quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

VIRGÍLIO, MARÃO (70 - 19 a.C.)



VIRGÍLIO, MARÃO (Publius Vergilius Maro) (70 - 19 aC.)

 Públio Virgílio Maro [1] ou Marão (Publius Vergilius Maro) (Andes, 15 de outubro de 70 aC. — Brundísio, 21 de setembro de 19 aC.) foi um poeta romano clássico, autor de três grandes obras da literatura latina, as Éclogas (ou Bucólicas), as Geórgicas, e a Eneida. Uma série de poemas menores, contidos na Appendix vergiliana, são por vezes atribuídos a ele.

Virgílio é tradicionalmente considerado um dos maiores poetas de Roma, e expoente da literatura latina. Sua obra mais conhecida, a Eneida, é considerada o épico nacional da antiga Roma: segue a história de Eneias, refugiado de Troia, que cumpre o seu destino chegando às margens de Itália — na mitologia romana, o ato de fundação de Roma. A obra de Virgílio foi uma vigorosa expressão das tradições de uma nação que urgia pela afirmação histórica, saída de um período turbulento de cerca de dez anos, durante os quais as revoluções prevaleceram. Virgílio teve uma influência ampla e profunda na literatura ocidental, mais notavelmente na Divina Comédia de Dante, em que Virgílio aparece como guia de Dante pelo inferno e purgatório.

 

Vida pessoal


Estima-se que a tradição biográfica de Virgílio venha de uma biografia perdida de autoria de Varius, editor de Virgílio, que foi incorporada na biografia feita por Suetônio e os comentários dos gramáticos do século 4.º Sérvio e Élio Donato, os dois grandes comentadores da poesia de Virgílio. Embora os comentários sem dúvida registem muitas informações factuais sobre Virgílio, pode mostrar-se que algumas das suas evidências se baseiam em inferências feitas a partir de sua poesia e alegorização. Portanto, a tradição biográfica de Virgílio continua a ser problemática.[2] A tradição diz que Virgílio nasceu na vila de Andes (atual Virgílio), perto de Mântua,[3] na Gália Cisalpina.[4] Estudiosos sugerem descendência etrusca, úmbria ou até mesmo céltica, examinando os marcos linguísticos ou étnicos da região. A análise do seu nome[5] deu origem a crenças de que ele descenderia dos 1.ºs colonizadores romanos. Especulações modernas, em última análise, não são apoiadas pela evidência narrativa nem dos seus próprios escritos nem dos seus biógrafos posteriores. Ambrósio Teodósio Macróbio (séc.4) diz que o pai de Virgílio era de origem humilde; no entanto, os estudiosos em geral acreditam que Virgílio era de uma família de latifundiários equestres que puderam oferecer-lhe uma educação. Frequentou escolas em Cremona, Mediolano, Roma e Nápoles. Após um breve período de reflexão, o jovem Virgílio decide abandonar uma carreira em retórica e lei, e passar a dedicar os seus talentos à poesia.[6]

 

Obra


Amigo do poeta Horácio, como ele protegido pelo político e patrono das letras Caio Cílnio Mecenas (70 – 8 aC), entrou em contato com o imperador pela 1.ª vez quando Augusto (Caio Otávio) retornava de uma campanha vitoriosa contra Marco Antônio, ainda no porto de Brindes (Brundísio). Mecenas apresentou o jovem escritor com o intuito de fazê-lo instrumento de propaganda do imperador[7], de quem recebeu o incentivo para escrever a Eneida.

Admirador da cultura helênica, empreendeu uma viagem à Grécia, berço e viveiro da cultura, sonho que há muito acalentava: o destino concedeu-lhe a realização desse anseio, mas morreu no regresso, junto de Brundísio. O seu túmulo encontra-se em Nápoles.

A obra de Virgílio compreende, além de poemas menores, compostos na juventude, as Bucólicas ou Éclogas, em número de dez, em que reflete a influência do gênero pastoril criado por Teócrito.

As Geórgicas, dedicadas ao seu protetor Mecenas, constam de 4 livros, tratando da agricultura. Trata-se de uma obra de implicações políticas indiretas, embora bem definidas: ao fazer a apologia da vida do campo, o poeta serve o ideal político-social da dignificação da classe rural. Reflete a influência de Hesíodo e Lucrécio. Literariamente, as Geórgicas são consideradas a sua obra mais perfeita.

E finalmente, a Eneida, que o poeta considerou inacabada, a ponto de pedir, no leito de morte, que fosse queimada, constitui a Epopéia nacional. Conta a lenda do guerreiro Eneias, que, após a célebre guerra, teria fugido de Troia, saqueada e incendiada, e chegado à península Itálica, onde se tornou o antepassado do povo romano. Epopéia erudita, tem como objetivo dar aos romanos uma ascendência não-grega, definindo a cultura latina como original e não tributária da cultura helênica. O poema consta de 12 livros e a sua construção serviu de modelo definitivo às grandes Epopéias do renascimento, como para Os Lusíadas  (de Camões), o que se percebe claramente comparando o 1.º verso das duas Epopéias:
  • Eneida: Arma uirumque cano... que significa: "As armas e o varão (herói) eu canto"; com
  • Lusíadas: As armas e os barões assinalados...

