HESÍODO (750 - 650 a.C.)
Hesíodo
foi um poeta oral grego da Antiguidade, geralmente tido como tendo estado em
atividade entre 750 e 650 a.C.,
por volta do mesmo período que Homero.[1][2]
Sua poesia é a primeira feita na Europa na qual o poeta vê a si mesmo como um
tópico, um indivíduo com um papel distinto a desempenhar.[3]
Autores antigos creditavam a ele e a Homero a instituição dos costumes
religiosos gregos,[4]
e os acadêmicos modernos referem-se a ele como uma das principais fontes para a
religião grega, as técnicas agriculturais, o pensamento econômico (chegou a ser
referido, por vezes, como o primeiro economista),[5]
a astronomia grega arcaica e o estudo do tempo.
Hesíodo
utilizou diversos estilos do verso tradicional, incluindo a poesia gnômica, hínica, genealógica
e narrativa,
porém não foi capaz de dominar todas com a mesma fluência; as comparações com
Homero costumam lhe ser desfavoráveis. Nas palavra de um estudioso moderno de
sua obra, "é como se um artesão, com seus dedos grandes e desajeitados,
estivesse imitando, paciente e fascinadamente, a costura delicada de um
alfaiate profissional."[6]
·
Gnoma ou gnome (em grego transl. gnome, de
γιγνώσκειν, gignoskein "conhecer") é uma espécie de ditado,
especialmente um aforismo ou máxima, composto para fornecer algum ensinamento
de maneira compacta. A utilização moderna do termo foi introduzida pelo teólogo
alemão Klaus Berger em sua obra Formgeschichte des Neuen Testaments;
utilizou-se deste termo tradicional da antiga tradição retórica e tentou
identificar exemplos da utilização deste método no Novo Testamento.
Biografia
As
datas precisas de sua vida são uma questão contestada nos círculos acadêmicos,
e foram abordadas na seção Datas.
A
narrativa épica não permitia a poetas como Homero qualquer oportunidade para
revelações pessoais, porém a obra existente de Hesíodo abrange também poemas
didáticos, e nestes o autor desviou-se de sua trajetória para compartilhar com
o público alguns detalhes de sua vida, incluindo três referências explícias, no
Trabalhos e Dias, além de algumas passagens
da Teogonia,
que permitem que algumas inferências sejam feitas. No primeiro, o leitor fica
sabendo que o pai de Hesíodo era originário de Cime,
na Eólia,
litoral da Ásia Menor, ao sul da ilha de Lesbos, e
atravessou o mar para fixar-se num vilarejo, nas proximidades de Téspias, na
Beócia,
chamada Ascra,
"uma aldeia amaldiçoada, cruel no inverno, penosa no verão, jamais
agradável" (Trabalhos, l. 640). O patrimônio de Hesíodo no local,
um pequeno pedaço de terra no sopé do Monte
Hélicon, foi responsável por processos judiciais com seu irmão, Perses, que parece
ter inicialmente se apossado indevidamente da parte devida a Hesíodo graças a
autoridades (ou "reis") corruptos, porém mais tarde acabou ficando
pobre e sobrevivendo às custas do poeta, mais precavido (Trabalhos l.
35, 396). Ao contrário de seu pai, Hesíodo evitava viagens marítimas, embora
tenha cruzado certa vez o estreito que separa a Grécia continental da ilha de Eubeia para
participar nos ritos fúnebres de um certo Átamas
de Cálcis,
onde conquistou um tripé após participar de uma competição de canto.[7]
Também descreveu um encontro entre ele próprio e as Musas, no Monte Hélicon,
onde ele havia levado suas ovelhas para pastar, quando as deusas lhe
presentearam com um ramo de louros, símbolo de autoridade poética (Teogonia,
ll. 22–35). Por mais fantasioso que isto pareça, o relato levou estudiosos
antigos e modernos a deduzir a partir dele que Hesíodo não era capaz de tocar a
lira, ou não havia sido treinado
profissionalmente para tocá-la, do contrário ele teria recebido um instrumento
de presente no lugar do cajado.[nota 1]
·
Cyme - cidade
eólica em Aeolis (Ásia Menor) perto do reino da Lídia. Uma das mais importantes
entre as 12 cidades eólicas. Na costa da atual Turquia, próximo a ilha de
Lesbos.
·
Monte Hélicon (lit. "[monte] tortuoso",
"espiral”) - montanha
na região de Téspias, na Beócia, Grécia, Com uma altitude de 1749 metros acima do
nível do mar, localiza-se próximo ao Golfo de
Corinto. Na mitologia grega duas fontes do monte eram
sagradas para as Musas Aganipe e Hipocrene.
Ambas trazem "cavalo"
(hippos) em seus nomes; pois segundo o mito o cavalo alado Pégaso
teria atingido um rochedo com tanta força que uma fonte brotou no local. Também
ali localizava-se a fonte na qual Narciso teria sido
inspirado por sua própria beleza. Na fonte Hipocrene
Hesíodo havia sido inspirado pelas musas.
·
Eubeia (Euboia) - ilha grega, localizada na periferia da Grécia
Central (capital atual Cálcis)
maior ilha grega depois de Creta.
Alguns
estudiosos enxergaram em Perses uma criação
literária, um recurso utilizado para a moralização desenvolvida por Hesíodo nos
Trabalhos e Dias, porém também existem argumentos contrários a esta
teoria.[8]
Era muito comum, por exemplo, em obras voltadas à instrução moral, utilizar-se
de uma ambientação imaginária, como forma de conquistar a atenção do público,[nota 2]
porém é difícil imaginar como Hesíodo poderia ter viajado por toda a região
rural entretendo as pessoas com uma narrativa sobre si próprio se ela fosse
notoriamente fictícia.[9]
O professor americano de Estudos Clássicos Gregory Nagy, por outro lado, vê
tanto no nome Persēs ("destruidor": πέρθω, perthō)
quanto em Hēsiodos ("aquele que emite a voz": ἵημι, hiēmi
+ αὐδή,
audē) como nomes fictícios de personas
poéticas.[10]
·
Gregory Nagy (1942 - ) – Húngaro, professor americano de clássicos de Harvard,
especializado em Homer e poesia grega arcaica. Conhecido por estender as
teorias de Milman Parry (estudioso americano da poesia épica e fundador da
disciplina - Tradição Oral) e de Albert Lords (estudioso eslavo de literatura
comparada em Harvard, continuou os estudos de Parry em literatura épica) sobre
a composição-em-desempenho oral da Ilíada e da Odisséia. Nagy acredita que se
tornaram textos fixos apenas no séc. 4 a.C.
