ZENÃO DE CITIUM (334 - 262 a.C.)
Zenão de Cítio (em grego clássico: Ζήνων ὁ Κιτιεύς; transl.: Zēnōn ho Kitieŭs;
Cítio, 333 a.C. — Atenas, 263 a.C.)
foi um filósofo
da Grécia Antiga. Nasceu na ilha de Chipre.[1]
Lecionou em Atenas,
onde fundou a escola filosófica estoica
por volta de 300 a.C.
Com base nas ideias dos cínicos, o estoicismo enfatizava a paz de espírito,
conquistada através de uma vida plena de virtude, de
acordo com as leis da natureza. O estoicismo floresceu como a filosofia
predominante no mundo greco-romano até o advento do cristianismo.
Vida
Zenão nasceu em Cítio, na ilha de Chipre. Possuía
origem fenícia.[2]
A maioria dos detalhes que se sabem acerca da sua vida foram preservados por Diógenes Laércio na sua obra Vidas e Doutrinas dos
Filósofos Ilustres. Diógenes relata a lenda segundo a qual Zenão seria
um comerciante e que, após sobreviver a um naufrágio na costa da Ática, teria
sido atraído por alguns escritos sobre Sócrates[3]
a um local de compra de livros em Atenas, para onde se teria transferido por
volta de 312 ou 311 a.C.
Teria perguntado como poderia encontrar tal homem. Em resposta, o livreiro
teria indicado Crates de Tebas, o mais famoso cínico vivo
naquele tempo na Grécia.[4]
Zenão é descrito como tendo uma aparência desgastada e bronzeada,[5]
levando uma vida simples e ascética.[6]
Isto coincide com os ensinamentos do cinismo, que foram, pelo menos em parte,
continuados na sua filosofia estoica.
Em Atenas, Zenão foi discípulo de Crates
de Tebas e estudou os antigos filósofos (dentre estes, Heráclito de Éfeso, que muito o influenciou).
Teve também influência da escola megárica, incluindo Estilpo,[7]
e dos dialéticos
Diodoro Cronos,[8]
e Fílon.[9]
Também é referido ter estudado filosofia platónica sob
direcção de Xenócrates,[10]
e Polemão.[11]
Zenão começou os seus ensinamentos nos pórticos cobertos da
ágora de Atenas conhecidos como Pórtico Pintado, em 301 a.C.. Os seus discípulos
foram conhecidos inicialmente como zenonianos, mas, eventualmente, começaram a
ser denominados estoicos, um nome previamente aplicado a poetas que se
congregavam no Pórtico Pintado.[12]
Entre os admiradores de Zenão, encontrava-se Antígono II Gónatas da Macedónia,[13]
que, sempre que vinha a Atenas, visitava Zenão. É referido que Zenão terá
recusado um convite para visitar Antígono na Macedónia, apesar de a sua
correspondência preservada por Laércio[14]
ser uma invenção de um retórico posterior. Zeno teria enviado o seu amigo e
discípulo Perseu de Cítio,[14]
que viveu na casa de Zenão.[15]
Entre outros discípulos de Zenão, encontravam-se Aristo de Cítio, Esfero e Cleantes
de Assos, que sucedeu Zenão como escolarca
(líder da academia) da escola estoica de Atenas.[16]
Filosofia
Seguindo as ideias da Academia platónica, Zenão propôs uma tripartição na
filosofia: lógica (incluindo retórica,
gramática
e as teorias da percepção e pensamento),
física (não apenas do ponto de vista de ciência, mas também a natureza divina
do universo) e ética. A lógica fornece um critério de verdade. A física constitui
um materialismo
monista e panteísta.
A ética regula as ações humanas, cujo objetivo é a conquista da felicidade.
Esta deve ser perseguida "segundo a natureza".
A doutrina filosófica de Zenão de Cítio afirma que o ser humano atinge a
plenitude e a felicidade quando abandona todas as paixões terrenas,
contrariedades, aborrecimentos e desassossegos. Para Zenão, a única forma de
viver sem essas contrariedades é viver em ataraxia ou apatheia, ou
seja, abandonado ao destino, impassivamente, nada receando e nada esperando.
Apesar de compartilhar diversos conceitos básicos da filosofia de Epicuro
de Samos, Zenão e o estoicismo em geral divergem do epicurismo
por entender que a virtude, e não o prazer, constitui
o bem supremo. Além disso, consideram que o
princípio-chave do universo é a lei racional da natureza, e
não e o movimento aleatório dos átomos.
Porque as ideias de Zenão foram trabalhadas posteriormente por Crisipo
de Solis e outros estoicos, pode ser difícil determinar, em algumas
temáticas, precisamente o que pensava, mas a sua visão geral pode ser resumida
abaixo.