 

1.ºs trabalhos


Segundo os comentaristas, Virgílio recebeu sua 1.ª educação quando tinha 5 anos de idade, indo mais tarde para Cremona, Milão e finalmente Roma para estudar retórica, medicina, e astronomia, que ele logo abandonou pela filosofia. Da admiração por Virgílio referida pelos escritores neotéricos Gaio Asino Pólio e Élvio Cinna, tem-se inferido que ele foi durante algum tempo associado ao círculo neotérico de Cátulo. Segundo a tradição, Virgílio preferia sexo com homens e especialmente amava dois jovens escravos,[8][9] entretanto colegas de Virgílio consideravam-no extremamente tímido e reservado, de acordo com Sérvio, e ele foi apelidado de "Partênias" ou "donzela" por causa de seu distanciamento social. Virgílio parece ter tido pouca saúde em toda a sua vida e em algumas aspectos viveu como um inválido. Segundo o "Catalepton", enquanto que esteve na escola epicurista de Siro, o epicurista, em Nápoles, começou a escrever poesia. Um grupo de pequenas obras atribuídas ao jovem Virgílio pelos comentadores sobrevive coletados sob o título Appendix vergiliana, mas são largamente considerados espúrios pelos estudiosos. Um deles, o Catalepton, consiste em 14 poemas curtos,[10] alguns dos quais podem ser de Virgílio, enquanto outro, um poema narrativo curto intitulado Culex ("O Mosquito"), foi atribuído a Virgílio já no séc. I da era cristã.

 

Principais Obras de Virgílio: As Éclogas, Geórgicas, A Eneida

As Éclogas

A tradição biográfica afirma que Virgílio começou o hexâmetro Éclogas (ou Bucólicas) em 42 aC. e acredita-se que a coleção foi publicada em torno de 39-38 aC., embora isto seja controverso.[10] As Éclogas (do grego "seleções") são um grupo de 10 poemas aproximadamente modelados na poesia bucólica hexamétrica ("poesia pastoral") do poeta helenístico Teócrito.
Após sua vitória na Batalha de Filipos em 42 aC., onde lutara contra o exército liderado pelos assassinos de Júlio César, Otaviano tentou pagar seus veteranos com terras expropriadas de cidades no norte da península Itálica, supostamente incluindo, segundo a tradição, uma propriedade perto de Mântua pertencente a Virgílio. A perda da fazenda de sua família e a tentativa, por meio de petições poéticas, de recuperar sua propriedade têm sido tradicionalmente consideradas como os motivos de Virgílio para a composição das Éclogas. Hoje isso é visto como uma inferência sem suporte baseada em interpretações das Éclogas. Nas Éclogas 1 e 9, Virgílio de fato dramatiza os sentimentos contrastantes causadas pela brutalidade das desapropriações de terra através da expressão pastoral, mas não oferece provas irrefutáveis do suposto incidente biográfico. Os leitores muitas vezes fazem essa relação e por vezes identificam o próprio poeta com vários personagens e suas vicissitudes, quer a gratidão de um velho rústico a um novo deus (Ecl. 1), o amor frustrado de um cantor rústico por um menino distante (o animal de estimação de seu senhor, Ecl. 2), ou o pedido de um cantor do senhor para compor várias éclogas (Ecl. 5). Os estudiosos modernos em grande parte rejeitam esses esforços para reunir dados biográficos de textos fictícios, preferindo em vez disso interpretar os diversos personagens e temas como a representação das próprias percepções contrastantes do poeta em relação à vida e pensamento de sua época.

A Eneida

Ver artigo principal: Eneida

Referências

2.       Don Fowler "Virgil (Publius Vergilius Maro)" in The Oxford Classical Dictionary, (3.ed. 1996, Oxford), p. 1602.
3.       O epitáfio de seu túmulo em Posilipo, perto de Nápoles, foi Mantua me genuit; Calabri rapuere; tenet nunc Parthenope. Cecini pascua, rura, duces ("Mântua me gerou, os calabreses me arrebataram e agora jazo em Partênope (Nápoles); cantei as pastagens [as Éclogas], o campos [as Geórgicas] e os heróis [a Eneida]"). Ver Spalding, Tassilo Orfeu (1974), Deuses e Heróis da Antiguidade Clássica: dicionário de antropônimos e teônimos vergilianos (Brazil Cultrix, com o Instituto Nacional do Livro, Ministerio da Educacão e Cultura), p. 273.
4.       «Mapa da Gália Cisalpina» (em alemão). Gottwein.de
5.       É curioso notar que o seu cognome Maro tem anagramaticamente suas letras em comum com os temas de seu épico: amor e Roma.
6.       Damen (2004), Uma Introdução a Vergílio: Sua infância e Obras (Inglês)
7.       MONTANELLI, Indro. História de Roma.2ª edição. Trad. de Luis de Moura Barbosa. São Paulo: Instituição Brasileira de Difusão Cultural, 1966, pág. 220.
8.       Williams, Craig A (1999). Roman homosexuality : ideologies of masculinity in classical antiquity Ideologies of desire ed. [S.l.]: Oxford. p. 33. ISBN 9780195125054
9.       Suetonius, Vergil 9
10.    Fowler, pg.1602

