LUCRÉCIO (Lucretius,Tito Lucrécio Caro) (100 - 55 aC.)
Tito Lucrécio Caro (em latim:
Titus
Lucretius Carus; ca. 99 aC. – ca. 55 aC.) foi poeta e filósofo
latino que viveu no séc. I aC.. Nasceu ca. 99 aC. e viveu 44 anos.[1]
É
provável que tenha nascido em Roma, onde foi educado. Sua fama decorre do poema
De rerum natura (Sobre a
natureza das coisas), onde expõe a filosofia de Epicuro de Samos. Para Lucrécio,
o epicurismo era a chave que
poderia desvendar os segredos do universo e garantir a felicidade humana. Tão
entusiasmado ficou que se propôs a tarefa de libertar os romanos do domínio
religioso através do conhecimento da filosofia epicurista.
Segundo
o autor patrístico Jerônimo,
Lucrécio matou-se aos 44 anos de idade e seu poema foi escrito entre os intervalos
dos ataques de loucura.[1] A bem da verdade, as
"circunstâncias da vida e da morte de Lucrécio são desconhecidas. A
habitual informação de que ele se suicidou em razão de crises de loucura,
acrescidas de perturbações amorosas, não é plenamente confiável. Só há um
registro nesse sentido, transmitido por São Jerônimo, que, em seu tempo, foi um
grande opositor de Epicuro e do epicurismo” [2]. "Assim como Tertuliano, um dos 1.ºs Padres da Igreja, inventou a
história de que o materialista Demócrito teria furado os próprios olhos por não
suportar o desejo sexual despertado pela visão de jovens mulheres, assim também
são Jerônimo inventou que Lucrécio teria bebido uma pação de amor, enlouquecido
e escrito seu poema nos intervalos de lucidez, terminando por se suicidar. O
mínimo que um leitor atento do Sobre a Natureza das Coisas (De Rerum
Natura) pode afirmar é que essa obra jamais poderia ter sido escrita em
'intervalos de lucidez!" [3]. Seus vários livros
foram editados por Cícero.[1]
O
autor simbolista francês Marcel Schwob escreveu uma biografia ficcional sobre Lucrécio
baseado nas poucas linhas registradas por Jerônimo.
Ideias
Lucrécio
apresenta uma singular síntese de epicurismo e materialismo atomista. Sua obra
antecede muitos conceitos da física moderna, também da psicologia
contemporânea, enfim, do pensamento científico hoje aceito. Para o autor, o
mundo era guiado pela fortuna/destino/chance/acaso, não por propósitos das
divindades romanas. [4]
Para
Lucrécio, a alma é mortal. Após o decesso (morte), resta um simulacro (simulacrum),
os fantasmas que assombram os vivos. Deste modo, ele resgata a ideia epicurista
de eidolon, termo grego. Segundo Virgílio, Lucrécio afirma que o
medo da morte criou o mito da imortalidade da alma.[5]
(?)Em
De rerum natura de Lucrécio apresenta a
teoria de que a luz visível seria composta de pequenas partículas. Teoria
incompleta, apesar de bastante consistente, é uma espécie de visão antiga da
atual teoria dos fótons. Também neste poema, Lucrécio sustenta a ideia da
existência de criaturas vivas que, apesar de invisíveis, teriam a capacidade de
causar doenças. Esta ideia representa na realidade a base da microbiologia.
Além
de fonte preciosa para o conhecimento do epicurismo, o poema de Lucrécio tem
grande importância literária e seus versos consagram o autor como um dos
maiores poetas latinos.
Tradução
Seu
livro De rerum natura foi completamente traduzido para o português pelo latinista
Agostinho
da Silva, e publicado no volume V da coleção Os Pensadores da
editora Abril Cultural.
Em
2015 foi publicada uma tradução completa do latim por Luís Manuel Gaspar
Cerqueira, Lucrécio, Da Natureza das coisas, Relógio d' Água, com texto
bilíngüe.
Referências
2.
SPINELLI, Miguel. "O devotamento
de Lucrécio a Epicuro e ao epicurismo". In Os Caminhos de Epicuro.
São Paulo: Loyola, 2009, p. 215ss
3.
(CHAUÍ, M. Introdução à História da
Filosofia. Ed. Compahia das Letras, p. 253.
4.
De rerum
natura 5.107 (fortuna gubernans, "guiding chance" or "fortune at
the helm"): veja também Monica R. Gale, Myth and Poetry in Lucretius
(Cambridge University Press, 1994, 1996 reprint), pp. 213, 223–224 online and
Lucretius (Oxford University Press, 2007), p. 238
5.
