Procópio
de Cesareia (em
grego: Προκόπιος ο Καισαρεύς; em latim: Procopius) foi um destacado historiador
bizantino do séc.6, cujas obras constituem a principal fonte de informação
acerca do reinado de Justiniano
I.
Biografia
À parte sua
própria obra, a fonte mais importante para o conhecimento da sua biografia é o Suda, uma
enciclopédia bizantina do séc.10. Porém nela apenas aparecem dados em relação
às origens de Procópio.[1]
Sabe-se, porém, que era originário da cidade de Cesareia, na Palestina[1].
Estudou os clássicos gregos e assistiu a uma escola de Direito, provavelmente
em Berytus (atual Beirute). Foi rhetor (advogado) e, em 527,
tornou-se assessor (conselheiro legal) de Flávio Belisário[1],
que então começava a sua brilhante carreira militar. Com ele, encontrava-se na
frente oriental quando foi derrotado na batalha de Calínico (531)[2]
, bem como foi testemunha de como Belisário reprimiu a revolta
de Nika em 532. No ano seguinte acompanhou-o na sua vitoriosa expedição
contra o reino vândalo do Norte da África, onde participou na conquista de
Cartago. Quando Belisário regressou para Constantinopla, Procópio permaneceu na
África, mas pouco depois voltou a reunir-se com ele por ocasião da sua campanha
contra o reino ostrogodo da Itália. Ali foi também testemunha de
importantes acontecimentos, como o assédio de Roma pelos ostrogodos, em
537-538, e a conquista de Ravena, capital do reino godo, por Belisário, em
Sobre a vida
posterior de Procópio nada se sabe, exceto que recebeu o título de illustris
em 560. É possível que chegasse a ser prefeito urbano de Constantinopla em
562-563 (nestes anos houve ao menos um prefeito com o mesmo nome).
Obras
Procópio é
considerado por muitos o último historiador da Antiguidade tardia. Escreveu em grego clássico,
tomando como modelos a Heródoto e a Tucídides.
O seu purismo idiomático chega ao extremo de dar uma explicação das palavras
contemporâneas que utiliza: sente-se obrigado, por exemplo, a explicar o
significado cristão da palavra ekklesia,
ou a aclarar que eram os monges. A obra de Procópio não abordou nunca o tema
eclesiástico, embora, segundo as suas próprias afirmações (
Escreveu uma
história em 8 livros a respeito das guerras da época de Justiniano, um
panegírico das suas obras públicas e a História secreta, na qual afirma
incluir todos os escândalos que não pôde consignar nas suas obras oficiais.
·
História das Guerras
História das
guerras (lat. De bellis; gr. Polemon) é uma obra dividida em 8
livros a respeito das guerras travadas pelo Império Romano durante o reinado de
Justiniano I, de muitas das quais foi Procópio testemunha presencial. Os
primeiros 7 livros parecem ter sido concluídos por volta de 545, mas foram
atualizados pouco antes da sua publicação, em 552, pois incluem referências a
acontecimentos de princípios de 551. Mais tarde, Procópio acrescentou o livro 8.º,
que relata os fatos ocorridos até 552, ano em que o general Narses destruiu definitivamente o Reino
Ostrogodo, durante a Guerra Gótica.
·
Sobre os edifícios
Sobre os
edifícios (lat.De aedificiis; gr.Peri Ktismaton) é um panegírico
acerca das numerosas obras públicas realizadas pelo imperador Justiniano.
Estruturado em 6 livros, escrito seguramente na 2.ª metade da década de 550, e
publicado em 561. Nesta obra, Justiniano é apresentado como o protótipo de
governante cristão que ergue igrejas para a glória de Deus, fortifica a cidade
para a salvaguarda dos seus súditos e demonstra uma especial preocupação pelo
abastecimento d'água.
·
História secreta
A obra mais
célebre de Procópio é a História Secreta. Embora se mencione no Suda, onde toma o
título grego de Anekdota
(composição inédita), somente se descobriu vários séculos mais tarde, na Biblioteca Vaticana, e não se editou até 1623.
