quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

EURÍPIDES (c.480 - 406 A.C)




Eurípides (também grafado Eurípedes; do grego antigo: Εριπίδης) (Salamina, ca. 480 a.C. — Pela, Macedônia, 406 a.C.[1]) foi um poeta trágico grego, do séc. 5 a.C., o mais jovem dos três grandes expoentes da tragédia grega clássica, que ressaltou em suas obras as agitações da alma humana e em especial a feminina. Tratou dos problemas triviais da sociedade ateniense de seu tempo, com o intuito de moderar o homem em suas ações, que se encontravam descontroladas e sem parâmetros, pois o que se firmava naquela sociedade era uma mudança de valores de tradições que atingiam diretamente no modo de pensar e agir dos homens gregos.

Vida


Pouco se sabe de sua vida, mas parece ter sido austero e pouco sociável. Apaixonado pelo debate de idéias, suas investigações e estudos lhe trouxeram mais aflições do que certezas. Alguns críticos o chamaram de "filósofo de teatro", mas não há certeza se Eurípedes, de fato, pertenceu a alguma escola filosófica, mas sim a grupos de filosófos. Contudo, parece inegável a influência do filósofo Anaxágoras de Clazômenas e também do movimento sofístico.

Ao longo da sua vida, Eurípides foi considerado quase um marginal e foi frequentemente satirizado nas comédias de Aristófanes. No final da vida, talvez desiludido com a natureza humana, viveu recluso rodeado de livros e morreu em 406 a.C., dois anos antes de Sófocles.

 

Estilo


Para Eurípides, os mitos (elementos vitais da tragédia) eram apenas coleções de histórias cuja função era perpetuar crenças sobre concepções primitivas. Por tal motivo, opta por relatar em suas tragédias a história dos negados e/ou vencidos, podendo citar como exemplo a obra As Troianas, em que o autor relata a história das mulheres da cidade de Tróia (lembrando que na época as mulheres não eram consideradas como membros da sociedade). Nisso se diferencia tanto de seus predecessores quanto rompe com características importantes aos gregos. Esse rompimento talvez lhe tenha impedido de construir peças harmônicas e perfeitas no seu conjunto, já que os mitos cumpriam muito bem esse papel de fundo. Mesmo assim, compôs cenas memoráveis e agudas análises psicológicas.

As suas peças não são acerca dos deuses ou a realeza, mas sobre pessoas reais. Colocou em cena camponeses ao lado de príncipes e deu igual peso aos seus sentimentos. Mostrou-nos a realidade da guerra, criticou a religião, falou dos excluídos da sociedade: as mulheres, os escravos e os velhos.

Em termos dramatúrgicos Eurípedes adicionou o Prólogo à peça, no qual “situa a cena” (apresenta o que se vai passar). E criou também o “deus ex machina” que servia muitas vezes para fazer o final da peça.

·    Prólogo - prologos, “o que se diz antes”; termo originalmente usado na tragédia grega para a parte anterior à entrada do coro e da orquestra, na qual se enuncia o tema da peça. Tornou-se também sinônimo de prefácio, preâmbulo, proémio, prelúdio e prormônio. Tornou-se prática comum no séc.17 e 18, geralmente em verso um ator ou narrador declamava uma mensagem do dramaturgo ao público sobre o tema. Passou tb a denominar um texto que precede ou apresenta uma obra literária. Epílogo é uma parte de um texto, no final de uma obra literária ou dramática, que constitui a sua conclusão.

·    Deus ex machina - expressão latina com origens gregas, significa literalmente "Deus surgido da máquina", utilizada para indicar uma solução inesperada, improvável e mirabolante para terminar uma obra ficcional.

Pouco se sabe sobre essa ideia, contudo muitas pessoas chegaram a considerar Eurípides como machista, pois ele enaltecia demais as mulheres de uma forma que as vezes exagerava no drama ou nas explicações para seus atos, fazendo com que as mulheres pudessem parecer "loucas". Porém essa não era a intenção dele, a real intenção era que elas parecessem bravas, admiráveis, inabaladas. [2]

Embora premiado poucas vezes (cinco) nos concursos trágicos de Atenas (Dionísias Urbanas, Lenéias), (apesar de ter escrito cerca de 92 peças), no final do séc 5 a.C., desfrutou de grande popularidade nos séculos subseqüentes, é atualmente muito mais popular que Ésquilo ou Sófocles. Os recursos dramáticos que utilizou em suas tragédias, notadamente as posteriores a 420 a.C., influenciaram diversos gêneros dramáticos posteriores, entre eles a "Comédia Nova", o drama (e também o melodrama) e a novela.

·   Festas Dionisíacas - celebrações cívico-religiosas, com concursos teatrais, competições e sociabilização, o êxtase e do vinho, uma bebida na qual se acreditava dar inspiração aos homens para a poesia e a música e aliviar suas tensões cotidianas dentro da polis. Em Atenas, eram celebradas 5 festas em honra a Dioniso: Lenéias (Gamélion, jan.-fev.), uma antiga festividade dos gregos da Jônia, ocorriam um sacrifício, uma procissão e um concurso teatral. A festa era em honra de Dionísio Lenaio. Lenaia provavelmente vem de lenai, outro nome para as mênades, as mulheres adoradoras de Dionísio./ Antestérias (Anthesterión,  fev.-mar.), demarcavam o início da primavera e seu nome provavelmente está relacionado ao florescimento (anthos) / Grandes Dionísias ou Dionísias Urbanas (Elaphebolión, março-abril), de maior prestígio no contexto das festas dionisíacas / Oscofórias (Pyanopsion (2.ª quinzena de outubro), festival da colheita das uvas, havia uma corrida de rapazes carregando ramos de parreira / Dionísias Rurais (Posídeon,  dez-jan), realizadas provavelmente em 140 demos da Ática. Acredita-se que essa festa teve início como um cortejo fálico em direção a um culto que antecederia um sacrifício.

·   Comédia Nova – com Atenas derrotada na Guerra do Peloponeso a produção teatral decaiu e peças antigas voltaram aos palcos, mas com pouca vitalidade e a preferência passou da tragédia para a comédia, ora transformada em uma farsa cômica sobre assuntos prosaicos, com destaque para o gênero do mime. O único autor importante do período é Menandro, que influenciou a comédia romana de Plauto e Terêncio. A Comédia Nova desenvolveu-se da morte de Alexandre Magno em 323 até 260 a.C. A política já não era um dos temas explorados, preferindo-se enredos que giravam em torno de identidades falsas, intrigas familiares e amorosas.

·   Melodrama - termo para diferentes significados a formas artísticas diversas e distintas dentro dos meios de comunicação de massas e arte. Originário do grego μέλος = canto ou música + δράμα = ação dramática, refere-se, algumas vezes, a um efeito utilizado na obra, outras como estilo dentro da obra e outras como gênero. Existe desde o séc. 17 principalmente na ópera, no teatro, na literatura, no circo-teatro, no cinema, no rádio e na televisão. Ele será melhor entendido se reconhecermos algumas de suas diferenças nos meios ou formas artísticas em que ocorre.

Apresentou as suas primeiras tragédias na Grande Dionisíaca de 445 a.C., mas só venceu a primeira competição em 441 a.C..

O enredo de suas tragédias foi muitas vezes aproveitado por dramaturgos modernos, como Racine, Goethe e Eugene O'Neil.

·   Jean Baptiste Racine (1639 - 1699) - poeta trágico, dramaturgo, matemático e historiador francês. É considerado, juntamente com Pierre Corneille, como um dos maiores dramaturgos clássicos da França. Entre suas peças: A Tebaida ou Os irmãos Inimigos (1664); Alexandre o Grande (1665); Andrômaca (1667); Os Litigantes (1668); Britânico(1669); Berenice (1670); Bazet (1672); Mitrídates (1673); Ifigênia em Áulida (1674); Fedra (1677); Ester (1689); Atália (1691).

·   Johann Wolfgang von Goethe (1749 - 1832) – autor, estadista e mais importante escritor alemão. Também fez incursões pelo campo da ciência natural. Como escritor, uma das mais importantes figuras da literatura alemã  e do Romantismo europeu. Obras principais: Fausto, Os Sofrimentos do Jovem Werther, Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister.

 

Obras


Eurípedes foi o último dos três grandes autores trágicos da Atenas clássica (os outros dois foram Ésquilo e Sófocles). Especialistas estimam que Eurípedes tenha escrito 95 peças, embora quatro delas provavelmente tenham sido escritas por Crítias. Ele foi autor do maior número de peças trágicas da Grécia que chegaram até nós: dezoito no total (de Ésquilo e Sófocles sobreviveram, de cada um, sete peças completas). Hoje, é amplamente aceito que Rhesus, tida como a décima nona peça completa, possivelmente não seja de Eurípedes.[3] Fragmentos, algumas substanciais, da maioria das outras peças também sobreviveram.

 

Tragédias


  1. Alceste (438 a.C., segundo prêmio)
  2. Medeia (431 a.C., terceiro prêmio)
  3. Os Heráclidas (c. 430 a.C.)
  4. Hipólito (428 a.C., primeiro prêmio)
  5. Andrômaca (c. 425 a.C.)
  6. Hécuba (c. 424 a.C.)
  7. As Suplicantes (c. 423 a.C.)
  8. Electra [Há uma outra tragédia grega, homônima de Eurípedes (o Electra, de Sófocles)]. (c. 420 a.C.)
  9. Héracles (c. 416 a.C.)
  10. As Troianas (415 a.C., segundo prêmio)
  11. Ifigênia em Táuris (c. 414 a.C.)
  12. Íon (c. 413 a.C.)
  13. Helena (412 a.C.)
  14. As Fenícias (c. 410 a.C., segundo prêmio)
  15. Orestes (408 a.C.)
  16. As Bacantes e Ifigénia em Áulide (405 a.C., póstumas, primeiro prêmio)

 

Tragédias incompletas

As peças abaixo chegaram até nós de forma fragmentada; algumas consistem apenas de um punhado de linhas, embora alguns fragmentos sejam tão extensos que é possível uma reconstrução tentativa [4]



 

Drama satírico

 

Drama apócrifo

Esta tragédia, de acordo com a maior parte dos eruditos modernos, não é de Eurípides, e sim de um tragediógrafo anônimo do séc.4 a.C..
  • Reso (c. 350 a.C.)

 

Referências

1.        Segundo Pausânias (geógrafo), Eurípedes morreu e foi sepultado na Macedônia. Ver Descrição da Grécia, 1.2.2
2.        «Eurípides - Dramaturgo Grego». www.turismogrecia.info.
3.        Halsall, Paul. "Ancient History Sourcebook: 11th Britannica: Euripides
4.        Veja Euripides: Selected Fragmentary Plays (Aris and Phillips 1995) ed. C. Collard, M.J. Cropp and K.H. Lee.

 

Bibliografia

1.        Kovacs, D. Euripidea. Leiden: Brill, 1994.
2.        Lefkowitz, M.R. The Lives of the Greek Poets. London: Duckworth, 1981.


PEÇAS

Alceste é, na mitologia grega, uma princesa célebre pelo amor por seu marido. Filha de Pélias, rei de Iolco, sua mãe foi Anaxíbia, filha de Bias ou Filômaca, filha de Anfião [1].