VIRGÍLIO. Geórgicas, livro II.
Ligações externas
- De rerum natura , em The Latin Library
- De rerum natura - textos com concordâncias e lista de frequência
- Lucrécio e A Natureza das Coisas - Biografia fictícia de Marcel Schwob
- The Swerve: How the World Became Modern, a modern historiography by Stephen Greenblatt
- List of English translations of De rerum natura
Obra: Sobre a Natureza das Coisas
De rerum natura (Sobre a natureza das coisas) é um poema
didático, dentro do género dos periphyseos cultivado por alguns pré-socráticos gregos,
escrito no séc. I aC. por Tito Lucrécio Caro; dividido em 6 livros,
proclama a realidade do homem num universo sem deuses e tenta libertá-lo do seu
temor à morte. Expõe a física atomista de Demócrito e a filosofia moral de Epicuro.
Conteúdo do livro
O
título traduz-se do latim como Sobre a Natureza das Coisas, ainda que
por vezes chega-se a traduzir-se como Sobre a Natureza do Universo,
quiçá para refletir a escala real que se trata no livro.
A
visão de Lucrécio é bastante austera, mas no entanto incita a alguns pontos
importantes que permitem aos indivíduos um escape periódico de seus próprios
desejos e paixões para observar com compaixão a pobre humanidade em seu conjunto,
incluindo-se a si mesmo, podendo observar a ignorância, a infelicidade
reinante, e incita a um melhoramento. A responsabilidade pessoal consiste em
falar sobre a verdade pessoal que se vive. De acordo com a obra, a proposição
de verdade de Lucrécio é dirigida a uma audiência ignorante. Esperando que
alguém o escute, o compreenda e desta forma passe a semente da verdade capaz de
melhorar o mundo. Lucrécio rompe, em definitivo, com a ideia central e
metafísica de 'natureza', o que lhe confere a virtude de extraordinário avanço
na história do pensamento ocidental. 'Natureza' não é um a substância, um
estado primordial, ou, ainda, uma causa final de toda realidade. A natureza se
confunde com os próprios átomos.[1] Para Lucrécio, nada
procede do nada, por milagre divino [2] e nada retorna ao nada [3]. As coisas são
constituídas por sementes eternas, ou seja, os átomos. Eles constituem o mundo,
nada os precede [4].
Composição do poema
Neste poema épico, o
filósofo e poeta romano Lucrécio
argumenta, entre outras coisas relacionadas com a natureza, que todo o universo
é composto de pequenos átomos movendo-se num infinito vazio. O poema é composto
pelos seguintes argumentos.
·
A
substância é eterna.
o
Os
átomos movem-se num infinito vazio.
o
O
universo é composto de átomos e vazio, nada mais. (Por esta razão, Lucrécio é
visto como um atomista.)
·
A
alma do homem consiste em átomos diminutos que se dissolvem
com o húmus quando este morre.
o
Deus
existe, mas não iniciou o universo, e não lhe interessa as acções do homem.
·
Existem
outros mundos como o universo e são similares a este.
o
Devido
a sermos compostos de uma sopa de átomos em constante movimento, este mundo e
os outros não são eternos.
o
Os
outros mundos não são controlados por deuses, tal como este.
·
As
formas de vida neste mundo e nos outros estão em constante movimento,
incrementando a potência de umas formas e diminuindo a de outras.
o
O
homem deve pensar que desde o seu início selvagem tem vivido uma grande
melhoria em habilidades e conhecimentos, mas isto passará e virá uma
decadência.
·
O
que chega a saber o homem provém só dos sentidos e da razão.
o
Os
sentidos têm dependências.
o
A
razão deixa-nos a possibilidade de alcançar motivos ocultos, mas esta não está
livre de falhas e de falsas inferências. Por este motivo, as inferências devem
ser continuamente verificadas pelos sentimentos.
o
(Diferente
de Platão, que acreditava que os
sentidos poderiam ser confundidos enqto que a razão não.)
·
Os
sentimentos percebem as colisões macroscópicas e interacções dos corpos.
o
Mas
a razão infere os átomos e o vazio que os sentidos percebem.
·
O
homem evita a dor e procura tudo aquilo que lhe dá prazer.
o
Uma
pessoa normal (média) está impelida sempre para evitar as dores e buscar os
prazeres.
·
As
pessoas nascem com dois medos inatos: o medo dos deuses e o medo da morte.
o
No
entanto, os deuses não querem provocar-nos dano, a morte é fácil quando a vida
se vai.
o
Quando
alguém morre, os átomos da alma e os átomos do corpo continuam a sua essência
dando forma às rochas, lagos ou flores.
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