quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

MELISSO DE SAMOS (470 - 442 a.C.)



DADOS BIOGRÁFICOS
MELISSO, NASCIDO em Samos (ilha do mar Egeu), além de filósofo, desempenhou papel de relevância na política grega, derrotando os atenienses, em 441, com a esquadra que comandou. E só o que se sabe de sua vida. E outro polemista e defensor de Parmênides contra os pitagóricos e sobretudo contra Empédocles. Do seu poema Sobre o Ser ou Sobre a Natureza conservam-se poucos fragmentos.

A - DOXOGRAFIA
Trad. de Remberto F. Kuhnen

ARISTÓTELES, Física, IV 6. 213 b 12 (DK 30 A 8).
MELISSO TAMBÉM demonstra, partindo desses argumentos, que o todo é imóvel; pois — diz ele —, se ele se movesse, forçosamente haveria vazio, e o vazio é um não-ser. — Aristóteles. Da Geração e Corrupção, I, 8. 325 a 2: Com efeito, alguns dos antigos julgavam que o ser é necessariamente um e imóvel; o vazio é, segundo eles, o não-ser, e nele não poderia haver movimento, visto que não existe vazio separado. Acrescentam que também não pode haver pluralidade porque não há nada que separe as coisas umas das outras. Não há nenhuma diferença — dizem eles — em pretender que o todo não seja contínuo, mas que os corpos particulares nos quais ele está dividido se tocam, ou em afirmar que há pluralidade, ausência de unidade e vazio. Se o ser é divisível em toda parte, não há unidade, de maneira que também não há pluralidade, mas vazio é o todo. Mas, se o todo é divisível numa parte e indivisível noutra, esta estrutura parece ter alguma coisa de artificial; pois até que ponto e por que razão uma parte do todo se comporta assim e está cheia, enquanto a outra está dividida? Então — dizem eles —, do mesmo modo, é forçoso negar a existência do movimento. Partindo desses argumentos, deixando de lado os sentidos e negligenciando-os com o pretexto de que só se deve seguir a razão, alguns (pensadores) ensinam que o todo é um, imóvel e ilimitado, pois limite (se existisse) não poderia limitar a não ser contra o vazio.

B - FRAGMENTOS
Trad. de Ísis Lana Borges

SOBRE A NATUREZA ou SOBRE O SER (DK 30 B 1-10)

1. SIMPLÍCIO, Física, 262, 4. Sempre era o que era e sempre será. Pois, se tivesse vindo a ser, necessariamente nada seria (existiria), antes de vir a ser. Por conseguinte, se nada fosse, de modo algum algo viria a ser de nada.

2. IDEM, ibidem, 29, 22, 109, 20. Uma vez, portanto, que não veio a ser, é, sempre era e sempre será e não tem princípio, nem termo, mas é infinito. Pois, se tivesse vindo a ser, teria princípio (pois, vindo a ser, teria principiado) e termo (pois teria terminado, se tivesse vindo a ser); mas, uma vez que nem principiou, nem terminou, sempre era, sempre será e não tem princípio, nem termo; pois não é exeqüível ser sempre o que não totalmente é.

3. IDEM, ibidem, 109, 29. Mas, tal como sempre é, assim também em grandeza é necessário que sempre seja infinito.

4. IDEM, ibidem, 110, 2. Nada que tem princípio e termo é eterno ou infinito.

5. IDEM, ibidem, 210, 5. Se não fosse um, teria um limite com outro.

6. IDEM, Do Céu, 557, 14. Se fosse (infinito), seria um; pois, se fossem dois, não poderiam ser infinitos, mas teriam limites um com outro.