Comentários - Obras de Virgílio

Éclogas

As Éclogas, também chamadas de Bucólicas, é o 1.º dos 3 maiores trabalhos do poeta latino Virgílio.
Tomando como seu modelo genérico a Bucólica grega ("sobre o cuidado com o gado", assim chamada pelos temas rústicos da poesia) de Teócrito, Virgílio criou uma versão romana parcialmente por oferecer uma interpretação dramática e mítica da mudança revolucionária em Roma no período turbulento entre aproximadamente 44 e 38 aC.. Virgílio introduziu um clamor político amplamente ausente dos poemas de Teócritos chamados idílios ("pequenas cenas" ou "vinhetas"), apesar da turbulência erótica incomodar os panoramas "idílicos" de Teócrito.

O livro de Virgílio contém dez partes, cada uma sendo não um idílio mas uma écloga ("rascunho", "seleção" ou "cômputo"), popularizado amplamente por pastores imaginados em conversa e interpretando canto amebiano em amplos assentamentos rurais, se sofrendo ou abarcando mudanças revolucionárias ou amores felizes ou infelizes. Encenados com grande sucesso nos palcos romanos, eles marcaram uma mistura de política visionária e erotismo que tornaram Virgílio uma celebridade, lendário mesmo em vida.

Coroando uma sequência ou ciclo no qual Virgílio criou e ampliou uma nova política mitológica, a Écloga 4 chega a imaginar uma idade de ouro introduzida pelo nascimento de um menino proclamado como "grande aumento de Jove," que amarra com as suas associações divinas afirmadas na propaganda de Otávio, o herdeiro jovem e ambicioso para Júlio César. O poeta faz deste rebento ideal de Jove a ocasião de predizer sua própria metabase (mudança de assunto na retórica) até a escala na epos (poema épico), ascendendo da humilde do nível bucólico até o sublime do heroico, potencialmente rivalizando com Homero: ele deste modo sinaliza sua própria ambição para fazer o épico romano que irá culminar em Eneida. No surto de ambição, Virgílio também planeja derrotar o lendário poeta Orfeu e sua mãe, a musa épica Calíope, tão bem quanto , o inventor da flauta bucólica, mesmo na terra natal de Pã de Arcádia, que Virgílio irá afirmar como sua no clímax de seu livro na 10.ª écloga. A identificação biográfica da 4.ª criança da écloga se provou elusiva; mas a figura se provou uma ligação entre a autoridade romana tradicional e a cristandade. A conexão é 1.º feita na Oração de Constantino [1] anexada à Vida de Constantino por Eusébio de Cesareia (séc. 4) (uma leitura para a qual Dante (1265 – 1321) faz uma referência fugaz em seu Purgatório). Alguns acadêmicos também comentaram semelhanças entre os temas proféticos da éclogas e as palavras de Isaías 11:6: "uma criancinha os guiará".

Na Écloga 5 articula outro tema pastoral significativo, a preocupação do pastor-poeta em alcançar a fama mundana através da poesia. Esta preocupação está relacionada com a metabasis que o próprio Virgil assume tematicamente na Écloga 4. Na Écloga 5, os pastores Menalcas e Mopsus (mit.) lamentam a sua falecida companheira Dáfnis prometendo "louvar ... Dáfnis às estrelas - / sim, às estrelas levantar Dáfnis ". Menalcas e Mopsus elogiam Dáfnis por compaixão, mas também por obrigação. Ela desejou que seus colegas pastores o comemorassem, fazendo um "monte e acrescentando... acima do monte uma canção: Dáfnis sou eu na floresta, conhecida desde longe como as estrelas". Não só são sobreviventes de Dáfnis estão preocupados em solidificar e eternizar sua reputação poética, mas o próprio poeta-pastor morto está envolvido na autopromoção de além-túmulo através da égide de sua vontade. É uma conseqüência das rivais poéticas amistosas que ocorrem entre eles e de suas tentativas de melhorar os deuses, geralmente Pan ou Phoebus (Apolo), em seu ofício lírico. No final da Écloga 5, Dáfnis é deificada no louvor poético dos pastores: "Um deus, um deus é ele, Menalcas!" / ... Aqui estão quatro altares: / Veja, Dáfnis, dois para você e dois altos para Phoebus. " Menalcas apóstrofiza Dáfnis com uma promessa: "Sempre sua honra, nome e elogios durarão." Garantir a fama poética é um interesse fundamental dos pastores em elegias pastorais clássicas, incluindo o orador em "Lycidas" de Milton. [13]

