DADOS
BIOGRÁFICOS
SABEMOS
MUITO pouco deste pitagórico do sul da Itália. Filolau nasceu em Crotona, pelos
meados do século V a.C, e floresceu pelo fim do século. Foi mestre de Demócrito
e de Arquitas. Diz-se que, obrigado pela pobreza, escreveu um livro sobre a
doutrina pitagórica, fato que se reveste da máxima importância, porque os
fragmentos que chegaram até nós representam o mais antigo testemunho escrito
sobre a doutrina pitagórica. Esse livro exerceu profunda influência no
pensamento de Platão, que o teria adquirido por quarenta minas.
A -
FRAGMENTOS
Trad. de Ísis L. Borges
SOBRE A
NATUREZA (DK 44 B 1-19)
1. DIÓGENES LAÉRCIO, VIU, 85.A NATUREZA FOI construída no
cosmos de (elementos) ilimitados e de limitados, tanto o cosmos como um todo
quanto todas as coisas nele (existentes).
2. ESTOBEU, Éclogas, 1, 21, 7 a.Necessariamente todas as coisas
existentes são ou limitadas ou ilimitadas, ou limitadas e ilimitadas. Mas
limitadas somente (ou apenas ilimitadas) não poderiam ser. Portanto, como
evidentemente não são na totalidade nem do limitado, nem do ilimitado, é claro
então que do limitado e do não limitado o cosmos e as coisas (existentes) nele
são constituídos. Evidenciam-no também as (coisas que são) nos atos. Pois delas
as (constituídas) de (elementos) limitados são limitadas,
as de (elementos) limitados e ilimitados são limitadas e ilimitadas, e as de
(elementos) ilimitados mostram-se ilimitadas.
3. JÂMBLICO, Nicômaco, p. 7. 24. De princípio, com efeito, nem
o para ser conhecido haverá, se tudo for ilimitado.
4. ESTOBEU, Éclogas, I, 21, 7 b. E realmente tudo que é conhecido tem número; pois nada é
possível pensar ou conhecer sem ele.
5. Idem, ibidem, 1,21,7 c.Realmente o número tem duas
formas particulares, ímpar e par, e uma terceira resultante da mistura de
ambas, a par-ímpar. Cada uma das fontes tem muitos aspectos, que cada coisa por
si revela.
6. Idem, ibidem, 1,21,7 d. Com natureza e harmonia, dá-se
o seguinte: a essência das coisas, que é eterna, e a própria natureza requerem
conhecimento divino e não humano, e seria absolutamente impossível que alguma
das coisas existentes se tornasse conhecida por nós, se não existisse a
essência das coisas das quais se constitui o cosmos, tanto das limitadas como
das ilimitadas. Mas, visto que estes princípios (1 e 2) não são iguais, nem de
iguais famílias, já seria impossível criar-se um cosmos com eles, se não se
acrescentasse a harmonia, de qualquer maneira que ela tenha vindo a ser. As coisas
iguais e de iguais famílias em nada precisam, pois, de harmonia; mas as
desiguais, não de famílias iguais e não igualmente dispostas, são
necessariamente fechadas em tal harmonia que se destinam a se conter numa
ordem.
A harmonia (oitava 1:2) abrange uma quarta (3:4) e
uma quinta (2:3); a quinta é maior que a quarta por um tom inteiro. Pois do mi
grave ao lá há uma quarta, e do lá ao mi agudo, uma quinta; do mi agudo ao si,
uma quarta, e do si ao mi grave, uma quinta; do mi agudo ao si, uma quarta, e
do si ao mi grave, uma quinta; o intervalo de lá a si é de um tom; a quarta
está na relação de 3:4; a quinta na de 2:3, e a oitava, na
de 1:2. Assim, a harmonia (oitava) (abrange) cinco tons e dois semitons; a
quinta, três tons e dois semitons, e a quarta, dois tons e um semitom.
7. Idem, ibidem, /, 22, 8. O primeiro constituído, o um, que
está no centro da esfera, chama-se lar (fogo
interno).