Parece
pouco comum que o pai de Hesíodo tenha migrado da Ásia Menor para a Grécia
continental, percorrendo o caminho oposto ao da maior parte dos deslocamentos
coloniais ocorridos no período; o próprio Hesíodo não apresenta qualquer
explicação para o fato. Por volta de 750 a.C., no entanto, ou pouco mais tarde,
ocorreu uma migração de mercadores marítimos de sua pátria, Cime, na Ásia Menor, para Cumas, na Campânia
(uma colônia que Cime partilhava com os eubeus), e talvez
sua mudança para o oeste tenha tido a ver com isto, já que Eubeia não fica
longe da Beócia, onde ele acabou por se fixar com sua família.[11]
A associação com Cime pela família poderia explicar sua familiaridade com mitos
orientais, evidente em seus poemas, embora o mundo grego já pudesse àquela
altura ter desenvolvido suas próprias versões daqueles mitos.[12]
Apesar
das reclamações de Hesíodo a respeito de sua pobreza, a vida na fazenda de seu
pai não pode ter sido excessivamente desconfortável a se julgar pela sua obra,
especialmente Trabalhos e Dias, já que ele descreve as rotinas de proprietários
de terra prósperos, e não de camponeses. Seu fazendeiro emprega um amigo (l.
370) bem como servos (ll. 502, 573, 597, 608, 766), um arador enérgico e
responsável já de idade avançada (ll. 469–71), um escravo jovem para cobrir as sementes
(ll. 441–6), uma criada para cuidar da casa (ll. 405, 602) e grupos de bois e mulas
(ll. 405, 607f.).[13]
Um acadêmico moderno sugeriu que Hesíodo teria aprendido sobre geografia geral,
especialmente o catálogo de rios citado na Teogonia (ll. 337–45), ao
ouvir os relatos de seu pai sobre suas próprias viagens como comerciante.[14]
O pai provavelmente falava no dialeto
eólio de Cime, porém Hesíodo provavelmente
cresceu falando o dialeto beócio local. Sua poesia, no entanto,
apresenta alguns eolismos, enquanto não tem quaisquer palavras de origem
beócia, já que ele compunha suas obras utilizando o principal dialeto literário
da época, o dialeto jônio.[15]
É
provável que Hesíodo tenha escrito seus poemas, ou os ditado, e não
apresentado-os oralmente, como faziam os rapsodos - do
contrário o estilo acentuadamente pessoal que emerge de seus poemas teria
seguramente sido diluído através da transmissão oral de um rapsodo a outro. Se
ele de fato escreveu ou ditou suas obras, provavelmente o fez para ajudar a
memorizá-los, ou porque ele não tinha confiança na sua capacidade de produzir
poemas de improviso, como costumavam fazer os rapsodos com mais treinamento.
Certamente não foi visando qualquer tipo de fama ou posteridade, já que os
poetas de seu tempo não conheciam esta noção. Alguns estudiosos suspeitam, no
entanto, a presença de alterações em grande escala no texto, e a atribuem a
transmissão oral.[16]
Hesíodo pode ter escrito seus versos durante períodos de ócio na sua fazenda,
na primavera, antes da colheita de maio, ou no meio do inverno.[17]
·
rapsodos - artista
que canta ou recita sem instrumento
·
aedos - artista
que compõem e canta epopéias com lira
A
característica pessoal por trás dos poemas é pouco apropriada ao tipo de
"afastamento aristocrático" que um rapsodo deveria ter; seu estilo
foi descrito como "argumentativo, desconfiado, ironicamente bem-humorado,
frugal, apreciador de provérbios, temeroso quanto às mulheres."[18]
Era, de fato, um misógino do mesmo quilate de outro poeta que viveu
posteriormente, Semônides.[19]
Assemelha-se a Sólon
em sua preocupação com a questão do bem contra o mal, e "como um deus
justo e onipotente pode permitir que o injusto floresça nesta vida."
Lembra Aristófanes em sua rejeição do herói idealizado da
literatura épica, preferindo em seu lugar uma visão idealizada do fazendeiro.[20]
No entanto, o fato de que ele podia fazer elogios a reis na Teogonia
(ll. 80ff, 430, 434) e ao mesmo tempo denunciá-los como corruptos nos Trabalhos
e Dias sugere que ele tinha a capacidade de escrever de acordo com o
público que ele visava atingir.[21]
·
Misoginia (do grego miseó, "ódio"
+ gyné, "mulher") - é o ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres
ou meninas.
As
diversas lendas que se acumularam ao longo do tempo a respeito de Hesíodo foram
registradas em diferentes fontes:
- a história "A Competição de Poesia” (Agōn) entre Homero e Hesíodo;"[22]
- uma vita de Hesíodo de autoria do gramático bizantino do séc. 12 João Tzetzes;
- o verbete sobre Hesíodo na Suda;
- duas passagens e alguns comentários na obra de Pausânias séc. 2 d.C (IX, 31.3–6 e 38.3–4);
- uma passagem na Moralia, de Plutarco séc. 1 d.C (162b).
· João Tzetzes (1110 – 1180) - em grego Ioánnis Tzétzis foi um poeta e gramático
bizantino,
que viveu na Constantinopla do séc. 12. Entre suas obras: Livro
dos Histórias (Chiliades)- coleção de literárias, históricas,
teológicas e antiquarias e de importância devido aos mais de 400 autores
citados e as obras acessíveis a ele como referência; Cartas - 107 cartas dirigidas em parte a personagens
fictícias, e em parte aos grandes homens e mulheres do tempo do escritor,
contêm uma quantidade considerável de detalhes biográficos; Completou
Ilíada - por uma obra que começa com o nascimento de Paris e continua o conto ao regresso de casa
dos Aqueus; Alegorias Homéricas -
versos "políticos" e dedicados à imperatriz de origem alemã Irene e depois a Constantine Cotertzes são
dois poemas didáticos em que
Homer e a teologia homérica são expostos e depois explicados
por três tipos de alegoria : histórico, anagógicoou físico; Antehomerica - lembrando os eventos que aconteceram
antes da Ilíada de Homero; Comentários
de autores gregos - Cassandra ou
Alexandra de Lycophron (260
a.C) é o mais importante.