Nas Éclogas 10, Virgílio coroa seu livro ao inventar um novo mito de autoridade e origem poética : substitui a Sicília de Teócrito e o antigo herói bucólico, o boiador apaixonado Dáfnis, com a voz apaixonada de seu amigo romano contemporâneo, o poeta elegíaco Caio Cornélio Galo, imaginado morrendo de amor em Arcádia. Virgílio transforma esta região remota, montanhosa e livre de mitos da Grécia, em pátria para o deus Pã, dentro do lugar original e ideal da canção pastoral, fundando deste modo uma tradição ricamente ressonante na arte e literatura ocidentais.

 

Ver também

 

Referências

1.        Oration of Constantine
·         Clausen, Wendell (1994). Clarendon, Oxford University Press, ed. Virgil: Eclogues. [S.l.: s.n.] ISBN 0-19-815035-0
·         Coleman, Robert, ed. (1977). Cambridge University Press, ed. Vergil: Eclogues. [S.l.: s.n.] ISBN 0-521-29107-0
·         Hornblower, Simon, and Antony Spawforth (1999). Oxford University Press, ed. The Oxford Classical Dictionary: Third Edition. [S.l.: s.n.] ISBN 0-19-866172-X
·         Hunter, Richard, ed. (1999). Cambridge University Press, ed. Theocritus: A Selection. [S.l.: s.n.] ISBN 0-521-57420-X
·         Van Sickle, John B. (2004). Duckworth, ed. The Design of Virgil's Bucolics. [S.l.: s.n.] ISBN 1-85399-676-9
·          (2011). Johns Hopkins University Press, ed. Virgil’s Book of Bucolics, the Ten Eclogues in English Verse. Framed by Cues for Reading Out-Loud & Clues for Threading Texts & Themes. [S.l.: s.n.] ISBN 0-8018-9799-8|

 

Leitura aprofundada


Ligações externas




Geórgicas

Geórgicas são um conjunto de quatro livros escritos por Virgílio.
Tal como Hesíodo, Vírgílio procura colectar de várias fontes da sociedade conhecimentos do mundo rural numa perspectiva bucólica. Dedicado aos seus dois patrocinadores, Mecenas e Otávio Augusto, compõe-se de 4 livros, cada um com cerca de 500 versos.
A Eneida

A Eneida (Aeneis em latim) é um poema épico latino escrito por Virgílio no séc. I aC.. Conta a saga de Eneias, um troiano que é salvo dos gregos em Troia, viaja errante pelo Mediterrâneo até chegar à península Itálica. Seu destino era ser o ancestral de todos os romanos [1].

 

Uma Epopéia por encomenda

Virgílio já era ilustre pelas suas Bucólicas (37 aC.), um poema pastoril, e Geórgicas (30 aC.), um poema agrícola.[1] Então, o imperador Augusto encomendou-lhe a composição de um poema épico que cantasse a glória e o poder do Império Romano. Um poema que rivalizasse e quiçá superasse Homero, e também que cantasse, indiretamente, a grandeza de César Augusto. [1] Assim Virgílio elaborou um trabalho que, além de labor lingüístico e conteúdo poético, é também propaganda política. [1]

Muitos dos episódios na Eneida, que narra um tempo mítico, têm uma correspondência síncrona com a atualidade de Augusto. Por exemplo o escudo de Eneias, simbolizando a Batalha de Áccio, quando Otaviano derrotou Marco Antônio em 31 aC. e a previsão de Anquises, no Hades, sobre as glórias de Marcelo, filho de Otávia, irmã do imperador.

Virgílio terminou de escrever Eneida em 19 aC.. A obra estava "completa" mas ainda não estava "pronta" segundo o seu criador. Virgílio gostaria ainda de visitar os lugares que apareciam no poema e revisar os versos dos cantos finais. Mas adoeceu e, às portas da morte, pediu a dois amigos que queimassem a obra por não estar ainda "perfeita". O grande poema, já conhecido de alguns amigos coevos, não foi destruído - para nossa felicidade e fortuna literária. Sem a Epopéia virgiliana, não haveria Orlando Furioso (de Ludovico Ariosto 1516), O Paraíso Perdido (de John Mlton 1667), Os Lusíadas (de Camões 1570), dentre outros clássicos da literatura mundial.