8. JÂMBLICO, Nicômaco, p. 77, 9. O um (unidade) é o princípio
de todas as coisas.
9. ESTOBEU, Éclogas, p.
19, 21. Por natureza e não por lei.
10. NICÔMACO, Aritmética, II, 19, p. 115, 2. A harmonia é a unificação de muitos (elementos)
misturados e a concordância dos discordantes.
11. TEO DE ESMIRNA, 206,10. Deve-se julgar as atividades e a
essência do número pela potência que existe no dez; pois ele é grande, é
o-que-tudo-cumpre e o-que-tudo-efetua, e princípio tanto da vida divina e
celeste quanto da humana. Participa... potência também do dez. Sem este, todas
as coisas são ilimitadas, obscuras e imperceptíveis.
Causa de conhecimento é a
natureza do número; capaz de dirigir e instruir todo homem, se qualquer coisa é
duvidosa e ignorada. Pois não seria evidente a ninguém nenhuma das coisas, nem
em relação consigo mesmas, nem relacionadas entre si, se não houvesse número e
sua essência. Mas, de fato, o número, harmonizando todas as coisas na alma com
a percepção, torna-as conhecidas e relacionadas entre si, de acordo com a
natureza do "gnomon", dando-lhes corpo e dividindo as relações das
coisas, cada uma por si, as ilimitadas assim como as limitadas.
Mas pode-se ver a natureza do
número e sua potência em atividade, não só nas (coisas) sobrenaturais e
divinas, mas ainda em todos os atos e palavras humanos, em qualquer parte, em
todas as produções técnicas e na música.
Nenhuma falsidade acolhem em
si a natureza do número e a harmonia, porque não é própria delas. A natureza do
ilimitado, do insensato e do irracional pertencem a falsidade e a inveja.
Falsidade de modo algum se
insinua no número: pois adversa e hostil à sua natureza (é) a falsidade,
enquanto a verdade é própria e inata à família do número.
12. IDEM, p. 18, 5 W. E os corpos (elementos) da
esfera são cinco: os (quatro existentes) na esfera: fogo, água, terra e ar, e o
navio134 da esfera, o quinto.
134 Holkas—A palavra significa "navio", e fez-se a
comparação com a estrutura do navio e não com seu movimento. Cf. J. Bumet, VAurore de h Philosophies Grecque. Payot,
Paris, 1970, pp. 339-340. (N. do T.)
13. Theologumena,
Arithmetica, p. 25, 17.(Há quatro
princípios no ser racional: cérebro, coração, umbigo e órgãos genitais). Cabeça
(é o princípio) da inteligência; coração, da alma e da sensação; umbigo, do
enraizamento e crescimento do embrião; e os órgãos genitais, da emissão do
sêmen e da criação. O cérebro (indica) o (princípio) do homem; o coração, o do
animal; o umbigo, o da planta; e os órgãos genitais, o de todos eles; pois tudo
floresce e cresce de um sêmen.
14. CLEMENTE DE ALEXANDRIA,
Tapeçarias, III, 17.Mas testemunham
também os antigos teólogos e adivinhos que por certas punições a alma está
ligada ao corpo e, como num túmulo, nele está sepultada.
15. PLATÃO, Fédon, 62 b.(Os homens estão numa prisão, são
guardados pelos deuses e constituem um de seus bens).
16. EUDEMO, Ética, B 8,1225 a 30.Há certos pensamentos mais
fortes que nós.
17. ESTOBEU, Éclogas, I,15, 7.O cosmos é um e começou a vir a
ser a partir do centro, e do centro para cima, nos mesmos intervalos (de
distância) que os de baixo. Pois o (que está) acima do centro se encontra em
oposição ao que está abaixo; pois para o (que está) muito
baixo o que está no centro constitui o mais alto, e assim o restante. Pois com
o centro ambos estão nas mesmas relações, apenas invertidos.
18. IDEM, ibidem, I,
25, 8. (Citação sobre o sol omitida.)
19.
PROCLO,
Euclides, p. 22, 9.(Platão, a doutrina
pitagórica e Filolau, na obra Bancantes,
ensinam teologia através das figuras matemáticas.)
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