· Suda ou Suídas – compilação do séc. 10 d.C do império bizantino sobre personagens e obras gregas
cujas fontes agora perdidas. Traduzidas para o latin pelo historiador e
humanista alemão Hieronymus Wolf
(1516 – 1580), organizada alfabeticamente pelo filólogo Immanuel Bekker (1785 – 1871) e a base para tradução em grego foi
realizada por Ada Adler (1878 –
1946) filóloga
e bibliotecária dinamarquesa. O Suda contém: Aristófanes, Ábaris
(poeta cita semi-lendário), Adriano
(poeta grego), Árion
(poeta lírico grego), Cláudio
Eliano (retórico romano), Estesícoro
(poeta lírico grego), Aleixo
(poeta cómico grego, referido no Suda) entre outros.
Duas
tradições diferentes, porém arcaicas, registram o local da sepultura de
Hesíodo. Uma, do tempo de Tucídides e registrada por Plutarco, pela Suda e por
João Tzetzes, afirma que o oráculo de Delfos teria avisado Hesíodo que ele
morreria em Nemeia,
e por isso ele fugiu para a Lócrida, onde foi morto no templo local dedicado a Zeus Nemeu, e enterrado ali. Esta
tradição segue uma convenção irônica familiar: o oráculo acaba prevendo
corretamente a despeito da tentativa da vítima de escapar de seu destino. A
outra tradição, mencionada pela primeira vez num epigrama de Quérsias de
Orcômeno, e escrita no século VII a.C. (pouco mais de um século depois da
morte de Hesíodo) afirma que ele estaria sepultado em Orcômeno, uma cidade da Beócia. De acordo com a Constituição
de Orcômeno, de Aristóteles, quando os téspios
atacaram Ascra, seus habitantes procuraram refúgio em Orcômeno
onde, seguindo o conselho de um oráculo, eles juntaram as cinzas de Hesíodo e
colocaram-nas num local de honra dentro de sua ágora, próximo
ao túmulo de Mínias, seu fundador epônimo.
Posteriormente passaram a considerar Hesíodo também como o "fundador de
seu lar" (οἰκιστής,
oikistēs). Escritores posteriores tentaram harmonizar os dois relatos.
·
Ágora ("assembleia", "lugar de
reunião)”- termo grego que significa a
reunião de qualquer natureza, geralmente empregada por Homero
como uma reunião geral de pessoas. A ágora parece ter sido uma parte essencial
da constituição dos primeiros estados gregos. As ágoras arcaicas estavam
estreitamente relacionadas com os santuários
religiosos e as atividades de entretenimento, como festas, jogos e teatro.
Manifesta-se como a expressão máxima da esfera
pública na urbanística grega, sendo o
espaço público por excelência, da cultura
e a política
da vida social dos gregos.
Datas
Os
gregos do fim do século V e início do século IV a.C. consideravam como seus
poetas mais antigos Orfeu,
Museu, Hesíodo e Homero - nesta
ordem. Posteriormente, os autores gregos passaram a considerar Homero mais
antigo que Hesíodo. Admiradores de Orfeu e Museu provavelmente eram
responsáveis pela precedência dada a estes dois heróis cultuados, e talvez os Homéridas tenham sido responsáveis,
posteriormente, por 'promover' Homero às custas de Hesíodo.
Os
primeiros autores conhecidos a situar Homero antes, cronologicamente, que
Hesíodo foram Xenófanes e Heráclide Pôntico, embora Aristarco da Samotrácia tenha sido o
primeiro a argumentar a favor da teoria. Éforo descreveu
Homero como um primo mais novo de Hesíodo; Heródoto
(Histórias, 2.53) evidentemente
considerava-os como quase contemporâneos, e o sofista Alcídamas,
do séc. 4 a.C.,
em sua obra Mouseion, representou-os atuando junto numa competição
poética (agon) fictícia, que sobrevive atualmente como Competição
entre Homero e Hesíodo. A maior parte dos estudiosos de hoje em dia
concordam com a antecedência de Homero, porém existem bons argumentos de ambos
os lados.[23]
·
Lírica - forma de poesia que surgiu na Grécia Antiga, e
originalmente, era feita para ser cantada ou acompanhada de flauta e lira (daí
o lírico).
·
Elegia - poesia triste, melancólica ou complacente, especialmente
composta como música para funeral, ou um lamento de morte. Na Literatura
Grega antiga o "elegeia" referia-se a qualquer verso
escrito em dístico elegíaco (1 estrofe de 2 versos
dactílicos, sendo o 1.º um hexâmetro e o 2.º um pentâmetro) cobrindo vários assuntos, entre
eles, os epitáfios para túmulos. Na Literatura Latina foi mais
erótico ou mitológico. Devido ao seu potencial estrutural para efeitos
retóricos, o dístico elegíaco foi também utilizada pelos poetas
gregos
e romanos
para assuntos espirituosos, engraçados e satíricos.
Hesíodo
certamente antecedeu os poetas líricos
e elegíacos cujas obras foram
conservadas até os dias de hoje. Imitações de sua obra foram identificadas nos
trabalhos de Alceu, Epimênides,
Mimnermo, Semônides,
Tirteu e Arquíloco,
de onde se deduziu que a data mais tardia possível para Hesíodo só poderia ser 650 a.C.
Um
limite máximo de 750 a.C.
como data de sua morte foi indicado por muitas considerações, como a
probabilidade de que sua obra tenha sido escrita, o fato de que ele menciona um
santuário em Delfos
que tinha pouco significado nacional antes de meados de 750 a.C. (Teogonia l.
499), e o fato dele listar rios que deságuam no Euxino, uma região explorada e
desenvolvida por colonos gregos apenas no início do século VIII a.C. (Teogonia,
337–45).[24]
Hesíodo
menciona um concurso de poesia em Cálcis, na
ilha de Eubeia,
onde os filhos de um certo Anfídamas lhe presentearam com um tripé (Trabalhos
e Dias ll.654–662). Plutarco identificou este Amnfídamas com o herói da Guerra Lelantina, travada
entre Cálcis e Erétria, e concluiu que este trecho devia ser uma interpolação
na obra original de Hesíodo, assumindo que a Guerra Lelantina teria ocorrido
numa data tarde demais para coincidir com a vida de Hesíodo. Estudiosos
modernos aceitaram esta identificação de Anfídamas, porém discordam de sua
conclusão. A data da guerra não é conhecida com precisão, porém é estimada por
volta de 730-705 a.C.,
coincidindo com a cronologia estimada para Hesíodo. Se este for o caso, o tripé
concedido a Hesíodo poderia ser conquistado por sua interpretação da Teogonia,
um poema que parece destinar-se ao tipo de público aristocrático
que estaria presente em Cálcis.[25]
·
Guerra de Lelantina - entre as cidadeestado grega -
Chalcis e Eretria na ilha Eubeia entre 710 - 650 a.C. O motivo foi a luta
pela planície fértil de Lelantina. Devido sua importância econômica muitas
outras cidades estado se juntaram de cada lado. O historiador Tucídides
descreve a Guerra.