Seu pai a prometera àquele que fosse até ele num carro puxado por leões e javalis [2]. Admeto, rei de Feras a quem Apolo estava comprometido a servir durante um ano [Nota 1], executa a tarefa com a ajuda do deus e ganha a mão de Alceste [2]. Porém, durante o sacrifício da festa de casamento, Admeto se esquece de Ártemis, e encontra seu quarto cheio de cobras [2]. Apolo sugere que ele tente apaziguar a deusa, e consegue fazer com que as Parcas o poupem, com a condição de que, no momento de sua morte, outro se sacrifique voluntariamente por ele [2]. Admeto não se preocupa muito com essa condição pensando em todos seus servos que lhe deviam favores e que gostavam muito dele e fica muito alegre com a nova esperança. No momento de sua morte, porém, ninguém se habilita, nem seus velhos pais; apenas Alceste oferece-se como substituta [2]. Admeto tinha muito amor à vida, mas não desejava mantê-la a tal custo. Porém a condição das Parcas fora satisfeita e enquanto Admeto ia recuperando as forças, Alceste adoecia. Hércules, que passava por lá ouve o lamento dos servos que não queriam perder uma querida senhora e tão dedicada esposa, espera na porta do quarto de Alceste a chegada da Morte. Quando esta chega Hércules a agarra e obriga-a a desistir de seu intento de roubar a vida de Alceste. Assim ela vai se recuperando e pôde continuar a viver ao lado de seu amado marido.

Seu filho Eumelo levou oito navios para a Guerra de Tróia [3]. Uma filha de Admeto (cuja mãe não é mencionada), Perimele, se casou com Magnes, filho de Argos (filho de Frixo) [4] o construtor do navio dos argonautas.

Referências

1.   Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, 1.9.10
2.   Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, 1.9.15
3.   Higino, Fabulae, XCVII, Os que atacaram Tróia, e o número e seus navios
4.   Hesíodo, Catálogo de Mulheres, Fragmento 16, citado por Antonino Liberal, xxiii, Battys

Notas

·    Apolo foi punido por Zeus após ter matado os cíclopes que tinham feito os raios para Zeus, irritado porque Zeus tinha usado um raio para matar Asclépio, ver Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, 3.10.4

Medeia, data de 431 a.C. Nela foi apresentado o retrato psicológico de uma mulher carregada de amor e ódio a um só tempo. Medeia representa um novo tipo de personagem na tragédia grega, como esposa repudiada e estrangeira perseguida, ela se rebela contra o mundo que a rodeia, rejeitando conformismo tradicional. Tomada de fúria terrível, mata os filhos que teve com o marido, para vingar-se dele e automodificar-se. É vista como uma das figuras femininas mais impressionantes da dramaturgia universal.
"A Medeia, apresentada nas Grandes Dionísias de 431 a.C. justamente com mais duas tragédias e um drama satírico que se perderam, não era a primeira peça de Eurípides... Mas é talvez a mais antiga das tragédias conservadas." [1]
Considerada chocante para os seus contemporâneos, Medeia foi a última das peças apresentadas no festival Dionísico no ano de 2002. [2] Não obstante, a peça continuou a fazer parte do repertório teatral de tragédias e experimentou um interesse renovado com o surgimento do movimento feminista, atendendo ao tema da decisão de uma mulher, Medeia, sobre a sua própria vida num mundo dominado pelos homens. A peça manteve-se como a tragédia grega mais frequentemente encenada ao longo do séc. 20. [3]

Produção e inovações estilísticas

Medeia teve a primeira encenação em 431 a.C. no festival de Dionísio. Neste festival, todos os anos, três dramaturgos competiam entre si, cada um escrevendo uma tetralogia, tendo Eurípides apresentado além de Medeia três peças que se perderam: as tragédias Filotetes e Díctis e a sátira Theristai. Em 431 a.C., a competição foi entre Eufórion (o filho do famoso dramaturgo Ésquilo), Sófocles (o principal rival de Eurípides) e Eurípides. Eufórion ganhou, e Eurípides foi o último classificado.
A forma da peça difere de muitas outras tragédias gregas pela sua simplicidade: todas as cenas envolvem apenas dois atores, Medeia e outra pessoa. Estes encontros servem para destacar o talento e a determinação de Medeia em manipular poderosas figuras masculinas para atingir os seus próprios fins. A peça é também a única tragédia grega em que um assassino de familiares fica impune no final e o único sobre o assassínio de crianças em que a acção é executada a sangue frio e não em estado de insanidade temporária.[4]

Resumo

Medeia centra-se na vontade de vingança de uma esposa contra o marido infiel. A história passa-se em Corinto algum tempo depois da expedição dos Argonautas comandados por Jasão para reconquistar o Tosão de Ouro (ou Velo de Ouro), durante a qual ele conheceu Medeia. A peça começa com Medeia enraivecida com Jasão por este se casar com Glauce, filha de Creonte (rei de Corinto). A Ama, ouvindo a angústia de Medeia, teme o que ela poderá fazer a si mesma ou aos seus filhos.
Creonte, antecipando a ira de Medeia, chega e revela a sua decisão de mandá-la para o exílio. Medeia implora o adiamento por um dia da expulsão, acabando Creonte por concordar. A seguir Jasão chega para explicar e justificar a sua aparente traição. Ele explica que não podia deixar perder a oportunidade de casar com uma princesa, sendo Medeia apenas uma mulher bárbara, mas espera um dia juntar as duas famílias e manter Medeia como sua amante. Medeia e o Coro das mulheres coríntias, não acreditam nele. Ela lembra-lhe que ela deixou o seu próprio povo por ele ("Eu sou a mãe dos teus filhos. Para onde posso fugir, uma vez que toda a Grécia odeia os bárbaros?"), e que ela o salvou e matou o dragão. Jasão promete apoiá-la após seu novo casamento, mas Medeia rejeita-o: "Celebra as tuas núpcias. Que ainda pode ser que, com o auxílio do deus, se diga que casarás de maneira a chorares o casamento." [5]
A seguir Medeia encontra Egeu, rei de Atenas. Ele revela que apesar de casado ainda não tem filhos e que visitou o oráculo de Delfos para obter solução. Medeia conta-lhe a sua situação e implora a Egeu que a deixe ir para Atenas, que ela o ajudará a acabar com a sua infertilidade. Egeu, inconsciente do plano de vingança de Medeia, concorda.
Medeia, em seguida, fixada na ideia de assassinar Glauce e Creonte, decide envenenar alguns mantos (uma herança de família e presente do Deus do Sol Helios de quem ela é descendente) e uma coroa dourada, na esperança de que a noiva não seja capaz de resistir a usá-los e, consequentemente, ser envenenada. Medeia decide também matar os seus próprios filhos, não porque as crianças tenham feito algo de mal, mas porque sente que é a melhor forma de magoar Jasão. Ela pede a visita de Jasão mais uma vez e maliciosamente pede-lhe desculpa por contrariar a decisão dele de casar com Glauce. Quando Jasão parece convencido do arrependimento dela, Medeia convence Jasão a permitir que ela dê as vestes a Glauce na esperança de que Glauce interceda junto de Creonte para que este não obrigue os filhos ao exílio. Jasão acaba por concordar e permite que os seus filhos sejam portadores e entreguem a Glauce de presente as vestes e a coroa envenenadas.
A seguir, um mensageiro conta as mortes de Glauce e de Creonte. Quando as crianças chegaram com as vestes e a coroa, de imediato Glauce as vestiu alegremente e foi procurar o pai dela. Os venenos fizeram logo efeito e Glauce cai no chão, morrendo rapidamente. Creonte tomou-a firmemente a tentar salvá-la, mas ao entrar em contacto com as vestes e a coroa envenenadas sucumbe também.
Enquanto se regozija com o sucedido, Medeia decide dar um passo em frente. Desde que Jasão a envergonhou para tentar começar uma nova família, Medeia resolve destruir a anterior família dele, matando os próprios filhos. Medeia hesita por momentos, quando considera a dor que as mortes dos seus filhos lhe causará. No entanto, ela mantem a sua determinação de causar a Jasão a maior dor possível e sai do palco com uma faca para matar seus filhos. Enquanto o Coro lamenta a decisão dela, ouvem-se as crianças a gritar. Jasão regressa para confrontar Medeia sobre o assassínio de Creonte e Glauce e rapidamente descobre que os seus filhos foram mortos também.
Então Medeia aparece acima do palco com os corpos de seus filhos na carruagem do Deus Sol Hélios. Quando a peça foi realizada, nesta cena utilizaram o mecanismo "mechane" normalmente reservado para a colocacao em cena de um deus ou uma deusa. Medeia confronta Jasão, divertindo-se com a sua dor por ser incapaz de pegar nos seus filhos de novo.
Medeia foge para Atenas, sendo o Coro que remata a peça expressando a concretizacão da vontade dos deuses no sucedido:[6]
De muita coisa é Zeus no Olimpo o Senhor!
e muita coisa os deuses fazem sem se contar.
Vimos o que se esperava não se realizar.
P'ra o que não se sabia o deus achar caminho;
Assim vistes o drama terminar[7]

Temas

A caracterização de Medeia por Eurípides apresenta as profundas emoções da paixão, do amor e da vingança. Medeia é amplamente lida como um texto proto-feminista, na medida em que com simpatia explora as desvantagens de ser uma mulher numa sociedade patriarcal,[8] embora tenha também sido interpretada como uma expressão de atitudes misóginas.[9] Em conflito com este tom de simpatia (ou reforçando uma leitura mais negativa) está a identidade bárbara de Medeia, que iria hostilizar um público grego do século V a.C..[10]

Inovação euripidiana e reacção

Embora a peça seja considerada uma das grandes peças de teatro clássicas do ocidente, o público ateniense não reagiu muito favoravelmente e concedeu-lhe apenas o terceiro prémio no festival de Dionísio em 431 A.C.. Uma possível explicação pode ser encontrada num scholium de manuscrito da peça, que afirma que tradicionalmente os filhos de Medeia eram mortos pelos coríntios após a fuga dela;[11] A aparente invenção por Eurípides do filicídio de Medeia pode ter ofendido o seu público tal como aconteceu com o seu primeiro tratamento do mito de Hipólito.[12]
No século IV a.C., a cerâmica de figuras vermelhas do sul italiano engloba uma série de representações de Medeia que estão relacionadas com a peça de Eurípides — sendo a mais famosa um vaso de Munique. No entanto, essas representações diferem sempre consideravelmente das cenas da peça, ou são demasiado genéricas para suportar qualquer ligação directa com a peça de Eurípedes – isto pode refletir a apreciação sobre a peça. No entanto, o carácter violento e poderoso da princesa Medeia e sua dupla natureza — amorosa e destrutiva — tornou-se um padrão para os períodos posteriores da antiguidade e parece ter inspirado inúmeras adaptações, assim se tornando um cânone para as classes letradas.
Com a redescoberta do texto pelo teatro da Roma Augusta (a peça foi adaptada pelos dramaturgos Quinto Ênio, Lúcio Ácio, Ovídio, Sêneca, o jovem e Hosídio Geta, entre outros), e depois na Europa do século XVI e à luz da crítica literária moderna do século XX, Medeia tem provocado reações diferentes dos variados críticos e escritores que tentaram interpretar as reacções da sua sociedade à luz dos pressupostos genéricos do passado, proporcionando uma nova interpretação aos seus temas universais de vingança e justiça numa sociedade injusta.

