quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

FILOLAU DE CROTONA (470 - 385 a.C.)




DADOS BIOGRÁFICOS
SABEMOS MUITO pouco deste pitagórico do sul da Itália. Filolau nasceu em Crotona, pelos meados do século V a.C, e floresceu pelo fim do século. Foi mestre de Demócrito e de Arquitas. Diz-se que, obrigado pela pobreza, escreveu um livro sobre a doutrina pitagórica, fato que se reveste da máxima importância, porque os fragmentos que chegaram até nós representam o mais antigo testemunho escrito sobre a doutrina pitagórica. Esse livro exerceu profunda influência no pensamento de Platão, que o teria adquirido por quarenta minas.

A - FRAGMENTOS
Trad. de Ísis L. Borges

SOBRE A NATUREZA (DK 44 B 1-19)

1. DIÓGENES LAÉRCIO, VIU, 85.A NATUREZA FOI construída no cosmos de (elementos) ilimitados e de limitados, tanto o cosmos como um todo quanto todas as coisas nele (existentes).

2. ESTOBEU, Éclogas, 1, 21, 7 a.Necessariamente todas as coisas existentes são ou limitadas ou ilimitadas, ou limitadas e ilimitadas. Mas limitadas somente (ou apenas ilimitadas) não poderiam ser. Portanto, como evidentemente não são na totalidade nem do limitado, nem do ilimitado, é claro então que do limitado e do não limitado o cosmos e as coisas (existentes) nele são constituídos. Evidenciam-no também as (coisas que são) nos atos. Pois delas as (constituídas) de (elementos) limitados são limitadas, as de (elementos) limitados e ilimitados são limitadas e ilimitadas, e as de (elementos) ilimitados mostram-se ilimitadas.

3. JÂMBLICO, Nicômaco, p. 7. 24. De princípio, com efeito, nem o para ser conhecido haverá, se tudo for ilimitado.

4. ESTOBEU, Éclogas, I, 21, 7 b. E realmente tudo que é conhecido tem número; pois nada é possível pensar ou conhecer sem ele.

5. Idem, ibidem, 1,21,7 c.Realmente o número tem duas formas particulares, ímpar e par, e uma terceira resultante da mistura de ambas, a par-ímpar. Cada uma das fontes tem muitos aspectos, que cada coisa por si revela.

6. Idem, ibidem, 1,21,7 d. Com natureza e harmonia, dá-se o seguinte: a essência das coisas, que é eterna, e a própria natureza requerem conhecimento divino e não humano, e seria absolutamente impossível que alguma das coisas existentes se tornasse conhecida por nós, se não existisse a essência das coisas das quais se constitui o cosmos, tanto das limitadas como das ilimitadas. Mas, visto que estes princípios (1 e 2) não são iguais, nem de iguais famílias, já seria impossível criar-se um cosmos com eles, se não se acrescentasse a harmonia, de qualquer maneira que ela tenha vindo a ser. As coisas iguais e de iguais famílias em nada precisam, pois, de harmonia; mas as desiguais, não de famílias iguais e não igualmente dispostas, são necessariamente fechadas em tal harmonia que se destinam a se conter numa ordem.

A harmonia (oitava 1:2) abrange uma quarta (3:4) e uma quinta (2:3); a quinta é maior que a quarta por um tom inteiro. Pois do mi grave ao lá há uma quarta, e do lá ao mi agudo, uma quinta; do mi agudo ao si, uma quarta, e do si ao mi grave, uma quinta; do mi agudo ao si, uma quarta, e do si ao mi grave, uma quinta; o intervalo de lá a si é de um tom; a quarta está na relação de 3:4; a quinta na de 2:3, e a oitava, na de 1:2. Assim, a harmonia (oitava) (abrange) cinco tons e dois semitons; a quinta, três tons e dois semitons, e a quarta, dois tons e um semitom.