Segundo
o historiador
romano
Marco Veleio Patérculo, Hesíodo floresceu
cento e vinte anos após Homero,[26]
que floresceu novecentos e cinquenta anos antes da composição do Compêndio
da História romana.[27]
·
Marco Veleio Patérculo (19 a.C.
—31 d.C) - historiador
do Império Romano. Em sua obra Compêndio da
História romana consiste de dois livros e cobre o período que vai da dispersão
dos gregos depois da Guerra de Troia até a morte de Lívia
(29 d.C.).
Obra
Três
obras atribuídas a Hesíodo por comentaristas antigos sobreviveram: Os
Trabalhos e os Dias (ou As Obras e os Dias), a Teogonia, e O
Escudo de Héracles (embora exista alguma dúvida a respeito da autoria deste
último, tido por alguns estudiosos como sendo do século VI a.C.). Outras obras
atribuídas a ele existem apenas na forma de fragmentos. As obras e fragmentos
existentes foram todos escritos na língua e na métrica convencional da poesia
épica. Alguns autores antigos chegaram a questionar a autenticadade da Teogonia
(Pausânias, 9.31.3), embora o autor cite a si
mesmo pelo nome no poema (verso 22). Embora sejam diferentes em diversos
aspectos, a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias partilham uma prosódia,
uma métrica e uma linguagem característica, que o distinguem sutilmente da obra
de Homero e do Escudo de Héracles.[28]
(ver O grego de Hesíodo). Além disso, ambos se referem à mesma
versão do mito de Prometeu.[29]
Ambos os poemas, no entanto, podem conter interpolações; os primeiros dez
versos do Trabalhos e Dias, por exemplo, podem ter sido apropriados de
um hino órfico a Zeus.[30]
·
Prosódia (do grego,
pros-, "verso" e odé, "canto") - parte da linguística
que estuda a entonação, o ritmo, o acento (intensidade, altura, duração) da
linguagem
falada e demais atributos correlatos na fala. Descreve todas as propriedades acústicas
da fala
que não podem ser preditas pela transcrição ortográfica
(ou similar); em resumo, cuida da correta acentuação
tônica das palavras.
Alguns
estudiosos detectaram uma perspectiva proto-histórica em Hesíodo, um ponto de
vista rejeitado pelo professor de história grega da Universidade de Cambridge, Paul Cartledge, por exemplo, que
alega que Hesíodo advogaria uma visão centrada nas recordações, sem qualquer
ênfase na verificação dos fatos.[31]
Hesíodo também foi considerado o pai do verso gnômico.[32]
Tinha "uma paixão por sistematizar e explicar as coisas".[33]
A poesia grega antiga em geral tinha fortes tendências filosóficas, e Hesíodo,
como Homero, demonstra grande interesse numa ampla gama de questões
'filosóficas', que vão da natureza da justiça divina aos inícios da sociedade
humana. Aristóteles (Metafísica, 983b-987a) acredita que
a questão das primeiras causas pode até mesmo ter começado com Hesíodo (Teogonia,
116-53) e Homero (Ilíada, 14.201, 246).[34]
Hesíodo
via o mundo de fora do círculo encantado dos governantes aristocráticos,
protestando contra suas injustiças num tom de voz que foi descrito como tendo
uma "qualidade ranzinza redimida por uma dignidade lúgubre",[35]
porém ele também se mostrava capaz de alterar esse tom para se adequar ao
público. Esta ambivalência parece permear sua apresentação da história humana
nos Trabalhos e Dias, onde ele descreve um período de ouro no qual a
vida era fácil e boa, seguida por um declínio constante no comportamento e
felicidade do homem ao longo das idades de Prata, Bronze e Ferro - porém ele
insere entre estes dois últimos períodos uma era histórica, representando assim
estes homens belicosos sob uma luz mais favorável que seus antecessores, da
Idade do Bronze. Ele parece estar, neste caso, querendo satisfazer duas visões
de mundo distintas, a épica e a aristocrática, com aquela apresentando pouca
simpatia pelas tradições heróicas da aristocracia.[36]
Para
Werner
Jaeger, famoso helenista alemão, com Hesíodo surge o subjetivo na literatura.
Na época antiga, o poeta era um simples veículo comandado pelas Musas; já
Hesíodo assina sua obra para fazer uma história pessoal. Após exaltar as
Musas que o inspiram, diz ele no começo da Teogonia: "Foram elas
que, certo dia, ensinaram a Hesíodo um belo canto, quando ele apascentava suas
ovelhas ao pé do Hélicon divino".
·
Werner Wilhelm Jaeger (1888 - 1961) - filólogo clássico alemão.
Entre suas obras estão trabalhossobre Platão e Aristóteles, compilação dos
trabalhos do padre da igreja Gregória de Nyssa (350), Teogonia dos primeiros
filósofos e sua principal obra, Paidéia
(1936) - denominação do sistema de educação e formação ética
da Grécia Antiga, que incluía temas como Ginástica,
Gramática,
Retórica,
Música,
Matemática,
Geografia,
História Natural e Filosofia,
objetivando a formação de um cidadão
perfeito e completo, capaz de liderar e ser liderado e desempenhar um papel
positivo na sociedade. O conceito surgiu nos tempos homéricos
e permaneceu em sua essência inalterado ao longo dos séculos, embora variando
suas formas de aplicação e as disciplinas envolvidas, e continua a interessar
muitos educadores e pensadores contemporâneos.
Teogonia
Ebook: Theogony
A
Teogonia costuma ser considerada a primeira obra de Hesíodo. Apesar da
diferença no tema principal abordado neste poema e nos Trabalhos e Dias,
a maior parte dos estudiosos - com algumas exceções notáveis, como Hugh G.
Evelyn-White - acredita que as duas obras foram escritas pelo mesmo homem. Como
escreveu o classicista e filólogo inglês Martin Litchfield West,
"ambos trazem a marca de uma personalidade distinta: um homem do campo
rústico, conservador, propenso à reflexão, que não amava as mulheres ou a vida,
e que sentia o peso da presença dos deuses sobre si."[37]
·
Martin L. West (1937 – 2015) – Professor e estudioso clássico de Oxford.