Traduções

Das traduções do grego para o português, citam-se as brasileiras de Flávio Ribeiro de Oliveira e de J. A. A. Torrano (ambas em verso), e as portuguesas de Maria Helena da Rocha Pereira e de Cabral do Nascimento (em prosa).
  • EURÍPIDES. Medeia. Trad. Cabral do Nascimento. Lisboa: Inquérito, 1983;
  • EURÍPIDES. Medéia. Trad. J. A. A. Torrano. São Paulo: HUCITEC, 1991;
  • EURÍPIDES. Medeia. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Coimbra: INIC, 1991;
  • EURÍPIDES. Medéia. Trad. Flávio Ribeiro de Oliveira. São Paulo: Odysseus, 2007.

 

Produções e adaptações modernas

Teatro

Filmes

  1. Pier Paolo Pasolini adaptou a peça a filme em 1969 interpretado por Maria Callas no papel de Medeia.[14]
  2. Arturo Ripstein, realizador mexicano, adaptou o enredo ao seu filme de 2000 Así es la vida[15]

Televisão

  1. Lars von Trier dirigiu uma versão para televisão em 1988.[16]
  2. Theo van Gogh dirigiu uma versão em mini-série que foi para o ar em 2005, o ano a seguir ao seu assassinato. [17]


Os Heráclidas de Eurípides, feita por volta de 430 a.C.. A obra mostra a fuga dos filhos de Héracles, conhecidos como Heráclidas, perseguidos por Euristeu, rei de Tirinto. É a primeira de duas peças de Eurípides que sobreviveram até nossos dias e abordam o tema da família do célebre herói da mitologia grega (a outra é Héracles furioso).

Contexto

Euristeu, rei de Tirinto, fora responsável por muitos dos problemas de Héracles. Para se prevenir contra uma possível vingança dos filhos do célebre herói, Euristeu procurou assassiná-los; os Heráclidas ("filhos de Hércules") deicidiram então fugir, sob a proteção de Iolau, sobrinho de Héracles e grande amigo seu.

 

Trama

          A peça se inicia no altar de Zeus em Maratona. Copreu, trabalhando sob as ordens de Euristeu, tenta roubar as crianças a força. Demofonte, filho de Teseu toma o lado de Iolau, protegendo as crianças. Copreu ameaça retornar com um exército. Os atenienses se oferecem para proteger os Heráclidas, porém após verificar com os oráculos se descobre que só teriam sucesso se sacrificassem a vida de uma nobre virgem. Demofonte explica que gostaria de ajudar, porém sem sacrificar sua própria filha ou a de qualquer outro ateniense. Uma filha de Hércules, Macária, se oferece como sacrifício; realizada a oferenda, Hilo chega com reforços. Apesar de velho e frágil, Iolau insiste em se juntar à batalha; lá, torna-se jovem, milagrosamente, e captura Euristeu. Realiza-se um debate sobre a execução deste prisioneiro de guerra, porém há uma lei contra isso; Euristeu então conta-lhes sobre uma profecia de como seu espírito protegerá a cidade dos descendentes dos Heráclidas se o matarem e enterrá-lo, o que é feito.


Hipólito é baseada no mito de Hipólito, filho de Teseu. É marcada pelos sentimentos e atitudes extremas de seus personagens.

Hipólito (em grego: ππόλυτος; "libertador dos cavalos"[1]), na mitologia grega, é o filho de Teseu e de Hipólita rainha das amazonas, que herdou da mãe o gosto pela caça e pelos exercícios violentos. Adorava Ártemis e menosprezava Afrodite. Ela, enciumada, vingou-se fazendo Fedra, segunda esposa de Teseu, apaixonar-se por seu enteado, jovem e casto. Ao ser informado por uma serva do amor que lhe dedica a madrasta, Hipólito repele-a com veemência. Rejeitada, Fedra suicidou-se deixando uma mensagem a Teseu que acusa falsamente Hipólito de violentá-la. Teseu expulsa o rapaz e invoca a punição de Posídon que provoca um acidente com a carruagem de Hipólito. O jovem conduzia seu carro junto ao mar quando, assustado por um monstro marinho, seus cavalos precipitaram-se pelas rochas causando-lhe a morte. Enquanto Hipólito morre, ouve-se a voz de Ártemis, que revela a verdade a Teseu. Esta tragédia, "Hipólito", foi escrita por Eurípedes em 428 a.C..

Comentário:
Hipólito é uma tragédia escrita em versos para, que assim, se apresente mais ritmo em sua forma. O poema trágico provoca no leitor uma contínua emotividade.

Conhecemos as personagens através do diálogo entre elas, diálogos estes, que se passam em cinco atos, pressupondo um ar teatral à trama. O desenrolar dos fatos entre as personagens, assim como as palavras e termos eloquentes da obra nos incita a querer, não somente lê-la, mas também assisti-la.

Em todo o contexto nota-se um emaranhado de sentimentos entre as personagens que, acabam se estendendo, ao leitor. Marcada por uma iminente traição e um desfecho fatídico, é uma tragédia clássica, concretizando no leitor os sentimentos de ódio e tristeza.
 
As emoções desencadedas por esta obra nos fazem repensar sobre valores como a fidelidade, ciúmes, além de questões mundanas como a traição. Fazendo do amor um espetáculo nem sempre bem sucedido.

Traduções em Português: Há uma tradução em língua portuguesa feita por Cláudia Raquel Cravo da Silva.[1]

Referências: EURÍPIDES. Os Heráclidas. Edições 70, 2000.

Ligações externas



Andrômaca foi, na mitologia grega, esposa de Heitor e filha de Imandra. Teve um filho chamado Astíanax.

Durante a Guerra de Tróia, Aquiles matou Heitor, enquanto Astíanax foi morto pelo filho de Aquiles, Neoptólemo (Pirro). Este então tomou Andrómaca como esposa (ou serva e amante, segundo outras fontes) e, juntamente com o irmão de Heitor, Heleno, levou-a para o Epiro [carece de fontes]. Os filhos de Neoptólemo e Andrómaca foram Molosso, Pielus e Pérgamo.[1]

Depois da morte de Neoptólemo,[2] ou segundo outras versões, após o casamento deste com Hermíone (filha de Menelau e Helena) [carece de fontes], Andrómaca casou-se com Heleno, e teve com ele o filho Cestrinus.

Referências


Andrômaca (em grego antigo: Ανδρομάχη) é uma tragédia ateniense escrita por Eurípides. Conta a vida de Andrômaca como um escravo depois da Guerra de Tróia e o seu conflito com a esposa de seu mestre, Hermíone.

Hécuba foi escrita em 424 a.C.. A história se passa após a Guerra de Tróia, antes dos gregos deixarem a cidade de modo semelhante a As Troianas. Mostra a dor e o sofrimento da rainha Hécuba pela perda do filho e da filha e a vingança pela morte do primeiro.

As Suplicantes possui 1234 versos, foi representada em Atenas pela primeira vez entre -424 e -420. Nada sabemos sobre o concurso, a tetralogia ou os adversários do poeta nesse ano.

Creonte, rei de Tebas, recusa-se a entregar os corpos dos cinco chefes argivos que morreram tentando conquistar Tebas. Adrasto, o único sobrevivente, e as mães e os filhos dos heróis mortos vêm a Atenas pedir a ajuda de Teseu. Teseu recusa, inicialmente, mas acaba por se envolver em uma guerra contra os tebanos e, vencedor, recupera os corpos. Euadne, a viúva de Capaneu, lança-se na pira em que o corpo do marido é cremado.

Dramatis personae

  • Etra mãe de Teseu, filha de Piteu, rei de Trezena
  • Coro mães de Argos
  • Teseu rei de Atenas, filho de Etra e de Egeu
  • Adrasto rei de Argos, único sobrevivente dos Sete
  • Euadne viúva de Capaneu, um dos Sete
  • Ífis herói argivo, pai de Euadne
  • Atena deusa da sabedoria, protetora de Atenas
  • Arauto tebano
  • Mensageiro de Argos

Personagens mudos: filhos dos Sete contra Tebas e outros seguidores do Coro.

A cena se passa em Elêusis, perto de Atenas. No fundo, a entrada do templo de Deméter e, à frente, um altar; à direita, um rochedo.
O protagonista fazia o papel de Adrasto; o deuteragonista, o de Teseu e de Euadne; e o tritagonista representava Etra, o Arauto, o Mensageiro, Ífis e Atena.

Electra, na mitologia grega, era filha de Agamemnon e Clitemnestra, irmã de Orestes ,Crisotemi e Ifigênia. É a personagem principal de uma peça homónima de Sófocles e de outra por Eurípides, além da paródia de Ésquilo.

Electra, princesa de Micenas, é filha de Agamemnon e Clitemnestra, sendo irmã de Orestes e Ifigênia. A rainha, sua mãe, atormentada pelo sacrifício de Ifigênia, une-se ao sobrinho do esposo. Esse príncipe, Egisto, fora perseguido por Agamênon e privado de seus direitos. Retornando a Micenas durante a guerra de Tróia, une-se à rainha, com quem tem um filho, Aletes. Os dois amantes aguardam o retorno do rei para consumar a vingança.

Após o assassinato do pai por Egisto e Clitemnestra, Electra é poupada pela mãe. Mas consome-se pela perda do pai, Agamemnon, a quem adorava. Pedia aos deuses que lhe enviassem um meio de vingar sua morte. Suas preces serão atendidas por seu irmão Orestes, a quem salvou da morte em criança. Prevendo o que viria com a volta de Egisto, confiou-o em segredo a um velho preceptor, que o levou para longe de Micenas. Por tudo isto, era tratada no palácio como escrava.

Temendo que a enteada tivesse um filho que um dia pudesse vingar a morte de Agamemnon, Egisto fê-la casar-se com um pobre camponês. O marido, todavia, respeitou-lhe a virgindade. Mas é chegado o dia do retorno de Orestes. A jovem princesa o guiará até os assassinos de seu pai. Quando, após a morte de Egisto e Clitemnestra, Orestes foi envolvido e "enlouquecido" pelas erínias, ela colocou-se a seu lado e cuidou do irmão até o julgamento final no Areópago de Atenas. Após ser absolvido pelo voto de Atena, Orestes e Pílades, seu primo, partem para Táurida em busca de uma estátua de Ártemis. Lá encontraram Ifigênia como sacerdotisa de Ártemis. Retornam todos a Micenas e, após as núpcias de Orestes com Hermíone, Electra casa-se com Pílades.
O termo complexo de Electra é usado na psicanálise como a contrapartida feminina do complexo de Édipo, para designar o desejo da filha pelo pai. O termo foi proposto por Jung - contudo, Freud, por sua vez, prefere usar o termo complexo de Édipo em ambos os casos, sem fazer distinção.


Héracles, de Eurípides, era muitas vezes chamada, antigamente, de (Héracles Enlouquecido / Furioso), talvez por influência do Hercules Furens de Sêneca. A peça data aproximadamente de -415 (Diggle, 1981, p. 116). Nada se sabe dos outros dramas que o acompanharam, do concurso em que foi representado pela primeira vez e da premiação obtida.

Durante a ausência de Héracles, então envolvido com o décimo-segundo trabalho, um usurpador mata o rei de Tebas, sogro do herói, e está a ponto de matar também seus filhos, seu pai terreno e sua esposa quando Héracles retorna e salva a situação. A seguir, porém, um acesso de loucura o compele a matar a esposa e os filhos. Voltando a si, horrorizado, o herói está para se matar quando chega o amigo Teseu, rei de Atenas, que o encoraja a viver.
Note-se que o mito, na versão de Eurípides, tem uma cronologia diferente da habitual: o acesso de loucura do herói se dá depois, e não antes dos seus famosos "doze trabalhos".