7. IDEM, Física, 222, 118.
(1) Assim, pois, é eterno, infinito, uno e o mesmo todo ele.
(2) Não poderia perecer, nem vir a ser maior, nem transformar-se, nem sentir dor ou desgosto, pois, se experimentasse um desses sofrimentos, já não seria uno; se se altera, necessariamente o ser não é o mesmo, mas perece o que era antes e o que não era vem a ser. Portanto, se por um só fio de cabelo em dez mil anos ele viesse a ser diferente, pereceria todo na totalidade do tempo.
(3) Mas também não é exeqüível' que em sua ordem seja transformado; pois a ordem (cosmos) que existi anteriormente não perece, e não vem a ser a que não existe. Uma vez que não recebe nenhum acréscimo, nem perece, nem se altera, em que modo dos seres, uma vez transformado, ele seria (existiria)? Pois, s viesse a ser algo diferente, então se transformaria em sua ordem.
(4) E não sente dor; pois não seria totalmente, se sentisse dor; não poderia algo que sente dor ser sempre. Também não possui força igual à do sadio. E não seria o mesmo, se sentisse dor. Pois, pela subtração o acréscimo de algo, sentiria dor, e já não seria o mesmo.
(5) O sadio não poderia sentir dor; pois pereceria o sadio e o que é, e o que não é viria a ser.
(6) E sobre o sentimento de desgosto o mesmo se di sobre o da dor.
(7) Também não há nada vazio; pois o vazio nada é; não poderia ser, pois, o que de fato nada é. E não se move; pois não pode afastar-se para lugar algum, mas é pleno. Pois, se fosse vazio, afastar-se-ia para o vazio; mas, se não há vazio, não tem para onde afastar-se.
(8) Denso e raro não poderia ser. Pois não é exeqüível o raro ser pleno da mesma maneira que o denso, mas o raro torna-se já mais vazio que o denso.
(9) A seguinte distinção necessariamente se faz do pleno e do não-pleno. Se então contém ou aceita algo, não é pleno; mas se não contém, nem aceita, é pleno. (10) Por conseguinte, necessariamente é pleno se não é vazio; portanto, se é pleno, não se move.

8. IDEM, Do Céu, 558,19.
(1) É, pois, esse argumento a mais importante prova de que (o ser) é apenas um; mas também (há) as seguintes provas: (2) Se múltiplas fossem (as coisas), necessariamente seriam tais como afirmo ser o um. Pois se há terra, água, ar, ferro e ouro, e um vivo e outro morto, e preto e branco, e todas as demais coisas, e se nós corretamente vemos e ouvimos, necessariamente cada coisa é tal como primeiramente nos pareceu, sem mudar, nem alterar-se, mas sempre é cada uma precisamente como é. Ora, dizemos que vemos, ouvimos e compreendemos corretamente; (3) e parece-nos que o quente se torna frio e o frio, quente; o duro, mole e o mole, duro; o vivo morre e vem a ser do não vivo; e tudo isso se altera; o que era e o que agora (é) em nada são semelhantes, mas o ferro, embora seja duro, gasta-se ao contato com o dedo, e ouro, pedra e tudo mais que parece ser duro; e de água tanto terra como pedra vêm a ser; assim resulta que não vemos, nem conhecemos os seres. (4) Por conseguinte, essas coisas não concordam entre si. Pois, embora afirmemos que são múltiplas, eternas (?), dotadas de forma e solidez, tudo nos parece alterar-se e mudar pelo que é visto cada vez. (5) Por conseguinte, é evidente que não vemos corretamente e que aquelas coisas não corretamente nos parecem ser múltiplas; pois não mudariam se fossem verdadeiras; mas cada uma seria precisamente tal qual parecia ser; pois nada é mais forte que o ser verdadeiro. (6) Mas, se algo muda, o que é perece e o que não é vem a ser. Assim, pois, se múltiplas fossem (as coisas), necessariamente seriam tais como o um.

9. IDEM, Física, 109, 34. Se, pois, (o ser) é, deve ser uno; e, sendo uno, não deve possuir corpo. Mas, se tivesse espessura, teria partes e já não seria uno.

10. IDEM, ibidem, 209, 32. Se o ser se divide, move-se; e, movendo-se, não poderia ser.

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