A
Teogonia fala das origens do mundo (cosmogonia)
e dos deuses (teogonia),
desde seus inícios com Caos, Gaia e Eros, e mostra um interesse especial na genealogia.
Dentro da mitologia grega permaneceram fragmentos de contos
extremamente variados, o que aponta à rica variedade mitológica que existia, variando
de cidade para cidade; porém a versão de Hesíodo destas antigas histórias
acabou por se tornar, de acordo com o historiador Heródoto,
do século V a.C., a versão aceita que unia todos os helenos.
O
mito da criação em Hesíodo foi considerado, por
muito tempo, como tendo sido influenciado por tradições orientais, tais como a Canção de Kumarbi, dos hititas, e o Enuma
Elish babilônio. Esta miscigenação cultural teria ocorrido nas
colônias comerciais gregas dos séc. 8 e 9 a.C., como Al Mina, no norte da Síria.[38]
·
Canção de Kumarbi ou a Realeza no Céu - título hitita do mito hurrita Kumarbi (séc. 13 ou 14 a.C). Diz que Alalu foi derrubado por Anu, e este por Kumarbi. Quando Anu
tentou escapar, Kumarbi tirou os órgãos genitais e cuspiu três deuses novos. No
texto, Anu diz ao filho que ele agora está grávida do Teshub , Tigris e Tašmišu . Ao ouvir este Kumarbi cuspir o
sêmen no chão e ficou impregnado com dois filhos. Kumarbi está disposto para
entregar Tešub. Juntos, Anu e Teshub depotam Kumarbi. Em outra versão da
Realeza no Céu , os três deuses, Alalu,
Anu e Kumarbi, governam o céu, cada um servindo aquele que o precede no
reinado de 9 anos. É o filho de Kumarbi Tešub, o Weather-God, que começa a
conspirar para derrubar seu pai. Percebe-se semelhanças entre este mito da
criação a história da mitologia grega de Urano , Cronos e Zeus.
·
Enûma Eliš - mito de criação babilônico, descoberto por Austen Henry Layard em 1849
nas ruínas da Biblioteca de Assurbanípal em Nínive
(Mossul,
Iraque),
e publicado por George Smith em 1876. Possui
várias cópias na Babilônia e Assíria. A versão da Biblioteca de Assurbanípal data do séc. 7 a.C.
A composição do texto, provavelmente, remonta a Idade do
Bronze, nos tempos de Hamurabi,
talvez o início da era cassita (cerca de séc.18
a 16 a.C.),
ou posterior a 1100 a.C.
Este épico é uma das fontes mais importantes para a compreensão da cosmovisão
babilônica, centrada na supremacia de Marduk
e da criação da humanidade para o serviço
dos deuses. Seu principal propósito original, é a
elevação de Marduk, o deus chefe da Babilônia, acima de outros deuses da
Mesopotâmia. Apresenta semelhanças com oGénesis
como: 6 dias de criação e 1 de descanso, começa pela luz e termina com a
criação do homem, a deusa Tiamat é comparável ao Oceano no Génesis, sendo que a
palavra hebraica para oceano tem a mesma raiz etimológica
que Tiamat.
Em
grego:
Θεογονία [theos,
deus + gonia, nascimento] - THEOGONIA, na transliteração, também conhecido por Genealogia
dos Deuses, é um poema mitológico em 1022 versos hexâmetros escrito por Hesíodo
no século VIII a.C., no qual o narrador é o próprio poeta.
O
poema se constitui no mito cosmogônico (descrição da origem do mundo) dos
gregos, que se desenvolve com geração sucessiva dos deuses, e na parte final,
com o envolvimento destes com os homens originando assim os heróis.
Nesse
mito, as divindades representam fenômenos ou aspectos básicos da natureza
humana, expressando assim as ideias dos primeiros gregos sobre a constituição
do universo.
Resumo do mito
A
progressiva gênese do universo da desordem para a ordem presidida por Zeus começa com os
elementos fundamentais e se desenvolve por seis gerações sucessivas de deuses:
No início Kaos, (ou vazio primitivo) e Gaia (a terra) conviviam com Tártaro (a escuridão primeva) e Eros (a atração
amorosa) daí sendo gerados (assexuadamente) Hemera (o dia), Nix (a noite), Urano (o céu) e Ponto (a água primordial).
Na
segunda geração, Urano e Gaia geraram os titãs, gigantes
dos quais destacam-se Cronos (o tempo), Oceano (a água doce), Têmis (a Lei), Mnemosine (a
memória) e vários monstros míticos.
Na
terceira geração, Cronos
assume o poder e inadvertidamente dá origem a Afrodite (amor
sensual) relacionando a noite (Nix) com Tânato (a
morte) Hipnos
(o sono) e Oniro
(os sonhos). Ponto origina Fórcis pai de
monstros como Górgona, Equidna e Esfinge e Nereu (o mais antigo
deus do mar), pai das nereidas.
Oceano
dá vida às ninfas
dos ventos Métis
(sabedoria) e Hélio (o sol) e Céos gera entre
outros Hécate
(a dádiva/magia).
Numa
última etapa, Zeus destrona Cronos
seu pai, altura em que é inserida a lenda de Prometeu,
dito filho de Jápeto.
Mas para consolidar seu poder Zeus teria ainda que lutar e derrotar Tifão filho de Gaia e Tártaro. Daí até o seu final, o poema
trata do relacionamento dos deuses com os homens.
Os Trabalhos e os Dias
Ebook: Works
and Days
Os
Trabalhos e os Dias (também traduzido para o português como As Obras e
os Dias) é um poema de mais de 800 versos que aborda duas verdades gerais:
o trabalho é a sina universal do Homem, porém aquele que estiver disposto a
trabalhar sobreviverá. Estudiosos interpretaram esta obra, ao longo do tempo,
diante de um cenário de uma crise agrária na Grécia continental, que teria
inspirado uma onda documentada de colonizações, em busca de novas terras. Este
poema é uma das primeiras meditações sobre o pensamento econômico.
A
obra apresenta as cinco Eras do homem, além de conter conselhos e
recomendações, prescrevendo uma vida de trabalho honesto, atacando a ociosidade
e juízes injustos (como aqueles que decidiram a favor de Perses), bem como a
prática da usura.