 

Dramatis personae


Personagens mudos: três crianças, filhos de Héracles, e servidores de Lico.

 

Resumo


A tragédia tem 1428 versos, distribuídos por mais ou menos 57 páginas da edição de Diggle (1981), na qual este resumo se baseia.

Anfitrião, Mégara e os filhos de Héracles se abrigam, como suplicantes, no altar de Zeus. Anfitrião relata que Héracles está ausente, no Hades, em busca do cão de três cabeças, e que Lico assassinou o rei Creonte e agora governa Tebas. O tirano planeja matar os parentes de Creonte para evitar que se vinguem. Mégara está perdendo a esperança, mas Anfitrião mantém a confiança no filho (Prólogo, 1-106).

O coro lamenta a situação (Párodo, 107-139). Lico aparece, menospreza Héracles e avisa que os suplicantes esperam em vão por sua ajuda (1º Episódio, 140-315). Anfitrião refuta Lico, elogiando o filho, e lamenta que os tebanos, antes ajudados por Héracles, não o ajudem agora. Lico ordena que cerquem o altar de lenha e ateiem fogo; o coro lamenta sua velhice e incapacidade de ajudar. Mégara diz a Anfitrião que ninguém jamais retornou do Hades e que prefere morrer de forma digna, não na fogueira (1º Episódio, 316-338). Anfitrião então pede a Lico que matem a ele e a Mégara antes dos meninos e Mégara implora que lhe seja permitido vestir adequadamente os filhos antes da morte; Lico concorda. Anfitrião, desesperado, recrimina Zeus pela injustiça (1º Episódio, 339-347).

O coro elogia Héracles e conta suas façanhas; Anfitrião, Mégara e as crianças saem do palácio, onde haviam entrado (1º Estásimo, 348-450). Mégara diz que estão prontos e recorda, tristemente, os planos de Héracles para os filhos; implora que Héracles se mostre, "mesmo como sombra"; Anfitrião implora a ajuda de Zeus e se despede do coro (2º Episódio, 451-513). Nesse momento, Héracles surge em pessoa (2º Episódio, 514-522).

Informado da situação, o herói mostra espanto, indignação e determinação em acabar com Lico e seus asseclas; mas Anfitrião aconselha-o a ter prudência e a aguardar no palácio, calmamente, pois o tirano viria buscá-los daí a pouco. Héracles abraça a família, conta que teve sucesso no Hades, que também ajudou Teseu a sair de lá e entra com eles no palácio (2º Episódio, 523-636). O coro exulta a juventude, deplora a velhice e entoa uma ode vitoriosa. (2º Estásimo, 637-700). Lico aparece e pergunta por Mégara e pelas crianças; Anfitrião, astutamente, o induz a entrar no palácio (3º Episódio, 701-733). Enquanto o coro celebra, ouvem-se os gritos e lamentos de Lico. Íris e Lissa aparecem e o coro se assusta (3º Estásimo, 734-821).

As duas divindades contam que Lissa veio para enlouquecer Héracles. Lissa entra no palácio e ouvem-se os gritos de Anfitrião, enquanto o coro lamenta (4º Episódio, 822-909). O mensageiro aparece e descreve com detalhes macabros como, durante um sacrifício de purificação, Héracles enlouquecera e matara Mégara e os três filhos; só não matara Anfitrião por que Palas Atena surgira e o fizera dormir (4º Episódio, 910-1015); o coro se mostra horrorizado (4º Estásimo, 1016-1041).

Héracles acorda nos braços de Anfitrião e, diante da enormidade do que fizera, decide suicidar-se. Chega Teseu que, mesmo informado de tudo, não renega o amigo; consegue dissuadí-lo e o convence a viver e a se mudar para Atenas. Héracles pede a Anfitrião que sepulte a esposa e os filhos, promete voltar para buscá-lo e sai, amparado por Teseu (5º Episódio, 1042-1426). O coro sai a seguir (Êxodo, 1427-1428).

As Troianas, de Eurípedes, foi representada pela primeira vez em Atenas no concurso dramático das grandes Dionísias de 415 a.C. Nesta época também estava acontecendo a guerra do Peloponeso que era a guerra entre Atenas e Esparta e o autor não deixou de fazer sua crítica

As Troianas retrata o final da Guerra de Tróia a partir do feminino. Mostra o que ocorre com as prisioneiras troianas. Após a queda de Tróia, as mulheres são escravizadas e aguardam o embarque para os novos lares. Taltíbio, o arauto, anuncia que Polixena, filha de Hécuba, será sacrificada, e que seu neto Astiánax será morto; posteriormente, seu corpo é entregue a Hécuba. Helena, entre as cativas, tenta se reconciliar com Menelau enquanto espera o embarque.
Em As Troianas é contado o sofrimento das mulheres troianas sobreviventes que, feitas escravas, aguardam o momento de embarcar nas naus gregas. Além disso a peça mostra a intolerância grega ao matar brutalmente Antiânax, um bebê, filho de Heitor. Em cena, as tendas das escravas e de longe se vê a cidade queimando.
A peça tem como nós externos a guerra de Tróia, mais precisamente o fim da guerra e a vitória dos Aqueus, a cidade está em chamas sob as tochas gregas. Internamente o nó acontece quando Hécuba levanta lentamente e declara que as naus gregas estão de partida, o que significa que ela e as outras, agora, escravas irão embora e nunca mais verão umas as outras assim como a grande Tróia.
Toda tragédia grega possui como características os reconhecimentos e as peripécias. Neste trabalho monográfico pretende-se deixar claro que, geralmente, após um reconhecimento acontece uma peripécia. Hécuba reconhece a morte de sua filha Polixena e seu estado de tristeza se intensifica caracterizando a peripécia. O reconhecimento de Andrômaca e Hécuba com relação à morte iminente de Antiânax também gera maior tristeza em ambas.
O desenlace acontece após Hécuba entregar o corpo do neto para que os soldados gregos façam o sepultamento e após a ordem, dada aos soldados gregos, para que a cidade de Tróia seja totalmente destruída. Daí em diante a matriarca troiana desespera-se e tenta suicídio, mas nada impede seu fim, embarcar em uma nau grega para rumo à escravidão.
A peça de Eurípedes conta com diversos personagens, característica do autor. A divindade presente é Poseidon que atua juntamente com Palas Atena confabulando a volta tempestuosa dos gregos aos seus lares, logo no início da peça.
O coro em As Troianas é formado pelas escravas anônimas troianas e carrega o tom lamentoso da desgraça pela qual estão passando.
Hécuba é a matriarca troiana, esposa do rei Príamo e mãe de Heitor. Ela carrega o peso de ter sobrevivido em uma guerra que matou todos homens que ela amava, o esposo Príamo, os Filhos, seu infante neto Antiânax, e com a morte deles, soma-se o peso de ter Tróia em ruínas a seus pés e tudo que isso significa e terá como consequência. Hécuba revela o lado cético religioso de Eurípedes no momento que questiona Helena dizendo que a culpa era dela, Helena, e não das deusas, vingativas, ao não terem sido escolhidas por Páris no concurso de beleza proposto por Hera no casamento de Tétis. A Grécia encontrava-se, na época de Eurípedes, justamente passando por essa transformação social, o homem passa a ser culpado por seus erros e não pode recorrer aos deuses para se justificar, era julgado pelos homens. A Grécia entrava no período da razão e Eurípedes acreditava nisso.
Cassandra é filha de Hécuba e Príamo. Ela possui o dom de prever o futuro, porém quando, no passado, se recusou a servir Apolo, foi amaldiçoada por ele e desde então seus vaticínios são desacreditados por todos, apesar de sempre falar a verdade. Na peça em questão, Cassandra entoa um canto fúnebre nupcial para ela mesma e prevê as desgraças no retorno de Agamemnon e Odisseu às suas casas.
Andrômaca é o exemplo que Eurípedes dá, de como deve ser a mulher grega. Ela é mãe e esposa atenciosa, dedicada e sofre por cada gota de sangue derramado pelo seu marido, filho e povo. O papel de boa, carinho e amorosa mãe, fica claro no comovente discurso de adeus ao filho que será jogado das muralhas de Tróia a conselho de Odisseu.
Helena é a contra-parte de Andrômaca, pois abandonou o lar para viver com outro homem em outras terras, causando a guerra de Tróia e culpando os deuses por tal fato. Ela acredita que tudo que aconteceu fazia parte do destino e era a vontade de Afrodite, pois a deusa foi escolhida por Páris em um concurso de beleza e tinha lhe prometido a mais bela mulher, Helena.Embora Hécuba tenha deixado claro sua visão cética quanto a força dos deuses sobre a vontade humana, Helena convence Menelau, seu marido, com seu charme e beleza, a aceitá-la de volta ao invés de ser morta.Helena é o modelo de cidadão que os gregos não mais aceitam, pois desta época em diante, o homem deveria pagar por suas escolhas e ser julgado. Os deuses não são mais responsáveis pelas faltas cometidas pelos homens.
Em Menelau, irmão de Agamemnon e esposo de Helena, Eurípedes retrata o amor cego, a cobiça e até mesmo a resignação, pois Menelau, apesar de poderoso e homem de razão, aceita Helena de volta, embora tenha contestado seus atos e motivos que a levaram a cometê-los. Ele não resistiu aos encantos de Helena.
Taltíbio é, talvez, o personagem mais rico de Eurípedes na peça analisada aqui. A característica mais marcante do autor coube a Taltíbio, o escravo grego encarregado de mediar a situação das escravas e seus futuros senhores. Apesar de não ser de origem nobre, é possível reconhecer todas as qualidades de um herói neste personagem. Até Eurípedes, as virtudes eram guardadas aos heróis e personagens de origem nobre, porém o poeta grego inovou o teatro ao trazer, para cena, exemplos de cidadãos honrados de Atenas, mesmo eles não sendo de nascimento nobre. Taltíbio se emociona ao dar notícias funestas para Hécuba e as demais, ele condena o ato de seus senhores e ajuda, na medida do possível, a conformar e confortar as escravas com suas palavras.

Ifigênia em Tauris, na mitologia grega, era a filha mais velha de Agamemnon e Clitemnestra, irmã de Orestes e Electra e sobrinha de Menelau e Helena. Princesa de Micenas e símbolo de auto-sacrifício feminino. Seu nome significa "forte desde o nascimento".[1] Eurípedes morreu sem concluir as peças, então várias versões existem na tentativa de concluí-la seguindo as inteções originais do autor. Acredita-se que Eurípedes, o jovem, filho ou sobrinho de Eurípedes, concluiu a peça e a apresentou 400 a.C, onde ganhou o 1.º lugar pela obra.