 

Ambição de Virgílio

Virgílio, ao escrever esta Epopéia, inspirou-se em Homero, tentando superá-lo: Virgílio empenhou-se em fazer da Eneida o poema mais perfeito de todos os tempos. De certa forma, a 1.ª metade (seis 1.ºs cantos) tenta superar a Odisseia, enquanto a 2.ª superar a Ilíada. A 1.ª metade é um poema de viagem e a 2.ª bélico.

 

Personagens

Há dois tipos de personagens na Eneida: os "humanos" e os "deuses". Há uma espécie de 3.ª entidade que é a do Fatum (Fado, destino) que nem os deuses podem obliterar.

 

Humanos

A Eneida tem doze capítulos - a metade do número de capítulos da Odisseia.

 

Deuses

  • Apolo, deus do Sol
  • Éolo, deus dos ventos
  • Juno, mulher de Júpiter, opositor de Eneias
  • Júpiter, o rei dos deuses
  • Mercúrio, o deus mensageiro
  • Neptuno , deus dos mares
  • Vénus, deusa do amor e da beleza, coadjuvante de Eneias

Nota: É de bom grado utilizar a terminologia latina (romana) para falar da Eneida, já que se trata de um poema romano.

 

Tempo da diegese

O tempo da diegese, ou seja, dos acontecimentos narrados, ocorre imediatamente após a queda da cidade de Troia, portanto a Eneida dá continuidade à Ilíada de Homero. Se a Odisseia narra as aventuras de um grego, de Ulisses (ou Odisseus), que tenta voltar para a sua casa e para a sua família, a Eneida narra as aventuras de um troiano que, depois da destruição de Troia, foge com a sua família. A sua fuga dá-se por mar. Eneias procura um sítio para fundar uma nova cidade.

 

Tempo do discurso

Quando o texto começa, a aventura de Eneias já se iniciou (a narrativa começa in medias res, isto é, a meio da acção). O herói naufraga ao largo de Cartago (atual Túnis, Tunísia)) e vai ter com a rainha Dido. Conta-lhe as suas viagens até ao momento em que se encontra. Esse é um processo de analepse (em inglês, flashback). A partir do quarto capítulo, o tempo da diegese é contemporâneo ao da narração do poema, ou seja os acontecimentos são narrados como se estivessem acontecendo no presente.

 

Capítulos ou cantos

I - Eneias naufraga ao largo de Cartago

Depois de partir da Sicília, Eneias é arrastado por uma tempestade que o faz naufragar. Eneias observa a cidade. Ele que vem de Troia que fora totalmente arrasada e que tem por missão fundar uma nova cidade. É recebido por Dido, rainha de Cartago. Comove-se ao ver os afrescos nas paredes que narram a guerra de Troia. Dido começa a apaixonar-se por Eneias.

 

II- Eneias narra a Dido o último dia de Troia

Dido solicita a Eneias que lhe relate a queda da lendária cidade de Troia. Ele conta o célebre episódio do Cavalo de Troia. E conta como se deu a batalha durante a noite. Como o incêndio começou a devorar a cidade. No desespero Eneias decide lutar até morrer. Vênus, sua mãe, aparece e lhe diz: "vai procurar o teu pai, a tua mulher e teu filho e abandona a cidade". A cidade é tomada pelos gregos. Eneias procura sua mulher, Creusa, gritando pelas ruas à sua procura. Encontra o espectro dela. Com muita ternura o fantasma de Creusa diz-lhe uma profecia: "que ele irá ter muitos infortúnios mas acabará por conseguir fundar uma nova cidade". Eneias consegue fugir com o seu pai às cavalitas e com o seu filho pela mão.

 

III- Eneias narra a Dido as suas viagens rumo à Itália

Eneias continua a contar a Dido as suas peripécias para chegar à península Itálica, até aportar em Cartago temporária e acidentalmente. Conta a sua escala na Trácia e em Creta. A chegada a Épiro e à Sicília. Conta também seu encontro com Andrômaca (viúva de Heitor) e como faleceu o seu pai Anquises.

 

IV- Os amores de Dido e seu fim trágico

A rainha Dido, segundo a Eneida de Virgílio, após ouvir a narração do fim de Troia e das viagens e peripécias de Eneias, influenciada por Vênus, deusa do amor e mãe de Eneias, vê-se completamente apaixonada pelo herói. Ela convida os troianos (Eneias e seus companheiros) para uma caçada. No meio de uma tempestade, abrigados em uma caverna, Dido e Eneias se amam. Entretanto Júpiter envia Mercúrio a Eneias para lhe lembrar que seu destino é encontrar o Lácio e fundar uma nova cidade que substitua a cidade de Troia destruída e que governe as demais cidades do mundo. Eneias tenta sair de Cartago sem que Dido se aperceba. Sentindo-se abandonada, enganada e vilipendiada, furiosa e ensandecida pelo amor não retribuído, ela se suicida enquanto partem os navios troianos e Eneias ainda pôde ver a fumaça da pira funérea saindo de seu palácio.