7. Idem, ibidem, /, 22, 8. O primeiro constituído, o um, que está no centro da esfera, chama-se lar (fogo interno).

8. JÂMBLICO, Nicômaco, p. 77, 9. O um (unidade) é o princípio de todas as coisas.

9.    ESTOBEU, Éclogas, p. 19, 21. Por natureza e não por lei.

10.    NICÔMACO, Aritmética, II, 19, p. 115, 2. A harmonia é a unificação de muitos (elementos) misturados e a concordância dos discordantes.

11. TEO DE ESMIRNA, 206,10. Deve-se julgar as atividades e a essência do número pela potência que existe no dez; pois ele é grande, é o-que-tudo-cumpre e o-que-tudo-efetua, e princípio tanto da vida divina e celeste quanto da humana. Participa... potência também do dez. Sem este, todas as coisas são ilimitadas, obscuras e imperceptíveis.

Causa de conhecimento é a natureza do número; capaz de dirigir e instruir todo homem, se qualquer coisa é duvidosa e ignorada. Pois não seria evidente a ninguém nenhuma das coisas, nem em relação consigo mesmas, nem relacionadas entre si, se não houvesse número e sua essência. Mas, de fato, o número, harmonizando todas as coisas na alma com a percepção, torna-as conhecidas e relacionadas entre si, de acordo com a natureza do "gnomon", dando-lhes corpo e dividindo as relações das coisas, cada uma por si, as ilimitadas assim como as limitadas.

Mas pode-se ver a natureza do número e sua potência em atividade, não só nas (coisas) sobrenaturais e divinas, mas ainda em todos os atos e palavras humanos, em qualquer parte, em todas as produções técnicas e na música.

Nenhuma falsidade acolhem em si a natureza do número e a harmonia, porque não é própria delas. A natureza do ilimitado, do insensato e do irracional pertencem a falsidade e a inveja.

Falsidade de modo algum se insinua no número: pois adversa e hostil à sua natureza (é) a falsidade, enquanto a verdade é própria e inata à família do número.

12. IDEM, p. 18, 5 W. E os corpos (elementos) da esfera são cinco: os (quatro existentes) na esfera: fogo, água, terra e ar, e o navio134 da esfera, o quinto.
134 Holkas—A palavra significa "navio", e fez-se a comparação com a estrutura do navio e não com seu movimento. Cf. J. Bumet, VAurore de h Philosophies Grecque. Payot, Paris, 1970, pp. 339-340. (N. do T.)

13. Theologumena, Arithmetica, p. 25, 17.(Há quatro princípios no ser racional: cérebro, coração, umbigo e órgãos genitais). Cabeça (é o princípio) da inteligência; coração, da alma e da sensação; umbigo, do enraizamento e crescimento do embrião; e os órgãos genitais, da emissão do sêmen e da criação. O cérebro (indica) o (princípio) do homem; o coração, o do animal; o umbigo, o da planta; e os órgãos genitais, o de todos eles; pois tudo floresce e cresce de um sêmen.

14. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Tapeçarias, III, 17.Mas testemunham também os antigos teólogos e adivinhos que por certas punições a alma está ligada ao corpo e, como num túmulo, nele está sepultada.

15. PLATÃO, Fédon, 62 b.(Os homens estão numa prisão, são guardados pelos deuses e constituem um de seus bens).

16. EUDEMO, Ética, B 8,1225 a 30.Há certos pensamentos mais fortes que nós.

17. ESTOBEU, Éclogas, I,15, 7.O cosmos é um e começou a vir a ser a partir do centro, e do centro para cima, nos mesmos intervalos (de distância) que os de baixo. Pois o (que está) acima do centro se encontra em oposição ao que está abaixo; pois para o (que está) muito baixo o que está no centro constitui o mais alto, e assim o restante. Pois com o centro ambos estão nas mesmas relações, apenas invertidos.

18.    IDEM, ibidem, I, 25, 8. (Citação sobre o sol omitida.)

19.    PROCLO, Euclides, p. 22, 9.(Platão, a doutrina pitagórica e Filolau, na obra Bancantes, ensinam teologia através das figuras matemáticas.)

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