Família:
Agamemnon e Clitemnestra tiveram um filho, Orestes, e três filhas, Crisótemis, Ifigênia e Electra.[2] Agamemnon e Menelau eram filhos de Atreu,[3][4][5][6][7] sendo sua mãe Aérope.[4][8] ou, de acordo com outras versões, filhos de Plístene, filho de Atreu.[9][10]

Clitemnestra era filha de Tíndaro e Leda; Leda teve um filho e uma filha de Zeus, Pólux e Helena, e um filho e uma filha de Tíndaro, Castor e Clitemnestra.[11] Clitemnestra havia sido casada com Tântalo, filho de Tiestes; tanto Tântalo quando o filho, recém nascido, do casal foram assassinados por Agamemnon, que, em seguida, desposara Clitemnestra.[12]

A briga entre os descendentes de Atreu e do seu irmão Tiestes começou com o adultério de Aérope, esposa de Atreu, com Tiestes.[13] Em seguida, Atreu assassinou os filhos de Tiestes, e deu para ele comer os filhos, revelando, ao final, quem ele estava comendo.[14] Tiestes engravidou sua própria filha, com quem teve um filho, Egisto; Egisto matou Atreu e entregou Micenas a Tiestes.[15] Tíndaro removeu Tiestes do trono de Micenas, entregando a cidade a Agamemnon, e casando suas duas filhas Clitemnestra e Helena, respectivamente, com Agamemnon e Menelau.[12]

Enredo Iphigenia em Tauris:
Orestes procurou o Oráculo de Delfos para descobrir como se livrar das chicotadas das Fúrias. O oráculo revelou que ele só seria libertado caso conseguisse se apossar de uma estátua de Ártemis em Táurida. Seu amigo Pílades o acompanha nessa viagem e ambos são protegidos por Atena por sua coragem. Quando chegam, Orestes tem um ataque de loucura e tenta matar os bezerros dos camponeses acreditando que eles são as Fúrias que o atormentam. Ambos são capturados e levados para serem sacrificados pela suma sacerdotisa virgem no templo de Ártemis.[17]

Ifigênia e Orestes não se reconhecem imediatamente, mas durante os ritos pré-sacrifício, ao descobrir que ele é de Micenas, questina-o se Orestes ainda está vivo. Ele diz que sim, então ela propõe que poupará sua vida caso ele entregue uma carta a Orestes. Orestes pede a seu amigo que retorne a Micenas para entregar a carta deixando lá para ser sacrificado sozinho, mas este se recusa e revela a identidade de Orestes. Após esclarecimentos, Ifigênia planeja uma fuga com sua sagacidade e engana os outros sacerdotes dizendo que o estrangeiro não serve como sacrifício por ser um matricida e por seu amigo ser cumplice e que agora deverá levar a estátua maculada para ser purificada no mar. Com a ajuda de Atenas os três conseguem fugir de volta para Micenas e derrotar quem os perseguia. Quando chegam ao palácio, Electra reencontra Ifigênia que conta o ocorrido. Quando menciona que deveria sacrificar o irmão Electra ameaça matar sua irmã, mas Orestes se revela e a salva do mal entendido. Orestes recupera sua sanidade e se torna rei, casando-se com sua prima Hermíone. Ifigênia se casa com Pílades e segue como sacerdotisa de Ártemis onde vivem em paz.[17] O destino da estátua de Ártemis ainda é disputado por mais de cinco cidades diferentes. Existem relatos de que por muitos anos diversos rituais onde eram aplicadas chicotadas em jovens até cobrir a estátua de sangue foram feitos diante dessas estátuas na tentativa de agradar a deusa.

Ion acredita-se ter sido escrita entre 414 e 412 a.C.

Segue o orfão Ion na descoberta de suas origens.

Enredo:

Creusa, filha de Erechtheus, era uma nobre nativa de Atenas. O deus Apolo a violou em uma caverna; lá  deu à luz ao filho e pretendia matá-lo por exposição (by exposure). Ela mantém tudo isso em segredo. Muitos anos depois, ela estava perto do fim da idade de ter filhos, e até agora não era capaz de ter um filho com seu marido Xuthus, um tessaliano e filho de Aeolus. Então eles viajaram para Delfos para procurar um sinal dos oráculos.

História:

Do lado de fora do templo de Apolo em Delfos, Hermes recorda o momento em que Creusa, filha de Erectheus, foi violada por Apolo em uma caverna em Long Rocks sob a Acrópole. Creusa secretamente deu à luz uma criança, a quem ela saiu em uma cesta, junto com algumas bugigangas, esperando que ele fosse devorado por bestas. Apolo enviou Hermes para levar o menino a Delfos, onde cresceu como atendente no templo. Creusa, entretanto, casou-se com o Xuthus estrangeiro, filho de Aeolus, filho de Zeus. Xuthus ganhou Creusa, ajudando os atenienses em uma guerra contra os calcidios. Xuthus e Creusa vieram a Delfos para perguntar se eles podiam ter filhos. Hermes diz que Apolo dará ao menino, logo chamado Ion, a Xuthus que o levará para casa em Atenas, onde será reconhecido por sua mãe.
Hermes entra em um bosque arborizado quando Ion chega para começar suas tarefas matinais. Quando Ion varre os degraus do templo com uma vassoura de louro, ele canta o louvor do deus que é como um pai para ele. Seus devaneios são perturbados por pássaros, que ele se afasta com suas flechas, embora sem uma ponta de arrependimento.
O Coro, formado por donzelas atenienses, chega ao templo e se maravilha com os trabalhos de pedra que representam lendas antigas. Eles se identificam para Ion como servas dos governantes atenienses e logo acham sua amante chegando nas portas do templo.
Creusa apresenta-se a Ion como a filha de Erectheus. Ion está impressionado, pois está familiarizado com as velhas histórias sobre sua família. A menção casual de Ion de Long Rocks surpreende Creusa, mas ela não revela nada de seu passado. Ela diz que ela se casou com um estrangeiro, Xuthus, que a ganhou como prêmio por ajudar os atenienses na batalha. Eles estão aqui para perguntar sobre ter filhos. Ion se apresenta como um escravo órfão que foi criado pela sacerdotisa de Apolo. Quando Creusa pergunta se ele já tentou encontrar sua mãe, ele diz que não tem sinal disso. Movido pelo pensamento de sua mãe, Creusa diz a Ion que ela veio antes de seu marido para questionar o oráculo em nome de "um amigo" que teve uma criança de Apolo, que ela abandonou. Ela veio, ela lhe diz, perguntar ao deus se o filho de sua amiga ainda está vivo. Ele teria aproximadamente sua idade agora. Ion a adverte para abandonar a consulta, dizendo que ninguém ousaria acusar o deus de tal ação em seu próprio templo. Ao ver que Xuthus se aproximava, Creusa pede a Ion para não revelar sua conversa. Xuthus chega e expressa confiança de que ele receberá boas notícias do oráculo. Ele envia Creusa com galhos de louro para fazer as voltas dos altares externos e entra no santuário. Depois que ambos saem, Ion questiona como os deuses, que punem a maldade entre os mortais, podem se comportar com comportamentos abusivos. Antes de sair para acabar com suas tarefas, ele aconselha indignadamente os deuses a não violar mulheres jovens só porque podem.
Enquanto Xuthus está dentro, o Coro dos servos de Creusa reza para Athena e Artemis, lembrando as alegrias da fertilidade e criando filhos. Recordando a história das filhas de Cecrops e Aglauros, eles concluem que as crianças nascidas dos mortais por deuses estão fadados à má sorte.
Ion retorna quando Xuthus emerge do santuário interno. Ele chama o jovem "meu garoto" e corre para abraçá-lo. Ion é cauteloso e em um ponto ele tira o arco. Xuthus explica que o deus lhe disse que a primeira pessoa que ele encontrou quando ele saiu do santuário seria seu filho. Quando Ion questiona quem sua mãe pode ser, Xuthus diz que talvez ela fosse alguém que conheceu em um festival de Bacchic. Ion aceita Xuthus como seu pai, mas pensa com saudade da mãe que ele deseja conhecer. Os servos de Creusa desejam que sua amante possa compartilhar a felicidade. Xuthus propõe que Ion volte para Atenas com ele, mas o jovem está relutante em assumir o papel de "filho bastardo de um pai importado". Ele compara a felicidade dos reis a uma fachada externa de prosperidade que mascara o medo e a suspeição interior. Quando ele diz que ele preferiria permanecer como assistente do templo, Xuthus interrompe a conversa com "O suficiente disso. Você deve aprender a ser feliz". Ion volta com ele como um convidado da casa. Quando for a hora certa, ele providenciaria que Ion seja seu herdeiro. Quando ele sai para oferecer sacrifício, ele nomeia o menino Ion porque ele o conheceu 'saindo' e diz que ele providencie um banquete para celebrar sua partida de Delfos. Ele impõe o coro para não revelar nada do que aconteceu. Ion, relutantemente, concorda em ir a Atenas, mas ele deseja conhecer sua mãe desconhecida e teme que ele não seja bem recebido.
O Coro das criadas de Creusa, suspeitando de traição, rezam pela morte de Xuthus e Ion, a quem consideram intrusos.
Creusa volta ao portão do templo acompanhado pelo tutor idoso de seu pai. Percebendo que algo está errado, Creusa pressiona suas criadas para contar o que sabem. Eles revelam que Apolo deu Ion a Xuthus como um filho enquanto ela permanecerá sem filhos. O antigo tutor especula que Xuthus descobriu que Creusa era estéril, gerou a criança por um escravo e o entregou a um delfo para criar. O velho diz a Creusa que não deve permitir que o filho bastardo de um estrangeiro herde o trono. Em vez disso, ela deve matar seu marido e seu filho para evitar mais traição. Ele se ofereceu para ajudá-la. Os criados prometem seu apoio.
Com suas esperanças no deus completamente destruído, Creusa finalmente revela o que Apolo fez com ela, em uma monografia cantada. Ela descreve como ele veio sobre ela enquanto ela estava reunindo flores - um deus brilhante que a agarrou pelos pulsos e a arrastou para uma caverna enquanto gritava por sua mãe. Ela deu à luz um filho e deixou-o na caverna com a esperança de que o deus o salvasse. Agora ela percebe que Apolo abandonou completamente ela e seu filho.
O tutor encoraja-a a vingar-se incendiando o templo de Apolo, mas ela se recusa. Quando ela também se recusa a matar seu marido, o tutor sugere que ela mate o jovem. Creusa concorda, dizendo-lhe que ela tem duas gotas do sangue de Gorgon que Erichthonius recebeu de Athena. Uma gota mata e as outras curam. Ela dá a gota mortal ao tutor para envenenar Ion durante seu banquete de despedida, então eles seguem seus caminhos separados.
O Coro reza pelo sucesso do enredo, temendo que, se ele falhar, Creusa vai ter sua própria vida antes de permitir que um estrangeiro tome conta do domínio ateniense. Eles condenam a ingratidão de Apolo que deu preferência a Xuthus sobre sua amante.
Após a música do Coro, chega um mensageiro, anunciando que a trama falhou. Ele diz a eles (em um discurso tipicamente Euripidiano) que uma multidão de Delfos está procurando por Creusa para apedrejá-la até a morte. Ele diz que Xuthus providenciou para que Ion ofereceu um banquete sob uma tenda, enquanto ele saiu para oferecer sacrifício. O mensageiro descreve a tenda do banquete, numa ekphrasis detalhada. O mensageiro então relata como o plano deu errado. Ingratiando-se com a multidão, o antigo tutor assumiu o papel de mordomo de vinho e colocou o veneno no copo de Ion como planejado; mas, assim como eles estavam prestes a beber, alguém fez um comentário de mal-agouro e Ion convidou a companhia a derramar seus copos. Quando um bando de pombas bebeu o vinho derramado, todos sobreviveram exceto a pomba que bebia o vinho destinado a Ion. O pássaro morreu em tormento, revelando a trama. Ion agarrou o velho tutor, encontrou o frasco e forçou uma confissão dele. Então, ele trouxe com sucesso uma acusação de assassinato contra Creusa em um tribunal rapidamente reunido por líderes de Delfos. Agora toda a cidade está procurando por ela.
O coro canta uma música antecipando sua morte nas mãos da multidão de Delfos.
Creusa então entra, dizendo que ela é perseguida pela multidão de Delfos. Com o conselho de seus servos, ela busca santuário no altar de Apolo, assim como Ion chega com espada na mão. Cada um acusou o outro de traição. Ele diz que ela tentou matá-lo; ela diz que ele tentou derrubar a casa de seus pais.
À medida que Ion ataca as leis que protegem os assassinos condenados (Asylum), a sacerdotisa pitoniza emerge do templo. Aconselhar Ion a ir a Atenas com seu pai, ela mostra a cesta em que foi encontrado. Ela manteve segredo todos esses anos, mas agora que o pai de Ion foi revelado, ela pode dar a ele para ajudar na busca de a mãe dele. Ion promete viajar por toda a Ásia e a Europa para buscá-la. Ela aconselha ele a começar sua busca em Delfos. Enquanto ele espreita a cesta, Ion se maravilha com o fato de que não mostra nenhum sinal de idade ou decadência. Reconhecendo a cesta, Creusa sabe imediatamente que Ion é seu filho. Ela sai do altar para abraçá-lo mesmo sob o risco de sua vida. Quando ela anuncia que ela é sua mãe, Ion a acusa de mentir. Na tentativa de desacreditá-la, ele a desafia a nomear o que está na cesta. Existe uma tecelagem inacabada com uma Gorgona no centro, cercada de serpentes como uma égide; um par de serpentes douradas em memória de Erichthonius, formado em um colar; e uma grinalda de ramos de oliveira que ainda deveria ser verde. Convencido, Ion voa para os braços de acolhimento de Creusa - seu filho morto há muito tempo voltou vivo.
Abraçando seu filho e herdeiro, Creusa expressa sua alegria. Não há chance mais improvável do que isso, diz Ion, do que descobrir que você é minha mãe. Já não tenho filhos, ela diz a ele. Quando Ion questiona-a sobre seu pai, Creusa diz-lhe com um pouco de vergonha que ele é o filho de Apolo e que, relutantemente, o abandonou em uma caverna deserta para ser presa de pássaros. Ao celebrar a mudança de sorte, Ion leva-a de lado para perguntar se talvez ela o concebeu com um pai mortal e inventou a história sobre Apolo. Afinal, Apolo disse que Xuthus era seu pai.
Convencido de que apenas Apolo pode dizer-lhe com certeza quem é seu pai, Ion começa no santuário para enfrentar o deus, mas ele é parado pela aparência da deusa Athena no telhado do templo (um exemplo de deus ex machina). Athena explica que Apolo achou melhor não se mostrar pessoalmente, para não ser culpado pelo que aconteceu, mas enviou a Athena em seu lugar para dizer a Ion que ele era o pai de Ion e Creusa é sua mãe. Athena diz a Ion que Apolo os uniu de propósito, para fornecer a Ion um lugar apropriado em uma casa nobre. Apolo planejava que Ion descobrisse a verdade depois que ele foi para Atenas, mas, como o enredo foi descoberto, ele decidiu revelar o segredo aqui para evitar que ambos matassem o outro. Athena então diz a Creusa que estabeleça Ion no antigo trono ateniense, onde ele será famoso em toda a Hellas. Ele e seus meio-irmãos estabelecerão as raças jônicas, doriana e aquéia. Apolo, conclui a deusa, conseguiu todas as coisas bem. Ao sair, Athena ordena que não digam a Xuthus, mas deixá-lo pensar que Ion é seu filho.
O testemunho da deusa convence Ion, que afirma que Apolo é seu pai e Creusa sua mãe. Por sua parte, Creusa jura que agora ele louvará Apolo porque ele devolveu o filho. Os deuses podem ser lentos para a ação, observa Athena, mas no final eles mostram sua força.