 

V- Os jogos fúnebres

Eneias aporta à Sicília e decide realizar jogos fúnebres em honra de seu pai Anquises. Já se passou um ano desde que este morreu. (Este capítulo é importante para quem estuda a antropologia dos romanos porque dá indicações de como eles se relacionavam com a morte.)

 

VI- Descida de Eneias ao Mundo dos Mortos

Este é um dos episódios mais famosos da Eneida. Depois de Eneias ter partido da Sicília fez escala em Cumas. Nesse local consulta uma sacerdotisa (uma sibila - Antes o termo era empregado como nome próprio e com o tempo passou a ser usado como comum para todas aquelas que servissem a um deus) de Apolo. Ele tem um desejo intenso (em sonhos seu pai o havia conclamado a fazê-lo) de falar uma última vez com seu pai para lhe pedir conselho sobre a viagem. Obtém permissão de descer ao mundo dos mortos (este episódio faz lembrar outras descidas famosas ao mundo dos mortos: o episódio de Orfeu e Eurídice, a nekya de Odisseu, no canto XI da Odisseia. No mundo dos mortos vê vários espectros. Um deles o de Dido que, ladeada por seu 1.º esposo, não lhe responde. O seu pai Anquises dá-lhe importantes informações sobre a sua viagem e faz uma longa profecia sobre o futuro glorioso de Roma.

 

VII- Chegada ao Lácio

(Latium (Lácio), província romana onde Roma se situará). Latino (mit.), rei do Lácio, recebe Eneias e oferece-lhe a mão de sua filha única, Lavínia, herdeira do trono. Turno (mit.), que estava apaixonado por ela, opõe-se.

 

VIII- Evandro. Descrição do escudo de Eneias

O canto VIII começa com o rio Tibre a falar com Eneias, que lhe diz que deverá fazer aliança com Evandro e o seu povo. Eneias e os troianos são recebidos por Evandro com um banquete de consagração a Hércules, Evandro conta a história do monstro Caco. Evandro leva Eneias a uma visita guiada, mostrando-lhe a cidade. Vénus suplica armas a Vulcano, seu marido. Vulcano forja então o escudo de Eneias (remetendo-nos para o episódio do escudo de Aquiles, da Ilíada de Homero). Um relâmpago dá o sinal das armas de Eneias. Palante, filho de Evandro vai então para a guerra com Eneias. Evandro suplica aos deuses que não permitam que o seu filho morra. Vénus leva as armas a Eneias. É-nos dada a descrição do escudo de Eneias, e o troiano aparece como vencedor da batalha de Áccio.

 

IX- Ataque ao acampamento troiano

Turno aproveita a ausência de Eneias e assalta o seu acampamento. Episódio admirável de amizade entre Euríalo e Niso. Turno entra na cidade pelo portão, e luta até ao rio Tibre, para o qual é forçado a saltar ainda armado, e nada até ao seu acampamento.

 

X- Façanhas e morte de Palante

Júpiter convoca um concílio dos deuses. Aquando do retorno de Eneias, há uma batalha sangrenta. Turno mata Palante.

 

XI- Funerais dos guerreiros. Façanhas de Camila

 

XII- Combate de Eneias e de Turno. Vitória de Eneias

Turno desafia Eneias para um combate singular. Os termos são aceites, mas Juturna provoca um tumulto entre os latinos, e Eneias é ferido. Vénus o cura de forma milagrosa, e Turno é forçado a duelar; o poema conclui com a morte deste.

 

Simbologias da Eneida

A Eneida simboliza o poder do Império Romano, sob o comando de Augusto.

Dido simboliza o poder de Cartago, rival de Roma, que seria por esta destruída na 3.ª Guerra Púnica. Dido também simboliza Cleópatra, rainha do Egipto, que se tinha aliado a um general romano, Marco António, para resistir a Roma. Marco António e Cleópatra foram derrotados na Batalha de Áccio, ao largo do delta do Nilo e o Egito transformado em província romana. Dido simboliza assim a mulher misteriosa e sedutora do Oriente, que resiste ao poder romano mas que por ele é submetida. Por metonímia simboliza todo o Médio Oriente e Norte de África, que foram as últimas terras a serem conquistadas pelo Império Romano. Turno simboliza os antecedentes latinos da "raça" romana, enquanto Eneias simboliza os antecedentes troianos (que são ficcionais). Eneias é uma personagem que permite dar a Roma uma ascendência mítica, juntando-se assim ao mito da fundação de Roma por Rómulo e Remo.