Descreve seres imortais que vagariam pela terra, cuidando da justiça e da
injustiça.[39]
O poema fala do trabalho como fonte de todo o bem, na medida que tanto os
deuses quanto os homens desprezam os ociosos, que seriam como zangões numa colmeia.[40]
·
Usura – do
latin “"usus" e "rei" com o sentido de cobrança pelo uso
das coisas. Há referências à proibição da usura no Código de Hamurabi, na “Política” de
Aristóteles e na Bíblia (Êxodo 22:25; Levítico 25: 35,36,37, etc)
Os
Trabalhos e os Dias (em grego antigo: Erga kaí Hemérai) também
conhecido como As Obras e os Dias,[1]
é um poema épico de Hesíodo, um dos primeiros autores
conhecidos da Grécia Antiga.
Nela
o autor, de forma didatica, trata do mundo dos mortais e de sua organização,
centrado no temas do trabalho e da justiça, com algum enfoque na história da
civilização durante o período clássico da Grécia Antiga. Nestas se incluem a
célebre história de Prometeu, que tirou o fogo do concílio dos deuses e o mito
de Pandora.
O
poema conta com 828 versos e é dirigido ao irmão de Hesíodo, Perses, devido a
uma querela relativa à repartição desigual da herança paterna, na qual este
levara vantagem indevidamente.
Na
primeira parte (versos 1-382), após a invocação às Musas, o poeta
desenvolve narrativas míticas ("As duas lutas", "Prometeu
& Pandora",
"Eras do homem" e a fábula o
"Gavião
e o Rouxinol")
como apoio tanto de seus preceitos como da segunda parte do poema, na qual há
conselhos práticos e calendários sobre a agricultura (v. 383-627), navegação
(v. 628-691), além de conselhos morais (v. 695-828).
Outras obras
Além
da Teogonia e dos Trabalhos e Dias, diversos outros poemas foram
atribuídos a Hesíodo durante a Antiguidade. Acadêmicos modernos têm duvidado,
no entanto, de sua autenticidade, e estas obras normalmente são referidas como
parte do "Corpus Hesiódico", independentemente de sua verdadeira
autoria.[41]
A situação foi resumida pelo classicista Glenn Most: "'Hesíodo' é o
nome de uma pessoa; 'Hesiódico' é uma designação para um tipo de poesia, que
inclui mas não se limita aos poemas cuja autoria pode ser creditada com
segurança ao próprio Hesíodo."[42]
Destas
obras que compõe o corpus hesiódico estendido, apenas o Escudo de Héracles
foi transmitido de maneira intacta através dos tempos, por intermédio de uma
transcrição manuscrita medieval.
Os
autores clássicos também atribuíam a Hesíodo um longo poema genealógico,
conhecido como Catálogo de Mulheres, ou Ehoiai
(porque suas seções se iniciam com as palavras gregas ē hoiē, "Ou
como as ..."). Era um catálogo mitológico das mulheres mortais que
haviam mantido relações sexuais com os deuses, e dos descendentes destas
relações.
Diversos
poemas hexâmetros
foram atribuídos a Hesíodo:
- Megalai Ehoiai, um poema semelhante ao Catálogo das Mulheres, porém supostamente mais longo.
- O Casamento de Céix, um poema sobre o comparecimento de Héracles ao casamento de um certo Céix, conhecido por seus enigmas.
- Melampodia, um poema genealógico que fala sobre as famílias e os mitos associados com os grandes profetas da mitologia.
- Dáctilos Ideus, obra que fala sobre fundidores lendários da mitologia, os Dáctilos Ideus.
- A Descida de Perito, sobre a viagem de Teseu e Perito (ou Pirítoo) ao Hades.
- Preceitos de Quíron, obra didática que apresenta os ensinamentos de Quíron, tal como transmitidos ao jovem Aquiles.
- Megala Erga ("Grandes Trabalhos" ou "Grandes Obras"), um poema semelhante aos Trabalhos e Dias, porém supostamente mais longo.
- Astronomia, um poema astronômico ao qual Calímaco (ep. 27) teria aparentemente comparado o Phaenomena, de Arato.
- Egímio, um poema épico que fala sobre o dório Egímio (e atribuído tanto a Hesíodo quanto a Cércops de Mileto).
- Forno de olaria ou Oleiros, um poema curto pedindo à deusa Atena o auxílio aos oleiros caso eles paguem o poema. Também atribuído a Homero.
- Ornitomancia (Ornithomantia), obra sobre presságios obtidos através de pássaros, que teria se seguido aos Trabalhos e Dias.
Além
destas obras, a Suda
lista ainda um "canto fúnebre para Bátraco, amado [de Hesíodo]",
anteriormente desconhecido.[43]
Recepção e influência
O
poeta lírico Alceu, compatriota e contemporâneo de Safo, parafraseou uma
seção dos Trabalhos e Dias (582-88), reformatando-o na métrica lírica e
passando para o dialeto lésbio. Resta apenas um fragmento da paráfrase.[44]
O
poeta lírico Baquílides citou ou parafraseou Hesíodo numa ode de
vitória endereçada a Hierão de Siracusa,
comemorando a vitória do tirano na corrida de carruagens dos Jogos
Píticos de 470 a.C.;
a dedicatória dizia: "Um homem da Beócia, Hesíodo, ministro das [doces]
Musas, falou assim: 'Aquele que os imortais homenageiam também conta com boa
reputação entre os homens.'" Estas palavras, no entanto, não foram
encontradas nas obras existentes de Hesíodo.[nota 3]
·
Jogos Píticos - jogos pan-helénicos da Antiga Grécia
de 4 em 4 anos em Delfos.
A par com os jogos realizados em Olímpia
foram antecessores dos modernos Jogos Olímpicos. Eram em honra a Apolo 2 anos depois (e 2
anos antes) dos Jogos Olímpicos e entre cada Jogos Nemeus
e Ístmicos. Foram iniciados cerca do séc. 6 a.C.
e, ao contrário dos Jogos Olímpicos, também incorporavam competições de música
e poesia.
As competições de música e poesia são anteriores à parte atlética dos jogos,
tendo começado, segundo a lenda, após Apolo ter matado e dividido o corpo da serpente
Píton e instalado o oráculo de Delfos. Fora essa diferença, os
eventos eram semelhantes aos dos jogos Olímpicos, excepto por não haver
corridas de carros com quatro cavalos. Os vencedores das provas recebiam uma
coroa de louros da cidade de Tempe na Tessália.
·
Hierão I (governou de 478 a 467 a.C) - tirano das
colónia gregas de Gela e Siracusa. Em sua corte passaram poetas
e filósofos como Ésquilo, Simónides e Epicarmo. Hierão participou nos Jogos Olímpicos e nos Jogos Píticos
como patrocinador das corridas de cavalos, tendo as suas vitórias sido
celebradas pelos poetas Píndaro (I
Ode Olímpica e I Ode Pítica) e Baquílides.