Recepção

Embora Ion não esteja entre as peças mais reverenciadas de Eurípides, alguns críticos citaram sua não convencionalidade no contexto da tragédia grega. Em The Classical Quarterly, Spencer Cole defendeu o argumento de outro estudioso de que a peça é "auto-referencial em um grau incomparável em qualquer outro lugar em Eurípides", e escreveu que Ion era o trabalho em que a vontade da tragédia de inovar era mais evidente. [1]

Helena foi produzida pela primeira vez em 412 aC para a Dionísia em uma trilogia que também continha a perdida Andromeda de Euripides. A peça tem muito em comum com Iphigenia em Tauris, uma das obras posteriores do dramaturgo.

Quadro Histórico

Helen foi escrita logo após a expedição siciliana, em que Atenas sofreu uma enorme derrota. Ao mesmo tempo, os sofistas - um movimento de professores que incorporaram a filosofia e a retórica em sua ocupação - começaram a questionar valores tradicionais e crenças religiosas. Dentro do quadro da peça, Euripides condena a guerra de forma espantosa, considerando que ela é a raiz de todo mal.

 

Background

Cerca de trinta anos antes desta peça, Herodoto argumentou em suas Histórias que Helena nunca havia chegado a Tróia, mas estava no Egito durante toda a Guerra de Tróia. A peça Helena conta uma variante desta história, começando sob a premissa de que ao invés de fugir para Tróia com Paris, ela foi realmente levada para o Egito pelos deuses. A Helena que escapou com Paris, traindo seu marido e seu país e iniciando o conflito de dez anos, era realmente um eidolon, um tipo de fantasma. Depois que foi prometida a mulher mais bonita do mundo para Páris por Afrodite e ele a julgou mais justa do que as suas deusas Athena e Hera, Hera ordenou a Hermes que substituísse Helena, prêmio de Paris, com uma falsificação. Assim, a verdadeira Helena tem ficado lânguida no Egito há anos, enquanto os gregos e os troianos também a amaldiçoam por sua suposta infidelidade.

No Egito, o rei Proteus, que havia protegido Helena, morreu. Seu filho Theoclymenus, o novo rei com uma propensão para matar gregos, pretende se casar com Helena, que depois de todos esses anos continua a ser leal ao marido Menelaus.

 

Enredo


Helen recebeu a palavra do exilado grego Teucer de que Menelaus nunca voltou para a Grécia de Tróia e está provavelmente morto, colocando-a na posição perigosa de estar disponível para Theoclymenus para se casar, e ela consulta a profetisa Theonoe, irmã de Theoclymenus, para descobrir o destino de Menelau.

Seus medos são dissipados quando um estranho chega ao Egito e acaba por ser o próprio Menelaus, e o casal seprado há muito tempo se reconhece. Em primeiro lugar, Menelaus não acredita que seja a verdadeira Helena, uma vez que ele escondeu o Helena que ele ganhou em Tróia em uma caverna. No entanto, a mulher com quem ele naufragava era, na realidade, apenas um mero fantasma da verdadeira Helena. Antes de começar a guerra de Tróia, ocorreu um julgamento, em que Paris estava envolvido. Ele deu à deusa Afrodite o prêmio da mais bonita desde que o subornou com Helen como noiva. Para se vingar de Paris, as deusas restantes, Atena e Hera, substituíram o verdadeiro Helena por um fantasma. No entanto, Menelaus não sabia nada. Mas, felizmente, um de seus marinheiros entra para informá-lo de que a falsa Helena desapareceu no ar.

O casal ainda deve descobrir como escapar do Egito, mas, felizmente, o rumor de que Menelaus morreu ainda está em circulação. Assim, Helen diz a Theoclymenus que o estranho que desembarcou era um mensageiro para lhe dizer que seu marido estava realmente morto. Ela informa ao rei que pode se casar com ele assim que ela realizou um enterro ritual no mar, liberando-a simbolicamente de seus primeiros votos de casamento. O rei concorda com isso, e Helena e Menelaus usam essa oportunidade para escapar no barco dado a eles para a cerimônia.

Theoclymenus fica furioso quando sabe do truque e quase assassina sua irmã Theonoe por não lhe dizer que Menelaus ainda estava vivo. No entanto, ele é impedido pela intervenção milagrosa dos demi-deuses Castor e Polydeuces, irmãos de Helena e os filhos de Zeus e Leda.

As Fenícias foi escrita por volta de 411 a.C.. A peça propõe um outro enfoque à saga de Édipo, escrita por Sófocles.

Conta a história da maldição da família de Édipo. Segundo a peça, tudo começou quando Cadmo, bizavô de Laio, pai de Édipo, chegou à Tebas trazendo uma maldição lançada pelo deus Ares. O oráculo de Apolo disse que Laio não poderia ter um filho homem, devido à maldição. Mas, mesmo assim, ele casou-se com Jocasta e, não resistindo à força do desejo, numa das idas ao seu leito, teve Édipo. Com medo da maldição, ele deixou o filho numa encosta do cume do monte Citéron. Lá, a criança foi achada pelos pastores e levado à casa de um rei de outras terras, o rei Pôlibo, que cuidou dele a vida toda, junto com sua esposa.

Certo dia, já crescido, Édipo quis saber sobre a sua descendência verdadeira, e foi ao oráculo de Apolo. Lá encontrou Laio, que também queria saber o paradeiro de seu filho abandonado. E, após um desentendimento, e sem saber que Laio era seu pai, Édipo o matou.

Neste mesmo período, a Esfinge castigava com crueldade a cidade de Tebas e, por isso, Creonte, irmão de Jocasta, ofereceu a coroa e a mão de sua irmã a quem pudesse decifrar o enigma da Esfinge e acabar com ela. Por um triste acaso, foi Édipo que interpretou o seu canto e casou-se com a própria mãe.

Desse casamento nasceram quatro filhos: dois homens, Etéocles e Polinices, e duas meninas, Ismene e Antígona. E quando Édipo descobriu que tivera filhos e irmãos com sua mãe, enlouquecido por esta desventura, ele perfurou os próprios olhos, e lançou uma maldição aos filhos, dizendo que eles se matariam num duelo pelo palácio. Os dois irmãos, temendo que os deuses cumprissem esta maldição paterna, convencionaram que o mais novo, Polinices, deixasse a pátria pelo período de um ano, e que o trono ficasse com Etéocles. Após este período, ele voltaria para o revesamento do poder, com iguais direitos. Só que passado este prazo, Etéocles se recusou a entregar o palácio, expulsando novamente Polinices da pátria. Desarvorado, Polinices juntou-se ao rei de Argos, o rei Ádrasto, e reuniu muitos soldados para enfim invadir Tebas e tomar o seu trono devido. Antes, Jocasta propôs uma trégua, onde os filhos pudessem resolver a querela. Só que após muito argumentarem, os dois irmãos se revoltaram e quase se mataram no próprio palácio, fazendo com que Polinices fosse novamente embora e ambos se preparassem para o duelo final.

Antes de sair, Etéocles passou algumas instruções a Creonte, entre elas que o cadáver de Polinices nunca fosse enterrado em Tebas, recebendo a pena de morte quem tivesse esta audácia, amigo ou inimigo. Entre outras decisões, Creonte ficaria com o trono caso ele não continuasse vivo. Durante este acontecimento, o adivinho Tirésias disse que o jovem Meneceu, filho de Creonte, deveria morrer para salvar Tebas, oferecendo o seu sangue pela salvação da pátria. E assim foi feito.