Cobre os mesmos anos que os 7 primeiros livros das Guerras, e parece ter sido
escrita depois da edição dessa obra. A teoria mais aceita a situa por volta de
550, embora outros autores prefiram a data de 562. Segundo o autor, na obra
relata aquilo que não estava autorizado a escrever nas suas obras oficiais por
medo às represálias de Justiniano e Teodora.
Constitui uma
vitriólica (ácida) invectiva contra o imperador Justiniano e a sua esposa Teodora, sem esquecer o seu antigo
amigo Belisário
e a sua esposa, Antonina. As afirmações que
faz em relação a estes personagens - especialmente sobre Teodora - chegam ao
pornográfico. Contrasta fortemente a visão que do imperador oferece Procópio na
sua Sobre os edifícios com o retrato dado aqui, até o ponto de ter-se
chegado a duvidar de que fosse ele o verdadeiro autor da História secreta.
A análise do texto, porém, corrobora dum modo fidedigno esta atribuição.
Referências
·
Cfr Suda pi.2479
·
Guerras de Justiniano I.18.1-56
·
Este artigo foi inicialmente traduzido do artigo da
Wikipédia em castelhano, cujo título é
«Procopio de Cesarea».
Bibliografia
1. Henning Börm: Prokop und die Perser. Untersuchungen
zu den römisch-sasanidischen Kontakten in der ausgehenden Spätantike. Stuttgart 2007
(Oriens et Occidens 16).
2. Dariusz Brodka: Die Geschichtsphilosophie in der
spätantiken Historiographie. Studien zu Prokopios von Kaisareia, Agathias von
Myrina und Theophylaktos Simokattes. Frankfurt am Main 2004 (Studien und Texte
zur Byzantinistik 5).
3. Averil Cameron: Procopius and the Sixth Century. Berkeley 1985.
4.
James A. S. Evans:
Procopius.
5. James A. S. Evans: The dates of Procopius' works: A
recapitulation of the evidence. En: Greek, Roman and Byzantine Studies
37, 1996, pp. 301–313.
6. Geoffrey B. Greatrex: Recent work on Procopius and
the composition of Wars VIII. En: Byzantine and Modern Greek Studies
27, 2003, pp. 45–67.
7. Anthony Kaldellis: Procopius of
Ligações
externas
1. História secreta (em inglês)
2. História secreta (em inglês)
3. História secreta (em castelhano)
4. Sobre os edifícios (em inglês)
Ver
também
Agátias (536 – 582 ou 594) - "Escolástico" (Agatias Scholasticus), foi um homem de letras e historiador bizantino, e uma das fontes principais para o período do reinado de Justiniano I. Autor de poesia erótica (Daphniaca), o Ciclo de Novos Epigramas (reeditou a Anthologia Graeca, conhecida como Antologia Palatina) ou Ciclo e as Histórias (após a morte de Justiniano I em 565, uma continuação da História das Guerras de Procópio, que terminava com os eventos de 552) - A obra trata dos fatos (de 552 até 559) das campanhas dos exércitos bizantinos, no comando do general Narses, contra os Vândalos, Godos e Francos, bem como às lutas contra os persas e os hunos. O historiador Edward Gibbon contrasta a Agatias como "um poeta e retórico" com Procópio, "um estadista e soldado." Agatias obteve a sua informação através de testemunhas, ao contrário de Procópio, quem exerceu pessoalmente importantes cargos militares e políticos. Agatias (Histórias 2.31) é a única autoridade que comenta o encerramento por Justiniano da Academia Platônica (na realidade, neoplatônica) de Atenas em 529 d.C., que é frequentemente citada como a data que marca o fim da Antiguidade. Os eruditos dispersados encontraram refúgio temporário na capital persa de Ctesifonte, levando-se consigo tantos livros como pudessem transportar. Depois, recebendo garantias de segurança, regressaram para Edessa, onde um séc. depois as forças do Islã encontraram a cultura grega clássica da Antiguidade, especialmente a sua ciência e medicina.
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