 

Repercussões literárias da Eneida

·          Dante Alighieri, no seu famoso episódio da descida aos infernos, é levado pela mão de Virgílio para ver os mesmos.
·          Luís de Camões inspira-se directamente neste grande épico romano para escrever os seus Os Lusíadas.
·          A CAPCOM inspira-se no autor para criar a personagem Vergil do jogo, Devil May Cry. E posteriormente em 2012 no jogo Resident Evil Revelations pode-se encontrar várias referências ao livro, além de citações diretas e ainda é possível ver um dos personagens a ler o livro.

 

Traduções


Em verso, há as seguites traduções da Eneida:
·          A Eneida de P. Vergílio Marão traduzida do latim em verso solto português por Leonel da Costa Lusitano, de 1638. Composta em decassílabos não rimados, não chegou a ser impressa nem publicada. O manuscrito autógrafo está hoje na Biblioteca Nacional de Portugal, mas pertenceu ao poeta árcade e tradutor de poesia grega e latina Antônio Ribeiro dos Santos (o árcade "Elpino Duriense"). Os 1.ºs versos desta tradução de Leonel da Costa:


As armas e o Varão insigne canto,
Que sendo fugitivo, pelo fado,
1.º das regiões da antiga Tróia
Chegou à Itália e praias de Lavino;
Ele nas terras foi mui perseguido
E por força dos Deuses no mar alto,
Por amor do furor lembrado sempre
Da fera Juno: também muitas cousas
Sofreu na guerra, até que edificasse
A Cidade e metesse em Lácio os Deuses,
Donde procede a geração Latina,
Donde os Padres Albanos e altos muros
Da famosa, soberba e altiva Roma.


·          Eneida portuguesa, de João Franco Barreto, composta em oitava-rima, primeira a ser publicada: os seis 1.ºs livros em 1664, os seis restantes em 1670 na Officina de Antonio Vicente da Silva. Foi republicada em Lisboa em 1981 em coedição da Imprensa Nacional e a Casa da Moeda, com introdução, notas, atualização e estabelecimento do texto de Justino Mendes de Almeida. Primeira oitava desta tradução, de influência camoniana:


As armas e o varão canto, piedoso,
Que 1.º de Tróia desterrado
A Itália trouxe o Fado poderoso,
E às praias de Lavino veio armado;
Aquele que, no golfo tempestuoso
E nas terras, foi muito contrastado,
Por violência dos Deuses e excessiva
Lembrada ira de Juno vingativa.


·          Eneida de Publio Virgílio Maram traduzida e ilustrada por Cândido Lusitano (alcunha árcade de Francisco José Freire). Composta entre 1769 e 1770 em decassílabos não rimados, permanece inédita e pode ser consultada na Academia das Ciências de Lisboa.

·          Eneidas de Virgílio em verso livre, de Luís Ferraz de Novais, publicadas em Lisboa em 1790 pela Officina de Fellipe José de França e Liz ("Eneidas" referem-se a "livros da Eneida", e "verso livre" significa "verso sem rima", não "verso sem metro").

·          De António José de Lima Leitão, que integra os dois volumes finais do Monumento à elevação da Colônia do Brazil a Reino e o estabelecimento do Tríplice Império Luso. As obras de Publio Virgílio Maro, em três volumes impressos e publicados no Rio de Janeiro pela Typographia Real em 1818. Composta em decassílabos não rimados, é a primeira impressa no Brasil.

·          Eneida, traduzida por José Victorino Barreto Feio (os oito 1.ºs livros) e José Maria da Costa e Silva, que completou o livro IX aproveitando todos os fragmentos do espólio de Barreto Feio, acrescentando o que faltava, e traduziu os demais (X, XI e XII). Composta em decassílabos não rimados, foi impressa entre 1845 e 1857, pela Imprensa Nacional de Lisboa (livros I a VIII) e pela Tipografia do Panorama (livros IX a XII). organizada por Paulo Sérgio de Vasconcellos, foi republicada no Brasil em 2004, pela editora Martins Fontes, de São Paulo.

·          Eneida brasileira, de Manuel Odorico Mendes, em decassílabos não rimados, cuja primeira edição é de 1854. É a primeira tradução feita por um brasileiro. Uma segunda edição, com alterações feitas pelo tradutor, foi publica em 1858 (integrando o Virgílio brasileiro: tradução completa dos três grandes poemas de Virgílio). As duas versões foram republicadas no Brasil: a de 1854, com estabelecimento do texto de Luiz Alberto Machado Cabral, pela Editora da Unicamp e Ateliê Editorial em 2005; e a de 1858, com organização de Paulo Sérgio de Vasconcellos, pela Editora da Unicamp em 2008, em edição bilíngue. Eis os versos iniciais (da primeira edição):


"Eu, que entoava na delgada avena
Rudes canções, e egresso das florestas,
Fiz que as vizinhas lavras contentassem
A avidez do colono, empresa grata
aos aldeãos, de Marte ora as horríveis
armas canto, e o varão que, lá de Troia
Prófugo, à Ilia e de Lavino às praias
Trouxe-o 1.º o fado. Em mar e em terra
Muito o agitou violenta mão suprema,
E o lembrado rancor da seva Juno;
Muito em guerras sofreu, na Ausônia quando
Funda a cidade e lhe introduz os deuses:
Donde a nação latina e albanos padres,
e os muros vêm da sublimada Roma."