Etéocles e Polinices se encontraram para um duelo sangrento, que durou muito tempo, e que resultou na morte dos dois. Jocasta, avisada por um mensageiro, correu até o campo de batalha com sua filha Antígona, para tentar evitar esta tragédia, chegando tarde demais. Vendo aquela cena horrenda, ela pegou o punhal de um dos filhos e atravessou em seu pescoço, matando-se também. Antígona, desesperada, voltou ao palácio para contar a seu pai, Édipo, as tragédias que haviam ocorrido. Édipo recebeu a notícia com muita dor.

Creonte, destruído por ter perdido o filho, soube que também perdera a irmã, e que o rei Etéocles e seu irmão Polinices já não mais existiam. Com isso, sendo assim o novo rei, expôs as determinações que Etéocles havia transmitido a ele: Antigona deveria se casar com seu filho Hêmon, Édipo deveria ser expulso da pátria, e o corpo de Polinices não deveria ser sepultado e sim entregue às aves carniceiras. Antígona ficou revoltada com a decisão e disse que iria enterrar o seu irmão. Creonte decretou a morte de Antígona, caso ela consumasse este feito.

Édipo, mandado para o exílio, foi acompanhado por Antígona e, em seus momentos finais, refletiu que ele, um siples mortal, mesmo tendo derrotado a feroz Esfinge, tendo sido um herói para Tebas e feito só coisas boas, foi incapaz de mudar o seu destino, não tendo domínio sobre sua vida, estando vulnerável apenas a acatar as decisões dos deuses.


Orestes de (408 a.C.) e trata os acontecimentos decorrentes da morte por Orestes da mãe dele Clitemnestra.

Contexto

Tendo concordado com o conseho do deus Apolo, Orestes matou a sua mãe Clitemnestra para vingar a morte do pai dele, Agamemnon, morto pela esposa. Apesar da anterior profecia de Apolo, Orestes passa a ser atormentado pelas Erínias, ou Fúrias, pelo sentimento de culpa do seu matricídio. A única pessoa capaz de acalmar Orestes da sua loucura é a sua irmã Electra. Para complicar mais a situação, uma importante facção política de Argos pretende punir com a morte Orestes pelo seu crime. A única esperança de Orestes para salvar a sua vida reside no seu tio Menelau, que havia regressado com Helena após uma ausência de dez anos na guerra de Tróia e mais alguns anos a acumular riqueza no Egito. Na cronologia do que aconteceu a Orestes, esta peça situa-se após os acontecimentos relatados em peças como a Electra de Eurípides ou a Coéforas de Ésquilo, e antes dos acontecimentos contidos em peças como a Eumênides de Ésquilo e Andrômaca de Eurípides.

 

Enredo

A peça começa com um monólogo de Electra que descreve o enquadramento geral e os eventos que levaram até aquela situação, estando Orestes a dormir junto de si. Pouco depois, Helena sai do palácio sob o pretexto de que deseja fazer uma oferenda no túmulo de sua irmã Clitemnestra. Após a saída de Helena, um coro de mulheres de Argos entra para ajudar a avançar o enredo. Então Orestes, ainda enlouquecido pelas Fúrias, acorda.

Menelau chega ao palácio e ele e Orestes discutem o assassinato e a loucura resultante. Chega então Tíndaro, avô de Orestes e sogro de Menelau, que repreende severamente Orestes, levando a uma conversa entre os três homens sobre o papel dos seres humanos na aplicação da justiça divina e da lei natural. Quando sai, Tíndaro adverte Menelau de que este vai precisar do ancião como aliado. Orestes suplica a Menelau, esperando ganhar a compaixão que Tíndaro não lhe concederia, na tentativa de convencê-lo a deixá-lo falar perante a assembleia dos homens de Argos. No entanto, Menelau, acaba por evitar o seu sobrinho, optando por não comprometer o seu poder ténue junto dos gregos, que o culpam a ele e a sua esposa pela Guerra de Tróia.

Pílades, o melhor amigo de Orestes e o seu cúmplice no assassinato de Clitemnestra, chega depois de Menelau ter saido. Ele e Orestes começam a formular um plano, acusando políticos e líderes populares que manipulam as massas para resultados contrários ao melhor interesse do estado. Orestes e Pílades saem depois para que possam apresentar o seu caso perante a assembleia da cidade, num esforço para salvar Orestes e Electra da execução, esforço que resulta infrutífero.

Sendo certa a sua execução, Orestes, Electra e Pílades formulam um plano de vingança contra Menelau por lhes virar as costas. Para infligir o maior sofrimento, eles planeiam matar Helena e a sua filha, Hermione. No entanto, quando vão para a matar, Helena desaparece. Na tentativa de executar o seu plano, um escravo frígio de Helena escapa do palácio. Orestes pergunta ao escravo porque lhe deve poupar a vida e o escravo suplica a Orestes que não o mate. Orestes é conquistado pelo argumento do frígio de que, como homens livres, os escravos preferem a luz do dia do que a morte. De seguida, Menelau entra levando a um enfrentamento entre ele e Orestes, Electra e Pílades, que com sucesso capturaram Hermione.

Quando está prestes a ocorrer novo derramamento de sangue, Apolo chega ao palco Deus ex machina. E volta a colocar tudo em ordem, explicando que Helena foi colocada entre as estrelas e que Menelau deve voltar a Esparta. Diz a Orestes para se dirigir a Atenas ao Areópago, o tribunal ateniense, para obter julgamento, pelo qual mais tarde será absolvido. Além disso, Orestes deve casar-se com Hermione, enquanto Pílades se casará com Electra. Finalmente, Apolo diz aos mortais para se afastarem em alegria e paz, sendo o mais honrado e favorecido dos deuses.

 

Temas

Como em grande parte da sua obra, Eurípides usa a mitologia da idade do Bronze para defender uma ideia sobre a política de Atenas clássica durante a Guerra do Peloponeso. Orestes foi apresentada pela primeira vez na Grande Dionísia nos anos de declínio da guerra, tendo tanto Atenas como Esparta como todos os seus aliados sofrido perdas tremendas.

Eurípides desafia o papel dos deuses, e talvez mais propriamente a interpretação pelo homem da vontade divina. Orestes e outros notam o papel subordinado do homem face aos deuses, mas a superioridade dos deuses não os torna particularmente justos ou racionais. Até mesmo Apolo, o Deus sinónimo da lei e da ordem, dá em última análise um argumento insatisfatório. Por exemplo, ele cita a razão para a guerra de Tróia como o método que os deuses decidiram para limpar a terra de excesso de população. Isto nos leva a questionar por que razão os deuses (ou os líderes políticos) usariam a guerra como um instrumento para atingir um bem maior e, sendo este o caso, por que razão esses deuses/líderes são dignos da nossa admiração e louvor?

William Arrowsmith elogiou a peça enquanto condenação aguda da sociedade de Atenas, afirmando:

Tragédia totalmente sem afirmação, uma imagem de ação heróica vista como remendada, desfigurada e doente, conduzida pela engrenagem e slogans de ação heróica num crescendo constante de ironia mordaz e raiva de exposição. É... um tipo de tragédia negativa da turbulência total, derivando o seu poder real da exposição da dolorosa disparidade entre o ideal e o real, negando toda a possibilidade de ordem e admitindo dignidade apenas como a ausência agonizante pela qual o grau de depravação irá ser julgado.[1]

Arrowsmith também declarou que, "Estou tentado a ver na peça a imagem profética de Eurípides da destruição final de Atenas e da Hellas, ou dessa Hellas a quem um homem civilizado ainda pode dar todo o seu empenhamento."[2]

Para além da vontade dos deuses, é notado o papel do direito natural e da sua tensão com a lei feita pelo homem. Por exemplo, Tíndaro argumenta a Menelau que a lei é fundamental para a vida do homem, a que Menelau contrapõe que a obediência cega a qualquer coisa, mesmo a lei, é um atributo de um escravo.[3]

Talvez que a ideia mais importante da peça seja a afirmação definitiva de Apolo de que paz é o valor que primeiro deve ser reverenciado mais do que todos os outros. Orestes é o que melhor personifica esse valor ao poupar a vida do frígio, fazendo valer a ideia de que que a beleza da vida transcende as fronteiras culturais, seja alguém escravo ou homem livre. Esta foi também a única súplica com sucesso na peça. Este ponto é de especial valor, dado que a Guerra do Peloponeso já durava há quase um quarto de século na época da produção desta peça.

As Bacantes (Bakchai), ou As Mênades, estreou postumamente no Teatro de Dioniso em 405 a.C., como parte de uma tetralogia que também incluía a peça Ifigênia em Áulis, e que provavelmente foi dirigida pelo filho ou sobrinho do próprio Eurípedes.[1] A obra obteve o primeiro lugar na competição teatral realizada durante o festival da Grande Dionísia.

A tragédia é baseada na história mitológica do rei Penteu, de Tebas, e de sua mãe, Agave, e da punição dos dois pelo deus Dioniso, primo de Penteu, por sua recusa em venerá-lo e pelo injusto descrédito em que pairava o nome de sua mãe, Sêmele.

 

Contexto

O Dioniso da narrativa de Eurípedes é um deus jovem, enfurecido porque sua família mortal, a casa real de Cadmo, negou-lhe um lugar de honra como divindade. Sua mãe, Sêmele, foi uma das amantes de Zeus e, ainda grávida, foi morta porque havia visto Zeus em sua forma divina, o raio. A maior parte da família de Sêmele, no entanto, incluindo sua irmã Agave, recusou-se a acreditar que Dioniso era filho de Zeus, e o jovem deus acabou sendo rejeitado em sua própria casa. Após viajar por toda a Ásia e outras terras estrangeiras, Dioniso reúne um grupo de devotas, as Bacantes ou Mênades, e, no início da peça, retorna para se vingar da linhagem de Cadmo, disfarçado como um forasteiro loiro. Após levar as mulheres de Tebas, incluindo suas tias, a um frenesi extático, envia-lhes ao Monte Citéron, dançando e caçando, para horror de suas famílias. Para complicar ainda mais as coisas, o jovem rei Penteu declara a proibição do culto a Dioniso por toda a cidade de Tebas.

 

Trama

Dioniso entra no palco pela primeira vez para contar ao público quem ele é e porque decidiu vir a Tebas. Ele explica a história de seu nascimento, de como Zeus havia se apaixonado por sua mãe, Sêmele, e descido do Monte Olimpo para se deitar com ela. Grávida com um filho divino, ninguém de sua família acredita em sua palavra, no entanto, e acredita ser apenas uma gravidez ilícita. Hera, furiosa com a traição de seu marido, convence Sêmele a pedir a Zeus que apareça a ela em sua forma verdadeira. Zeus concorda, e aparece como um raio e a mata instantaneamente. No momento de sua morte, no entanto, Hermes desce e salva Dioniso de seu ventre; para escondê-lo de Hera, Zeus costura o feto em sua própria coxa até que ele termine de crescer. A família de Sêmele, no entanto - suas irmãs Agave, Autónoe e Ino, e seu pai, Cadmo - ainda acredita que ela cometeu blasfêmia ao mentir sobre a identidade do pai do bebê, e que teria morrido como resultado deste ato. Dioniso volta a Tebas para vingar sua mãe, Sêmele.

O velho Cadmo e Tirésias, embora não estejam enfeitiçados, como as mulheres tebanas, apaixonam-se pelos rituais báquicos e estão prestes a sair em celebração quando Penteu retorna à cidade e os encontra vestidos em roupas festivas. Após repreender-lhes com veemência, Penteu ordena aos seus soldados, que prenda qualquer um que participe do culto dionisíaco.