Física
O universo,
na visão de Zenão, é Deus:[17]
uma entidade divina racional, onde todas as partes pertencem ao todo.[18]
Neste sistema panteísta, ele incorpora a física de Heráclito;
o universo contém fogo-artesão divino, que controla todas as coisas[19]
e que, estando imerso em todo o universo, deve produzir todas as coisas[19]
Este fogo divino[19]
ou éter,[20]
é a base de toda a actividade no Universo,[21]
operando em matéria anteriormente passiva, ela própria nem aumentando nem
diminuindo.[22]
A substância primária no universo vem do fogo, passa pelo estado de ar, e
depois torna-se água: a parte mais concentrada torna-se terra e a menos
concentrada torna-se ar novamente, rarefazendo-se de novo em fogo.[23]
As almas
individuais fazem parte do mesmo fogo, como a alma-mundo do universo.[24]
Seguindo Heráclito, Zenão adoptou a visão de que o universo passou
por ciclos regulares de formação e destruição.[25]
A natureza do universo é tal que realiza o que é certo e previne o que é
oposto,[26]
e é identificado como destino incondicional,[27]
ao mesmo tempo permitindo o livre-arbítrio
que lhe é atribuído.[19]
Ética
Como os cínicos,
Zenão reconhecia um bem único e simples[28]
que seria o único motivo a ser atingido.[29]
"A felicidade é um fluxo de vida bom," disse Zenão,[30]
e isto apenas pode ser atingido através do uso da razão correta coincidente com
a razão universal (logos), que tudo governa. Um mau sentimento (pathos)
"é um distúrbio da mente repugnante à razão e contra a natureza."[31]
Esta essência a partir da qual as acções moralmente boas emergem é a virtude.[32]
O verdadeiro bem pode apenas consistir em virtude.[33]
Obras
Nenhum dos escritos de Zenão sobreviveu, excepto citações fragmentárias
preservadas por escritores posteriores. Os títulos de muitos delas são, no
entanto, conhecidos[34]:
- Escritos sobre ética:
- Πολιτεία - República
- ἠθικά - Ética
- περὶ τοῦ κατὰ φύσιν βίου - Sobre o de acordo com a natureza
- περὶ ὁρμῆς ἧ περὶ ἁνθρώρου φύσεως - Sobre o impulso, ou sobre a natureza dos humanos
- περὶ παθῶν - Sobre as paixões
- περὶ τοῦ καθήκοντος - Sobre o dever
- περὶ νόμου - Sobre a lei
- περὶ Έλληνικῆς παιδείας - Sobre a educação grega
- ἐρωτικὴ τέχνη - A arte do amor
- Escritos sobre física:
- περὶ τοῦ ὅλου - Sobre o universo
- περὶ οὐσίας - Sobre o ser
- περὶ σημείων - Sobre os símbolos
- περὶ ὄψεως - Sobre a visão
- περὶ τοῦ λόγου - Sobre o logos
- Escritos sobre lógica:
- διατριϐαί - Discursos
- περὶ λεξεως - Sobre o estilo verbal
- λύσεις, ἔλεγχοι - Soluções e refutações
- Outras obras:
- περὶ ποιητικῆς ἀκροάσεως - Sobre leituras poéticas
- προϐλημάτων Όμηρικῶη πέντε - Problemas homéricos
- καθολικά - Assuntos gerais
- Άπομνημονεύματα Κράτητος - Reminiscências de Crates
- Πυθαγορικά - Doutrinas pitagóricas
A mais famosa destas obras foi A República, escrita em
imitação ou oposição a Platão. Apesar de não ter sobrevivido, mais é conhecido acerca
desta sua obra do que sobre qualquer outra obra sua. Apresenta a visão de Zenão
sobre a sociedade estoica ideal, construída sob princípios de igualdade.
Referências
- Hilton Japiassú, Danilo Marcondes (1993). 'Dicionário básico de filosofia, Zahar. p. 285. ISBN 978-85-378-0341-7.
- NICOLA, U. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. Tradução de Maria Margherita de Luca. São Paulo. Globo. 2005. p. 111.
- Diógenes Laércio, vii. 2,28,31-32
- Diógenes Laércio, vii. 2-3
- Diógenes Laércio, vii. 1
- Diógenes Laércio, vii. 26-27
- Diógenes Laércio, vii. 2, 24
- Diógenes Laércio, vii. 16, 25
- Diógenes Laércio, vii. 16
- Diógenes Laércio, vii. 2; note que Xenócrates morreu entre 314/313 a.C.
- Diógenes Laércio, vii. 2, 25
- Diógenes Laércio, vii. 5
- Diógenes Laércio, vii. 6-9, 13-15, 36; Epicteto, Discursos, ii. 13. 14-15; Simplício, in Epictetus Enchiridion, 51; Eliano, Varia Historia, ix. 26
- Diógenes Laércio, vii. 6-9
- Diógenes Laércio, vii. 13, comp. 36
- Diogenes Laércio, vii. 37
- Diógenes Laércio, vii. 148.
- Sexto Empirírico, adv. Math. ix. 104, 101; Cícero, Sobre a Natureza dos Deuses, ii. 8.
- Cícero, Sobre a Natureza dos Deuses, ii. 22.
- Cícero, Acadêmica, ii. 41.
- Cícero, Sobre a Natureza dos Deuses, ii. 9, iii. 14.
- Diógenes Laércio, vii. 150.
- Diógenes Laércio, vii. 142, comp. 136.
- Cícero, Questões Tusculanas, i. 9, Sobre a Natureza dos Deuses, iii. 14; Diógenes Laércio, vii. 156.
- Estobeu, Ecl. Phys. i.
- Cicero, Sobre a Natureza dos Deuses, i. 14.
- Diógenes Laércio, vii. 88, 148, etc., 156.
- Cícero, Acadêmica, i. 16. 2.
- Cícero, de Finibus, iii. 6. 8; comp. Diógenes Laércio, vii. 100, etc.
- Estobeu, 2.77.
- Cícero, Questões Tusculanas, iv. 6.
- Cícero, Questões Tusculanas, iv. 15.
- Diógenes Laércio, vii. 102, 127.
- Diógenes Laércio, vii. 4.
Bibliografia
· Diógenes Laércio (1988). Vidas
e doutrinas dos filósofos ilustres. [S.l.]: Universidade de Brasília.
357 páginas. ISBN 9788523002404. Consultado em
13 de janeiro de 2012
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