponível em: <http://www.nhinet.org/taylor19-1.pdf>.
· Policratus - Medieval
Sourcebook.
· Histoire generale
des auteurs sacrés et ecclesiastiques - Remy Ceillier.
· Hans Liebeschütz:
Humanism in the life and writings of John of Salisbury. In: Studies of the
Warburg Institute 17, Nendeln 1968.
· Stanford
Encyclopedia of Philosophy
· Catholic Encyclopedia - New Advent.
· A History of Natural Philosophy - Edward Grant.
Resumo
das Obras
· Opera omnia, editor J. A. Giles, Oxford
· Policraticus (1156), editor K. S. Keats-Rohan, Turnhout, Brepols,
1993.
· Metalogicon (v. 1175), editor J. B. Hall, 1991. Trad. an. D. D.
McGarry, The Metagogicon, Berkeley, Univ. of California Press, 1955.
· Lettres, traduzido por W.
J. Millor e outros, As cartas de João de Salisbury, Oxford, Clarendon
Press, 1986, 2 t.
Citações
de João de Salisbury
· Um
rei iletrado é um jumento coroado.
· Nós
somos anões em pé sobre os ombros do gigantes.[4]
Veja
também
Lista
de humanistas do Renascimento
Notas
1. Robert de Melun (1100-1167)
(* Inglaterra, c1100 - Cantuária, 27 de Fevereiro de 1167), foi Bispo de Cantuária de 22 de Dezembro de 1163 até sua morte. Foi sucessor
de Pedro
Abelardo na
escola de arte que ele abriu em Paris, e professor de João de
Salisbury.
2. Guillaume de Conches
(1080-1150), foi filósofo e gramático francês, estudou em Chartres e deu aulas de teologia na Univ.
de Paris.
3. Calcidius, filósofo cristão
que viveu no séc. IV, e tradutor da primeira parte de Timeu de Platão.
4. As citações foram extraídas da Wikipedia em francês.
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