Os guardas retornam com o próprio Dioniso, disfarçado como um sacerdote de seu próprio culto, o líder das mênades asiáticas. Penteu o interroga, ainda sem acreditar que Dioniso seja um deus. Suas perguntas, no entanto, revelam seu profundo interesse nos ritos dionisíacos, que o "estranho" se recusa a revelar inteiramente. Isto enfurece enormemente Penteu, que ordena que ele seja encarcerado; no entanto, sendo um deus, ele rapidamente consegue se libertar e cria ainda mais distúrbios, destruindo o palácio de Penteu com um terremoto gigante, seguido por um incêndio. Um pastor traz a notícia de que as bacantes (ou mênades) estariam na região do monte Citéron, realizando feitos especialmente incríveis, como colocar serpentes em seus próprios cabelos para reverenciar o deus, amamentando gazelas e lobos selvagens, e fazendo vinho, leite, mel e água brotar do solo. O pastor ainda conta que, quando tentou capturar estas mulheres, elas avançaram sobre um rebanho de vacas, rasgando-as em pedaços com suas próprias mãos (sparagmos). Alguns guardas que atacaram as mulheres também não foram capazes de atingi-las com suas armas, enquanto elas, por sua vez, puderam derrotá-los apenas com pedaços de madeira. Dioniso, ávido por punir Penteu por não lhe prestar o devido respeito através das libações, utiliza o seu desejo de ver as mulheres em êxtase como pretexto para convencê-lo a se vestir como uma mênade, para que possa evitar ser identificado e assim observar os rituais.[2]

Dioniso veste Penteu como uma mulher e lhe dá um tirso e peles de cervo, e o leva para fora da casa. Penteu começa a ver tudo dobrado, enxergando duas Tebas, e dois touros a levá-lo (Dioniso por vezes assumia a forma de um touro). A vingança logo passa de mera humilhação a assassinato. Um mensageiro chega ao palácio, para relatar que depois de terem chegado ao Citéron, Penteu quis escalar uma árvore, para poder ter uma melhor vista das bacantes (ou mênades). Dioniso, ainda disfarçado como o pastor forasteiro, usou seu poder divino para entornar as altas árvores, e colocou o rei nos galhos mais altos. Assim que ele chegou ao topo de uma delas, Dioniso gritou às suas devotas, apontando-lhes o homem no topo da árvore; ensandecidas, as bacantes (ou mênades) arrancaram Penteu da árvore e rasgaram seu corpo em pedaços.

Assim que o mensageiro dá estas notícias a mãe de Penteu, Agave, entra em cena carregando a cabeça de seu filho, que ela mesma havia arrancado. Em seu estado possuído ela acreditava que era a cabeça de um leão-da-montanha, e a exibia, orgulhosamente, para seu pai, ansiosa para lhe mostrar o sucesso de sua caçada, e como tinha sido corajosa. Ao perceber que Cadmo não está feliz com as notícias, seu rosto contorcido com horror, Agave começa lentamente a perceber o que fez; a família é destruída, e Agave e as irmãs são exiladas. Dioniso, num ato final de vingança, retorna brevemente para castigar novamente sua família por sua impiedade; Cadmo e sua esposa, Harmonia são transfomados em serpentes. Tirésias, o velho profeta cego de Tebas, é o único a sair ileso.

 

Estrutura dramática

Numa peça que segue uma construção de trama climática, Dioniso, o protagonista, instiga a ação que se desenrola ao emular simultaneamente o autor, o figurinista, o coreógrafo e o diretor artístico da peça.[3] Já se enxergou um simbolismo no fato de Dioniso, o deus do teatro para os antigos gregos, dirige a peça.[4]

No início da obra, Dioniso faz a exposição do argumento, da qual já se identificou um conflito central à peça: a invasão da Grécia por uma religião estrangeira, de origem asiática.[5]

 

Análises críticas

Desde o fim da Antigüidade até o fim do século XIX os temas das Mênades eram considerados muito repugnantes para serem estudados e apreciados. Foi O Nascimento da Tragédia, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que trouxe de volta a questão da relação de Dioniso com o teatro, e elevou o interesse nas Mênades. Durante o século XX performances da peça tornaram-se bem populares, especialmente na forma de ópera, devido aos coros dramáticos encontrados por toda a trama.[6] Análises mais técnicas ressaltam como Eurípides consegue dominar igualmente as belezas poéticas e dramáticas de sua obra e o tratamento de temas mais complexos.[7]


Enredo Iphigenia at Aulis:
Segundo Eurípedes, antes de partir para Tróia, Agamemnon irritou Ártemis ao caçar um cervo em uma floresta sagrada e se gabar de ser o melhor caçador. Como punição os ventos no porto de Áulis pararam e Agamenon deveria sacrificar sua filha em um altar a Ártemis, para que a deusa fizesse soprar bons ventos para a partida dos exércitos gregos a Tróia. Agamemnon manda uma carta a sua esposa, Clitemnestra, para que traga a filha com a promessa que ela se casaria com Aquiles. Depois se arrepende e tenta mandar uma nova carta, que é lida por Menelau que briga com o irmão. Mas já é tarde demais e Clitemnestra, Orestes e Ifigênia já haviam chegado a Áulis. [16]

Agamemnon tenta convencer Clitemnestra voltar para Micenas mas ela se recusa a não participar do casamento da filha. Quando encontra Aquiles, que desconhece a trama, ambos descobrem a verdade sobre o cruel destino que espera a filha e que foi enganada pelo marido. O exército se revolta com a demora, mas Aquiles defende Ifigênia mesmo da raiva dos mirmidões. Ifigênia decide se sacrificar para impedir que a revolta continue, para que Aquiles não seja ferido em vão e para ajudar os gregos a seguirem para Tróia. Para admiração de Aquiles ela segue para o altar ignorando as súplicas da mãe que se desespera com seu destino cruel. No último momento, Ártemis substituiu a princesa por uma corça, e a fez sua suma sacerdotisa, levando-a para Táurida. [16] Em outra versão ela é realmente sacrificada mas sua alma é resgatada e imortalizada pelos deuses.

O CÍCLOPE, o único drama satírico completo existente, relata o encontro de Odisseu com o canibal Polifemo de um só olho, a quem enganou e cega a fim de poder fugir. O Ciclope está cheio de humor grotesco. No festival de 415 a.C. Eurípedes dava ao mundo a mais nobre de suas peças pacifistas - AS TROIANAS. Um lamento na selva da desumanidade do homem para com o homem que se abre com uma avassaladora sensação de melancolia. Tróia caiu, seus homens estão todos mortos e seus santuários foram profanados pelos conquistadores que não pouparam ninguém que lá houvesse procurado refúgio. Os deuses estão soturnos e irados e sentem-se tanto mais ultrajados quanto vários deles haviam apoiado os gregos na guerra. Revoltados pela carnificina e impiedade dos vencedores, os deuses lhes pressagiam maus tempos. A cidade é incendiada e as mulheres, que se atiraram ao chão para invocar seus mortos, visto que os deuses permaneceram surdos à oração, são arrastadas para os navios gregos.

Rhesus é uma tragédia ateniense que pertence às peças transmitidas de Eurípides. Sua autoria foi disputada desde a antiguidade [1] e a questão tem investido estudiosos modernos desde o séc. 17, quando a autenticidade da peça foi desafiada, em primeiro lugar por Joseph Scaliger e, posteriormente, por outros, em parte por motivos estéticos e em parte nas peculiaridades do vocabulário da peça , estilo e técnica. [2] A atribuição convencional a Eurípides continua a ser controversa.
Rhesus ocorre durante a Guerra de Tróia, na noite em que Odisseu e Diomedes se aproximam do campo de Tróia. O mesmo evento é narrado no livro 10 do poema épico de Homero, a Ilíada.

Sinopse do enredo

No meio da noite, os guardas de troianos à procura de atividade inimiga suspeita vêem incêndios brilhantes no campo grego. Eles informam prontamente Hector, que quase emite um chamado geral para o exército antes que Eneas o faça ver como mal-avisado isso poderia ser. Sua melhor opção, segundo Eneas, seria enviar alguém para espionar o campo grego e ver o que o inimigo faz. Dolon  voluntaria-se para espionar os gregos em troca dos cavalos de Aquiles quando a guerra é ganha. Hector aceita o acordo e o envia para fora. Dolon sai vestindo a pele de um lobo, e planeja enganar os gregos caminhando a quatro patas. Rhesus, o vizinho rei da Trácia, chega para auxiliar os cavalos de Tróia logo após o início de Dolon. Hector repreende-o por estar muitos anos atrasado, mas decide melhor tarde do que nunca. Rhesus diz que pretendia vir no início, mas foi desviado defendendo sua própria terra de um ataque dos Citas.
Enquanto isso, no caminho para o acampamento de Troiano, Odysseus e Diomedes correm até Dolon e o matam. Quando eles chegam ao acampamento com a intenção de matar Hector, Athena os guia para o quarto de dormir de Rhesus, apontando que eles não estão destinados a matar Hector. Diomedes mata Rhesus e outros, enquanto Odisseu leva seus cavalos preciosos antes de fugir. Rumores se espalharam entre os homens de Rhesus que fora um trabalho interno, e que Hector era responsável. Hector chega para criticar os sentinelas, devido às táticas astutas, o culpado só poderia ser Odisseu. A mãe de Rhesus, uma das nove musas, então chega e culpa todos os responsáveis: Odisseu, Diomedes e Atena. Ela também anuncia a iminente ressurreição de Rhesus, que se tornará imortal, mas será enviado para viver numa caverna subterrânea.
Esta curta peça é mais notável pela comparação com a Ilíada. A parte com Dolon é empurrada para o fundo, e muito mais é revelado sobre Rhesus e as reações dos troianos por seu assassinato.

Controvérsia


O primeiro a contestar completamente que o Rhesus era uma peça de teatro de Eurípides foi L. C. Valckenaer em sua Phoenissae (1755) e Diatribe in Euripidis deperditorum dramatum reliquias (1767).[3] Em uma introdução a Rhesus, o estudioso clássico Gilbert Murray escreveu que as passagens da peça foram citadas pelos primeiros escritores alexandrinos. [4] As antigas hipóteses transmitidas junto com a peça, no entanto, mostram que sua autenticidade foi atacada por vários estudiosos cujos nomes não são dados. [2] Os casos contra a autoria de Euripides geralmente se centram em diferenças estilísticas. Murray argumentou que isso pode ser atribuído simplesmente a um Eurípides mais novo ou menos desenvolvido. Murray também levantou a possibilidade de ser uma reprodução de uma peça de Eurípides, talvez sofrida por um filho contemporâneo ou pelo filho de Eurípides. A professora Edith Hall argumentou em uma introdução que os leitores modernos "serão surpreendidos particularmente pela falta de interesse Euripdiano para as mulheres", e observou o filho de Euripides, que recebeu o nome da tragédia, como argumento contra a atribuição convencional. [5]

Em 1964, William Ritchie defendeu a autenticidade da peça em um estudo de livro. Suas conclusões foram opostas, no entanto, por Eduard Fraenkel. Antes de Ritchie, Richmond Lattimore também afirmou que o Rhesus tinha sido escrito por Euripides, provavelmente em algum momento antes do 440 aC. [6] O professor e tradutor Michael Walton afirmou que estudiosos modernos concordam com as autoridades clássicas em atribuir a peça a Eurípides [7], mas admitiu em um trabalho posterior que a atribuição ainda é contestada por vários estudiosos. [8]

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