·          Eneida, vertida pelo médico português João Félix Pereira, em decassílabos não rimados. Publicada em 1879 pela Typographia da Bibliotheca Universal, de Lisboa.

·          Eneida de Vergilio lida hoje, do português Coelho de Carvalho, impressa pela Livraria Ferreira Editora, de Lisboa, em 1908. Tradução em decassílabos, em oitava-rima

·          Eneida, de Carlos Alberto Nunes, lançada em 1981 por ocasião do bimilenário da morte de Virgílio, por A Montanha Edições. Foi republicada em 2014, em edição bilíngue, com organização, apresentação e notas de João Angelo Oliva Neto, pela Editora 34, de São Paulo. É a primeira – e única – tradução em português feita em hexâmetros, resultando num verso de dezesseis sílabas poéticas, cujo ritmo é a sequência de seis grupos ("pés") de sílabas, sendo cada um composto por uma sílaba tônica seguida de duas átonas (o sexto grupo, em geral, com uma tônica e apenas uma átona), no seguinte esquema: ó o o | ó o o | ó o o | ó o o | ó o o | ó o (o). Há, ainda, a ocorrência de cesura (isto é, uma pequena pausa no interior do verso), que pode ser uma (no meio no do verso), ou duas (dividindo o verso em três partes). Eis os versos iniciais:


"[Eu sou aquele que outrora || canções modulei ao compasso
da doce avena e, || saindo das selvas, || os campos vizinhos
a obedecer obriguei || à avidez do colono remisso,
nas gratas fainas da terra: o||ra os feitos horrendos de Marte]
As armas canto e o varão || que, fugindo das plagas de Troia
por injunções do Destino, ins||talou-se na Ilia 1.º
e de Lanio nas praias. || A impulso dos deuses por muito
tempo nos mares e em terras || vagou sob as iras de Juno,
guerras sem fim sustentou || para as bases lançar da cidade
e ao Lácio os deuses trazer || - o começo da gente latina,
dos pais albanos primevos || e os muros de Roma altanados."


·          do português Agostinho da Silva. Integra as Obras de Virgílio, que incluem Bucólicas e Geórgicas, todas em decassílabos não rimados. A edição é de 1993, publicada pelo Círculo de Leitores, em Lisboa. Eis os versos iniciais:


"Sou eu aquele que em passado tempo
meu canto confiei à frágil frauta
e levei a que campos meus vizinhos
ao desejo do dono obedecessem,
que bom trato agradasse ao camponês.
Sou eu agora quem celebra em canto,
nos horrores das armas de Marvote,
o varão que 1.º veio de Troia
à nossa Itália, às praias de Lania,
em fuga obedecendo a seu destino,
bem batido por mares e por terras,
pela divina força dos de cima
e por ira tenaz da crua Juno,
tanto sofrendo em guerra até fundar
a cidade que é sua, até trazer
ao Lácio os deuses, e, daí provinda,
a raça dos Latinos, avós de Alba, depois muralhas da famosa Roma."


·          Em prosa, publicaram-se as traduções de Tassilo Orpheu Spalding, Jaime Bruna e David Jardim Jr.

·          Em 2003 foi publicada em Lisboa uma tradução em prosa, pela editora Bertrand, feita por professores da Faculdade de Letras de Lisboa e coordenada pelo Professor Luís Manuel Gaspar Cerqueira, que é a versão utilizada em todas as universidades portuguesas, contando já com quatro edições em 2011.

Referências

1.        GLEESON-WHITE, Jane (2009). 50 Clássicos. que não podem faltar na sua biblioteca. 1 1 ed. Campinas: Verus. 276 páginas. ISBN 978-85-7686-061-7

Bibliografia

·         BARRETO, João Franco. Eneida Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1981.
·         VIRGÍLIO. A Eneida. Trad. por João Felix Pereira. Lisboa : Typ. Bibliotheca Universal, 1879.
·         VIRGÍLIO. Eneida Brazileira. Trad. Odorico mendes. Paris: Typ. de Rignoux, 1854.
·         VIRGÍLIO. Eneida. Trad. Carlos Aberto Nunes. Brasília: UnB, 1975;
·         VIRGÍLIO. Eneida. Trad. José Victorino Barreto Feio e José Maria da Costa e Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2004
·         VERGÌLIO, Eneida. Trad. Luis Cerqueira, Ana Alexandra Alves de Sousa, Cristina Abranches Guerreiro. Lisboa, Bertrand Editora, 2011.

Bibliografia crítica

Ligações externas


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