Não confundir com Hierão II (306 – 215 a.C) tirano posterior
em siracusa, em cujo reinado viveu o sábio grego Arquimedes.
O
Catálogo de Mulheres de Hesíodo criou uma moeda para catálogos em forma
de poemas durante o período helenístico. Teócrito,
por exemplo, apresenta catálogos de heroínas em dois de seus poemas bucólicos
(3.40–51 e 20.34–41), no qual ambas as passagens são recitadas por personagens
de rústicos apaixonados.[45]
·
Período Helenístico - (do grego, hellenizein – "falar grego",
"viver como os gregos")entre a
morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. e a anexação da península grega e ilhas por Roma em 146 a.C.
·
Teócrito (310.-
250 a.C.)
- poeta grego
de maior destaque no período helenístico. Nasceu em Siracusa
e deve ter conhecido vários lugares da Magna Grécia,
e inclusive no Egito,
que se pode inferir de seus poemas. Destes, denominados idílios
(lit. poema curto) chegaram-nos cerca de trinta, além de uns epigramas. No
entanto, alguns ainda são de autenticidade duvidosa. Seus idílios são divididos
em poemas bucólicos, mimos e contos épicos.
Os versos de Teócrito revelam preocupação com a forma, mas, ao contrário de
seus contemporâneos, a linguagem utilizada é simples. Teócrito influenciou fortemente a poesia bucólica
posterior, como a de Virgílio e a poesia árcade. Mas a poesia de Teócrito é
natural e realista, ao contrário da poesia posterior, grandemente idealizada.
O grego de Hesíodo
Hesíodo
utilizou o dialeto convencional da poesia épica, que era o jônio.
As comparações com Homero, ele próprio um jônio de nascimento, costumavam ser
pouco lisonjeiras. O manuseio do hexâmetro
dactílico da parte de Hesíodo não era
tão magistral ou fluente quando o de Homero, e um estudioso moderno menciona
seus "hexâmetros caipiras".[47]
Seu uso da língua e da métrica em Os Trabalhos e Dias e Teogonia
o distingue do autor do Escudo de Héracles. Os três poetas, por exemplo,
utilizaram de maneira inconsistente o digama, por vezes
deixando que ele afetasse a métrica e a duração da sílaba, e por outras vezes
não. A frequência da observância ou esquecimento do uso da letra varia entre
eles. A extensão destas variações depende de como a evidência foi coletada e
interpretada, porém existe uma tendência clara, revelada, por exemplo, no
seguinte conjunto de estatísticas.
Teogonia 2.5/1
Os
Trabalhos e os Dias 1.5/1
O
Escudo de Héracles 5.9/1
Homero
5.4/1[nota
5]
Hesíodo
não utiliza o digama com tanta frequência quanto os outros. O resultado é um
pouco contra-intuitivo, já que o digama ainda era uma característica do dialeto
beócio que Hesíodo provavelmente falava, e já havia desaparecido do vernáculo
jônio de Homero. Esta anomalia pode ser explicada pelo fato de que Hesíodo fez
um esforço consciente para compor como um poeta épico jônio, num período em que
o digama não costumava mais ser ouvido na fala jônia, enquanto Homero tentava
escrever como a geração antiga de bardos jônios, quando ele ainda podia ser
ouvido na fala jônia. Também há uma diferença significativa entre os resultados
obtidos na Teogonia e nos Trabalhos e Dias, porém isto se deve
apenas ao fato de que a primeira obra apresenta um catálogo de divindades, e
faz assim uso do artigo definido geralmente associado com o digama,
oἱ
("os").[48]
Embora
seja típico do dialeto épico do grego, o vocabulário
de Hesíodo difere de maneira significativa do de Homero. Um acadêmico contou
278 palavras que não foram usadas por Homero no Trabalhos e Dias, 151 na
Teogonia, e 95 no Escudo de Héracles. O número excessivo de
palavras 'não-homéricas' na primeira deve-se ao seu tema, considerado igualmente
'não-homérico'.[nota
6] O vocabulário de Hesíodo também apresenta diversas frases
formulaicas, que não podem ser encontradas no Homero, o que indica que ele
estaria escrevendo a partir de uma tradição distinta.[49]
Notas
- Ver a discussão de M.L. West, Hesiod: Theogony, Oxford University Press (1966), p. 163–4 nota 30, citando, por exemplo, Pausânias 9.30.3. Rapsodos do período pós-homérico eram frequentemente mostrados carregando um ramo de louros ou uma lira, porém no período de Hesíodo o cajado parecia indicar que ele não era um rapsodo, ou seja, não era um menestrel profissional. Encontros entre poetas e as Musas tornaram-se parte do folclore poético - pode-se comparar, por exemplo, com o relato de Arquíloco sobre seu encontro com as deusas, e a lenda de Cadmo.
- Jasper Griffin, in The Oxford History of the Classical World, O.U.P (1986), cita por exemplo o Livro de Eclesiastes, um texto sumério na forma de uma repreensão de um pai a seu filho pródigo, e textos egípcio de sabedoria declamados pelos vizires. Hesíodo certamente estava aberto a influências orientais, como fica claro nos mitos mostrados por ele na Teogonia.
- A ode de vitória de Baquílides, fr. 5 Loeb. Teógnis de Mégara, (169) é fonte para um trecho semelhante ("Mesmo aquele que só vê defeitos louva aqueles a quem os deuses homenageiam"), porém ser dar atribuição. Ver também fr 344 M.-W (D. Campbell, Greek Lyric IV, Loeb 1992, p. 153)
- Richter, Gisela (1965). The Portraits of the Greeks. Londres: Phaidon, I, 58ff; entre os comentaristas que concordam com Richter estão Wolfram Prinz, 1973. "The Four Philosophers by Rubens and the Pseudo-Seneca in Seventeenth-Century Painting" The Art Bulletin 55.3 (setembro de 1973), p. 410–428. "...one feels that it may just as well have been the Greek writer Hesiod..." e Martin Robertson, em sua análise de G. Richter, The Portraits of the Greeks para The Burlington Magazine 108.756 (março de 1966), p. 148–150. "...with Miss Richter, I accept the identification as Hesiod".
- Estatísticas para os três poemas 'hesiódicos' foram extraídos de A.V.Paues, De Digammo Hesiodeo Quaestiones (Estocolmo 1897), enquanto as estatísticas para Homero vieram de Hartel, Sitz.-Ber. Wien. Ak. 78 (1874); ambos citados em M. L. West, Hesiod: Theogony, 99
- O número de palavras 'não-homéricas' foi estabelecido por H. K. Fietkau, De carminum hesiodeorum atque hymnorum quattuor magnorum vocabulis non homericis (Königsberg, 1866), e citado por M. L. West, Hesiod: Theogony, p. 77
Referências
1.
West, M. L. Theogony.
Oxford University Press (1966), p. 40
2.
Jasper Griffin, "Greek Myth and Hesiod", J.Boardman,
J.Griffin and O. Murray (ed.), The Oxford
History of the Classical World, Oxford
University Press (1986),
p. 88
3.
J. P. Barron e
P. E. Easterling, "Hesiod", in The Cambridge History of Classical
Literature: Greek Literature, P. Easterling e B. Knox (ed.), Cambridge
University Press (1985), p. 92
4.
Andrewes, Antony. Greek Society,
Pelican Books (1971), p. 254–5
5.
Rothbard, Murray N., Economic Thought Before Adam Smith: Austrian
Perspective on the History of Economic Thought, Vol. 1, Cheltenham, UK,
Edward Elgar Publishing Ltd, 1995, p. 8; Gordan, Barry J., Economic analysis
before Adam Smith: Hesiod to Lessius (1975), p. 3; Brockway, George P., The
End of Economic Man: An Introduction to Humanistic Economics, 4ª edição
(2001), p 128.
6.
M. West, Hesiod:
Theogony, p. 72-3
7.
Griffin, Jasper. "Greek Myth and Hesiod", The Oxford History of the Classical
World, J. Boardman,
J. Griffin e O. Murray (eds), Oxford University Press (1986), p. 88, 95
8.
Evelyn-White,
Hugh G. Hesiod, The Homeric Hymns and Homerica (Cambridge: Harvard
Press, 1964), volume 57, Loeb Classical Library, pp. xivf.
9.
Griffin, Jasper. 'Greek Myth and Hesiod' in The Oxford History of the Classical
World, J. Boardman,
J. Griffin e O. Murray (ed.), Oxford University Press (1986), p. 95
10.
Nagy, Gregory.
Greek Mythology and Poetics (Cornell 1990), p. 36–82.
11.
Barron, J.P. e
Easterling, P.E. 'Hesiod', in The Cambridge History of Classical Literature:
Greek Literature, P. Easterling e B. Knox (ed.), Cambridge University Press
(1985), p. 93
12.
Burn, A. R. The
Pelican History of Greece,
p. 77
13.
Barron, J. P.
e Easterling, P. E. 'Hesiod', in The Cambridge History of Classical
Literature: Greek Literature, P. Easterling e B. Knox (ed.), Cambridge
University Press (1985), p. 93–4
14.
West, M. L. Hesiod:
Theogony, Oxford
University Press (1966),
p. 41–2
15.
West, M. L. Hesiod:
Theogony, Oxford
University Press (1966),
p. 90–1
16.
West, M. L. Hesiod:
Theogony, Oxford
University Press (1966),
p. 40–1, 47–8
17.
Burns, A. R. The
Pelican History of Greece,
p. 77
18.
Griffin, Jasper. 'Greek Myth and Hesiod' in The Oxford History of the
Classical World, O.U.P (1986), p. 88
19.
Barron, J. P.
e Easterling, P. E.'Hesiod' in The Cambridge History of Classical
Literature: Greek Literature, P. Easterling e B. Knox (ed.), Cambridge
University Press (1985), p. 99
20.
Andrewes, Antony. Greek Society,
Pelican Books (1971), p. 218–19, 262
21.
West, M. L. Hesiod:
Theogony, Oxford
University Press (1966),
p. 44
22. Traduzida
para o inglês por Evelyn-White, Hesiod, p. 565–597.
23.
West, M.L. Hesiod:
Theogony, Oxford
University Press (1966),
p. 40, 47
24.
West, M. L. Hesiod:
Theogony, Oxford
University Press (1966),
p. 40–2
25.
West, M. L. Hesiod:
Theogony, Oxford
University Press (1966),
p. 43–5
26. Marco Veleio Patérculo, Compêndio da
História Romana, Livro I, 7.1
27. Marco Veleio Patérculo, Compêndio da
História romana, Livro I, 5.3
28.
Barron, J. P.
e Easterling, P. E. Hesiod, p. 94
29.
Vernant, J. Myth
and Society in Ancient Greece, trad. para o inglês por J. Lloyd (1980), p.
184-85
30.
Symonds, J. A.
p. 167
31.
Cartledge,
Paul. Sparta and Lakonia - A regional history 1300 to 362 BC, 2ª ed.
32.
Symonds, J. A.
Studies of the Greek Poets, p. 166
33.
Burn, A. R. The
Pelican History of Greece,
p. 77
34.
Allen, W. Tragedy
and the Early Greek Philosophical Tradition, p. 72
35.
Andrewes, A. Greek
Society, p. 218
36.
Burn, A. The
Pelican History of Greece,
p. 78
37.
West,
"Hesiod", in: S. Hornblower & A. Spawforth (ed.) Oxford
Classical Dictionary, 3ª ed. rev. (Oxford,
1996) p. 521.
38.
Para mais
informações, ver Robin Lane Fox, Travelling Heroes e Walcot, Hesiod
and the Near East.
39. Hesíodo, Os
Trabalhos e os Dias, verso 250: "E trinta mil são sobre a Terra
multinutriz os gênios de Zeus, guardiães dos homens mortais; são eles que
vigiam sentenças e obras malsãs, vestidos de ar vagam onipresentes pela
terra." (comparar com J. A. Symonds, p. 179)
40. Os
Trabalhos e os Dias, verso 300: "deuses e homens se
irritam com quem ocioso vive; na índole se parece aos zangões sem dardo, que o
esforço das abelhas, ociosamente, destroem, comendo-o;"
41. Por
exemplo, Cingano
(2009).
42. Most (2006,
p. xi).
44.
Alceu, fr. 347
Loeb, citado por D. Cambell, Greek Lyric Poetry, Bristol Classical Press
(1982), p. 301
45.
Hunter,
Richard. Theocritus: A Selection, Cambridge University
Press (1999), p. 122–23
46.
Simon, Erika (1975). Pergamon
und Hesiod (em alemão). Mainz
am Rhein: Philipp von Zabern. OCLC 2326703
47.
J. Griffin, Greek
Myth and Hesiod, 88, citando M. L. West
48.
M. West, Hesiod: Theogony, 91, 99
49.
West, M. L. Hesiod:
Theogony, p. 78
Nenhum comentário:
Postar um comentário